Energia

TGS planeja sísmica para aumentar conhecimento sobre a Margem Equatorial

Empresa conclui aquisição da PGS de olho também no crescimento em novos negócios, como CCS e eólicas offshore

TGS planeja sísmica para aumentar conhecimento sobre a região da Margem Equatorial, de olho também em novos negócios como CCS e eólicas offshore, afirma CEO global da TGS, Kristian Johansen (Foto: Divulgação)
CEO global da TGS, Kristian Johansen, conta que a aquisição da PGS posiciona a companhia para crescer em óleo e gás, mas também em CCS e eólica offshore (Foto: Divulgação)

RIO – A TGS, empresa norueguesa de sísmica, concluiu a aquisição da PGS, numa operação que cria uma empresa global de fornecimento de dados geofísicos com valor de mercado combinado de US$ 2,6 bilhões.

A transação reforça a presença da companhia no mercado brasileiro, onde ela aposta no potencial petrolífero da Margem Equatorial.

Em entrevista à agência epbr, o CEO global da TGS, Kristian Johansen, diz acreditar que as novas campanhas sísmicas podem contribuir para o debate ambiental. E se diz confiante numa solução para destravar as licenças ambientais para as atividades de exploração de óleo e gás na região.

“Eu diria que o Brasil é um dos três principais mercados para a TGS e para o negócio combinado [com a PGS] daqui para frente. Uma parte significativa da atividade de exploração daqui para frente será no Brasil, porque você tem uma combinação única de áreas de novas fronteiras e áreas mais maduras. E todas essas áreas precisam de mais atividades sísmicas”, comentou o CEO.

Johansen conta também que a aquisição posiciona a companhia para novos negócios. A empresa de sísmica, uma tradicional fornecedora de serviços para a indústria de óleo e gás, quer se consolidar como uma fornecedora de dados geofísicos para projetos de captura e armazenamento de carbono (CCS) e energia eólica offshore.

A TGS vê como positivos os avanços dos marcos legais do CCS e eólicas offshore no Congresso Nacional, na semana passada, mas ainda encara com cautela as regulações de ambos os setores no Brasil.

TGS prepara sísmica para Margem Equatorial para 2024

Com a compra da PGS, a empresa passa a contar com uma biblioteca sísmica global com dados de todas as bacias ativas nos hemisférios ocidental e oriental. A TGS incorporará também uma frota de sete embarcações de aquisição de dados 3D ao seu portfólio.

E a indústria de óleo e gás do Brasil será um mercado estratégico para os planos de crescimento da empresa: atualmente, metade das receitas globais da TGS é dividida entre Golfo do México e Brasil.

A TGS recebeu do Ibama, recentemente, uma licença ambiental para nova campanha de levantamento de sísmica 3D com foco na Bacia do Pará-Maranhão, na Margem Equatorial.

A expectativa é que a campanha comece ao longo de 2024 e se estenda por anos, em várias fases de aquisição de dados. O ritmo dependerá do interesse e demandas dos clientes.

A licença tem validade de três anos e pode ser renovada. Como condicionantes, a TGS implementará projetos de mapeamento do fundo oceânico e monitoramento da Biota Marinha, da Paisagem Acústica Submarina e dos Impactos de Plataformas e Embarcações sobre a Avifauna – além da realização de um Plano de Compensação da Atividade Pesqueira, nas regiões de abrangência da aquisição.

Pressão ambiental não é exclusividade do Brasil

A TGS espera que a nova campanha sísmica ajude a ampliar o conhecimento sobre a Margem Equatorial e a reduzir os riscos de um insucesso no licenciamento ambiental das petroleiras na fase de perfuração – etapa subsequente ao levantamento sísmico.

Johansen conta que as dificuldades encontradas no licenciamento ambiental de projetos petrolíferos não são exclusividade da indústria no Brasil. Ele também cita que as atividades do setor de óleo e gás estão sob pressão de ambientalistas em lugares como o Mar do Norte, Austrália e África do Sul.

O executivo diz acreditar que a solução para que a exploração na Margem Equatorial seja liberada pelas autoridades passa pela busca do diálogo e cooperação entre os diferentes stakeholders – como as petroleiras, órgãos ambientais e a sociedade como um todo.

