BRASÍLIA – Ondas de calor cada vez mais frequentes e aumento da demanda da indústria pesada por energia estão colocando mais pressão nos sistemas globais, que precisam acelerar medidas de eficiência para dar conta do consumo crescente desviando do aumento de emissões de gases de efeito estufa, alertou a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) nesta quarta (29/11).
Em seu relatório anual sobre o progresso da eficiência energética no mundo, a IEA avalia que os governos expandiram as medidas para promover a eficiência energética em 2023, mas o progresso não está no ritmo para cumprir as metas climáticas de zerar emissões até 2050 e limitar o aquecimento do planeta a 1,5ºC até 2100.
De acordo com o levantamento, as melhorias anuais na eficiência energética precisam dobrar – passando de um nível de 2% em 2022 para mais de 4% ao ano, em média, entre agora e 2030. Em 2023, a intensidade energética global melhorou 1,3%, muito abaixo do necessário para atingir esta meta, diz a agência.
“As ambições climáticas do mundo dependem da nossa capacidade de tornar o sistema energético global muito mais eficiente. Se os governos quiserem manter a meta de 1,5 °C ao alcance e, ao mesmo tempo, apoiarem a segurança energética, é fundamental dobrar o progresso da eficiência energética nesta década”, defende o diretor executivo da IEA, Fatih Birol.
Durante a divulgação do relatório, o Birol fez um apelo aos líderes que se reúnem a partir desta semana, nos Emirados Árabes, para a COP28, pedindo ações mais fortes para concretizar melhorias na eficiência.
Investimentos aumentaram 45%
Entre 2020 e 2023, os investimentos em eficiência cresceram 45%, inclusive em meio à crise energética global desencadeada pela invasão da Ucrânia pela Rússia.
No ano passado, os países que representam três quartos da procura energética global reforçaram políticas de eficiência energética ou introduziram novas. As principais medidas também estão a tornar-se mais difundidas, diz o relatório.
Um exemplo é que, de acordo com o mapeamento, quase todos os países têm agora normas de eficiência para aparelhos de ar condicionado e o número de países com normas para motores industriais triplicou na última década.
Alguns estão mais adiantados. Desde o início da crise energética, mais de 40 países melhoraram a eficiência energética a uma taxa de 4% ou mais durante pelo menos um ano.
Depois de melhorar a intensidade energética em 8% em 2022, a União Europeia deverá registar uma melhoria de 5% este ano. Os Estados Unidos também estão a caminho de uma melhoria de 4% em 2023.
Por outro lado, as melhorias globais na intensidade energética – uma medida primária da eficiência energética – abrandaram em 2023.
A IEA explica que fatores como recuperação econômica em setores que utilizam muita energia, como a petroquímica e a aviação, e a crescente procura por ar condicionado para lidar com o ano que está a caminho de ser o mais quente história, contribuíram para a piora do quadro.
Compromisso para dobrar eficiência
Um compromisso global para duplicar as melhorias na eficiência energética nesta década é um dos cinco pilares da IEA para um resultado bem-sucedido na COP28, que começa amanhã (30/11).
“Outras ações prioritárias para 2030 incluem triplicar a capacidade global de energia renovável; compromisso da indústria de petróleo e gás com transições para energias limpas, incluindo a redução das emissões de metano das suas operações em 75%; impulsionar o investimento em energia limpa nos mercados emergentes e nas economias em desenvolvimento; e assegurar o declínio ordenado da utilização de combustíveis fósseis, incluindo o fim de novas aprovações de centrais elétricas alimentadas a carvão”, lista.
O relatório observa que ganhos de eficiência consistentes e generalizados são cruciais para reduzir as emissões, especialmente tendo em conta as expectativas de crescimento global da procura de eletricidade.
Só nos Estados Unidos, uma mudança generalizada para a tecnologia LED na iluminação poderia poupar energia suficiente para abastecer 3 milhões de veículos elétricos por ano ou aquecer 2,6 milhões de casas com bombas de calor.