Gás Natural

Novo plano para fertilizantes mira redução da reinjeção e de tarifas do gás natural

Versão atualizada não faz menção ao Gás para Empregar, mas necessidade de reformas e projetos da Petrobras

Reunião do Confert aprova atualização do Plano Nacional de Fertilizantes (Foto: Divulgação/MDIC)
Reunião do Confert aprova atualização do Plano Nacional de Fertilizantes (Foto: Divulgação/MDIC)

RIO – O Conselho Nacional de Fertilizantes (Confert) aprovou nesta quarta (29/11) a revisão do Plano Nacional de Fertilizantes, estipulando como meta a redução da reinjeção de gás natural e das tarifas de transporte, além de indicar a necessidades de reformas na tributação e regulação estaduais.

A nova versão do PNF não faz menção direta ao Gás para Empregar, programa do governo federal que estuda como elevar a oferta e aumentar a competitividade do gás natural, matéria-prima para produção de fertilizantes nitrogenados (veja na íntegra, em .pdf).

O Gás para Empregar foi prorrogado em outubro por mais 120 dias.

No aspecto internacional, o PNF cita a importância da integração regional do gás natural com os vizinhos do Cone Sul – principalmente Bolívia e Argentina — para acesso ao gás natural competitivo.

Traz, ao todo, 168 ações de curto, médio e o longo prazos. Dentre as novidades, em relação ao plano anterior, publicado em 2022, no governo de Jair Bolsonaro (PL), está, por exemplo, a previsão de adoção de mecanismos que incentivem a redução de reinjeção de gás.

Petrobras de volta aos fertilizantes

O Confert é o colegiado responsável por revisar, debater e implementar o Plano Nacional de Fertilizantes. O conselho é presidido pelo ministro da Indústria e Comércio (MDIC) e vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, e conta com o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, e ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, além de outras pastas.

O MDIC destacou em nota nesta quarta (29/11) que as principais ações de curto e médio prazo visam a reativação, conclusão ou ampliação das fábricas de fertilizantes estratégicas para o Brasil.

Nesse sentido, a pasta cita a volta da Petrobras ao setor de fertilizantes. O novo plano de negócios 2024-2028, da estatal, prevê a retomada da Ansa (PR) em 2024; e conclusão da UFN 3 (MS) para 2028, investimento ainda em avaliação.

A petroleira também negocia um contrato de tolling com a Unigel para viabilizar as fafens da Bahia e Sergipe. Nesse modelo, a estatal entra com o gás e fica com os fertilizantes, pagando pelo uso das plantas.

Ainda de acordo com o MDIC, o setor privado também está aumentando investimentos, como nas obras do complexo da Serra do Salitre (MG), para produção de fosfatados.

Atualmente, mais de 87% dos fertilizantes usados pela agricultura são importados, ao custo de US$ 25 bilhões anuais. A meta do PNF é que o Brasil chegue a 2050 com uma produção nacional capaz de atender entre 45% e 50% da demanda interna.

O Confert também citou a retomada do Regime Especial da Indústria Química (Reiq) como parte do pacote de apoio à produção nacional. São R$ 500 milhões neste ano e R$ 1 bilhão em 2024. Decreto publicado em agosto e regulamentado na semana passada amplia os benefícios do Reiq para indústrias que investirem em novas plantas de fertilizantes.

O plano propõe, ainda, a realização de um amplo mapeamento geológico que avalie o potencial de fosfato e potássio no Brasil – indicando a realização de pesquisas regionais em até 60 áreas nas próximas décadas, sobretudo em Goiás, Tocantins, Bahia e Mato Grosso.

O gás no novo Plano Nacional de Fertilizantes

Em nota, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) informou que, a partir de agora, serão construídos indicadores de acompanhamento para cada uma das metas e uma carteira de projetos para todas as ações previstas.

Dentre as 168 ações listadas pelo PNF, algumas dizem respeito ao mercado de gás natural e à indústria do hidrogênio verde. São elas:

  • Conclusão de rotas de escoamento para aumento da disponibilidade de gás natural;
  • Adoção de mecanismos que incentivem a redução de reinjeção de gás, mantendo as melhores práticas da indústria e a segurança jurídica;
  • Redução de tarifas de transporte de gás natural no Brasil;
  • Harmonização das normas federais e estaduais sobre o setor de gás natural, buscando a uniformização dos critérios técnicos e regulatórios entre os entes federativos;
  • Articulação para incremento dos modelos de contratação de gás natural;
  • Elaboração de estudo específico sobre o impacto da atual regulamentação de transporte e distribuição de gás natural matéria-prima e benchmarks internacionais para produção de fertilizantes nitrogenados;
  • Estudo de política nacional de incentivos fiscais relativas à aquisição de gás natural, biogás ou biometano (e outros insumos) para produção de fertilizantes;
  • Integração regional do mercado de gás natural com os países vizinhos do Cone Sul que possuem reservas e produção de gás natural;
  • Integração das Política Nacional de Gás Natural e de Hidrogênio com a cadeia de fertilizantes no Brasil;
  • Fomento do desenvolvimento tecnológico para a implantação de plantas de nitrogenados baseadas em hidrogênio verde/azul;
  • Integração da cadeia de fertilizantes com soluções energéticas que aproveitam o potencial de geração de energia limpa (potencial eólico/solar) para produção de hidrogênio/amônia verde, via rotas de eletrólise (ou processos correlatos)

Preço do gás é impeditivo

Preços mais competitivos para o gás, em especial para o gás usado como matéria-prima, são uma das promessas do governo, nas discussões do programa Gás para Empregar.

preço do gás natural necessário para viabilizar novas fábricas de fertilizantes nitrogenados, no Brasil, pode variar de US$ 3 a US$ 9 o milhão de BTU, a depender das condições do mercado e tamanho do investimento, dentre outros fatores, de acordo com estudo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

A estatal do planejamento energético destaca que essa faixa de preços é “substancialmente inferior” ao preço praticado ao consumidor industrial (US$ 19 o milhão de BTU), no Brasil; e ao valor cobrado pela Petrobras junto às distribuidoras (de US$ 12 o milhão de BTU), segundo os dados mais atualizados do MME, de junho.

De acordo com a EPE, a análise de fluxo de caixa simplificado sugere que os preços atuais do gás no Brasil, quando comparados aos preços praticados pelos principais fornecedores de fertilizantes, podem representar um desafio para o desenvolvimento econômico de fafens no país.

“Caso a dependência internacional no mercado de fertilizantes seja considerada elemento crítico para as estratégias nacionais, pode ser necessário o desenvolvimento de políticas públicas para viabilização de empreendimentos”, conclui a análise de viabilidade publicada pela EPE.