Agendas da COP

Receitas de países dependentes de petróleo podem cair pela metade em transição acelerada, diz Carbon Tracker

Sede da COP28, os Emirados Árabes Unidos podem ter uma queda de 60% na arrecadação pública até 2040

Receitas de países dependentes de petróleo podem ter queda pela metade em cenário de transição energética acelerada, diz Carbon Tracker Initiative. Na imagem: Cavalos-de-pau para a produção onshore de petróleo, em Oklahoma (EUA), com turbinas eólicas ao fundo (Foto: Mike/RJA1988/Pixabay)
Em um cenário de aquecimento limitado a 1,8°C, a Petrobras está entre as empresas com queda da produção pela metade (Foto: Mike/RJA1988/Pixabay)

RIO – Os 40 países que têm receitas públicas dependentes do setor de petróleo e gás podem ver uma queda dos US$ 17 trilhões esperados até 2040 para US$ 9 trilhões, caso a transição energética seja acelerada de modo a limitar o aquecimento global a 1,8°C até 2100, conclui um estudo da Carbon Tracker Initiative (CTI).

A análise do think tank aponta que muitos petroestados projetam um contínuo aumento das receitas nos próximos anos, o que pode não se concretizar e gerar dificuldades para prover serviços públicos.

Ao todo, 28 países podem perder mais da metade das receitas esperadas com os combustíveis fósseis até 2040.

Sede da COP28 a partir desta semana, os Emirados Árabes Unidos podem ter uma queda de 60% na arrecadação pública no cenário projetado pela Carbon Tracker. O setor de petróleo e gás é responsável hoje por 40% das receitas governamentais no país.

A Venezuela é um dos maiores ameaçados, segundo o relatório. O país sulamericano pode ter uma queda de 80% na arrecadação desse setor, que é hoje responsável por praticamente todo o recolhimento governamental.

A Carbon Tracker aponta ainda que seis países africanos estão altamente vulneráveis a enfrentar problemas financeiros com a transição energética, caso continuem apoiados no óleo: Nigéria, Angola, Chade, Congo, Guiné Equatorial e Gabão.

O relatório conclui que os mercados que têm custos mais altos para a produção de petróleo estão entre os mais ameaçados. A Carbon Tracker ressalta ainda que muitos já vivem um aumento do endividamento público.

“O petroestados precisam urgentemente diversificar a economia – particularmente aqueles que são identificados como mais vulneráveis”, afirma o estudo.

O relatório sugere que os países com maior risco nas contas públicas adotem medidas como reforma de subsídios e a criação de fundos soberanos com os recursos atuais, assim como a adoção de impostos alternativos aos atuais vigentes sobre o setor de petróleo e gás. Além disso, também aponta a necessidade de apoio internacional por meio de financiamentos, um dos principais temas em discussão na COP esta semana.

“O financiamento para a transição energética pode ter um papel importante na preparação para o futuro das economias dependentes dos hidrocarbonetos, com base nos esforços recentes para apoiar os países que dependem do carvão”, diz o relatório.

Petrobras teria produção cortada pela metade

Segundo a Carbon Tracker, a Petrobras está entre as empresas que teriam a produção reduzida pela metade, num cenário mundial de emissões compatível com um aquecimento de 1,8°C.

O plano de investimentos 2024-2028 da companhia, aprovado na semana passada, mantém a área de exploração e produção de óleo e gás segue como carro-chefe, com investimentos de US$ 73 bilhões – 71,5% do total –, mas reforçou o orçamento em energias renováveis.

O estudo alerta para o fato de que muitos países com receitas dependentes do petróleo têm empresas estatais. No cenário de corte de emissões de combustíveis fósseis, muitas dessas companhias vão precisar reduzir a produção de petróleo.

A projeção do Carbon Tracker é mais otimista do que o Acordo de Paris, que visa restringir o aquecimento global a 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais. A petroleira brasileira assumiu em 2021 a meta de zerar as emissões líquidas operacionais de gases de efeito estufa de forma compatível com o acordo.

Assim como a Petrobras, outras estatais que teriam uma queda na produção pela metade com as menores emissões projetadas pelo Carbon Tracker são a russa Rosneft, a mexicana Pemex e a colombiana Ecopetrol. Somente três estatais teriam uma queda de apenas 10% no cenário projetado: a iraniana Nioc, a chinesa Sinopec e a kuwaitiana Kuwait PC.