“Estamos enfrentando uma pressão crescente por parte dos ambientalistas, em geral, e precisamos provar a importância daquilo que fazemos [enquanto indústria de óleo e gás] e também como podemos trabalhar de forma eficiente em conjunto com todas as partes interessadas”, disse. “Estou bastante otimista quanto à possibilidade de encontrarmos uma boa forma de que todas as partes trabalhem em conjunto”, complementou.

O CEO da TGS destacou que o mundo não poderá abrir mão do petróleo, mesmo no contexto da transição energética.

“O mundo precisa de mais energia e não se pode descartar nenhuma dessas fontes de energia, porque será um grande desafio para o crescimento da população ao longo do tempo. Então, temos que trabalhar juntos da melhor maneira possível para garantir que poderemos fornecer mais energia a este mundo”, disse.

Novas fronteiras

Kristian Johansen destaca que a Margem Equatorial é o “ponto quente” na exploração de óleo e gás no Brasil, mas ele crê também no potencial de outras regiões, como a Bacia de Pelotas. As novas fronteiras, no Brasil, segundo ele, ainda vão demandar campanhas sísmicas por toda a década.

“Você vê muitas bacias muito prolíficas [na Namíbia, Guiana e Suriname] que têm uma geologia semelhante à do Brasil. Então acho que não há limite para o tamanho do Brasil. É um mercado muito promissor, tanto em termos geológicos, como também em termos de interesse económico e potencial comercial”, complementou.

O CEO da TGS vê, ainda, potencial exploratório nas bacias de Campos e Santos.

“Essas áreas maduras não precisam necessariamente de novas sísmicas, mas precisam de uma sísmica melhor e isso normalmente acontece com a tecnologia dos nodes no fundo do oceano. Então eu acho que, sim, há muitas oportunidades”, afirmou.

Novos negócios

A TGS vê potencial também no desenvolvimento das indústrias de CCS e eólica offshore no Brasil e acompanha com atenção as discussões dos novos marcos legais dos setores.

Na semana passada, o Projeto de Lei 1425/2022 marco regulatório do CCS – foi aprovado na Comissão de Minas e Energia (CME) da Câmara – e segue agora para análise da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (CMADS).

A Câmara também aprovou, na última semana, o marco legal das eólicas offshore (PL 11247/2018) – que seguiu para o Senado.

O presidente da TGS no Brasil, João Correa, ainda vê com cautela os avanços dos projetos no Legislativo.

“É um passo, mas não é o passo que vai garantir que vamos seguir por aí”, disse.

O executivo destaca, na discussão sobre as eólicas offshore, que ainda há incertezas sobre o modelo de contratação dos dados – como os meta-oceânicos, que medem a velocidade dos ventos e das correntes. Há dúvidas se as empresas de aquisição de dados poderão realizar os levantamentos por conta própria e disponibilizar as informações aos diferentes agentes da indústria, como ocorre no modelo “multicliente”, no setor de óleo e gás.

Para Correa, replicar o modelo do setor de óleo e gás seria mais simples e poderia ser tratado por medidas infralegais.

“[Se já houvesse uma definição] teríamos empresas fazendo essa coleta com garantia de que haverá mercado por essa informação, já estaríamos vendo o começo dessa indústria”, comentou.

Sobre o marco do CCS, Correa cita que a captura do carbono é uma das maneiras mais inteligentes e “a mais viável” para que o mundo consiga atingir as metas de descarbonização.

Ele vê o avanço do PL na Câmara como um passo importante, mas pontua que o projeto em tramitação ainda tem lacunas a serem preenchidas, como a questão das metodologias de certificação (para emissão de créditos de carbono).

“Não acredito que o Estado tenha capacidade nem vocação para fazer esse tipo de fiscalização e acompanhamento”, disse.

Correa também cita que as atividades de CCS se concentram, geralmente, em reservatórios localizados em águas rasas – áreas de maior sensibilidade no licenciamento ambiental.

“Vamos precisar passar por um processo educativo, uma quebra de paradigma entre analistas do Ibama de que a sísmica será necessária não só para identificar potenciais reservatórios para armazenamento, mas depois processos contínuos de monitoramento para se identificar integridade de reservatórios”, completou.