RIO — O plano da Petrobras de retornar ao segmento de produção de fertilizantes inclui retomada da operação da Araucária Nitrogenados S.A. (Ansa), no Paraná, ao final de 2024 e o início da produção da UFN 3, em Três Lagoas (MS), em 2028.
A companhia também negocia para o curto prazo um contrato de tolling com a Unigel para viabilizar as fábricas de fertilizantes (fafens) da Bahia e de Sergipe. Nesse modelo, a estatal entra com o gás e fica com os fertilizantes, pagando apenas pelo uso das plantas.
As informações foram divulgadas pelo diretor executivo de processos industriais e produtos da companhia, William França, em coletiva de imprensa sobre o planejamento estratégico 2024-2028 na manhã desta sexta-feira (24/11).
A retomada da Ansa deve ser o projeto de fertilizantes que vai ocorrer mais rapidamente, segundo França. A planta está hibernada desde 2019. De acordo com o executivo, os investimentos para o retorno à operação já estão previstos no orçamento da diretoria no novo plano e serão destinados sobretudo à manutenção da unidade.
“Estamos finalizando o levantamento das necessidades para fazer uma licitação. Depois, mais à frente, com a licitação pronta e com as análises do grupo de trabalho avaliando responsabilidades e recursos humanos, por exemplo, aí sim batemos o martelo de voltar a operar essa planta”, disse.
França disse ainda que a companhia está conversando com uma possível parceira para substituir o gás natural usado na produção de fertilizantes para gás gerado a partir de biomassa, o biogás.
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Chineses interessados em Três Lagoas
O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates (PT/RN), também confirmou a intenção de finalizar as obras da UFN 3, em Três Lagoas, que foram interrompidas em 2014. A unidade chegou a ser colocada à venda no governo Bolsonaro, sem sucesso. Entretanto, a continuação das obras vai depender de novos cálculos financeiros.
“A intenção é finalizar a obra, mas a forma como isso vai ser feito pode variar. Conversamos na China com parceiros interessados em finalizar e se tornar sócios. Isso pode acontecer ou podemos terminar nós mesmos e depois trazer sócios”, disse Prates.
O diretor de processos industriais e produtos William França destacou que a UFN 3 tem a vantagem de ser mais eficiente do que outras unidades da Petrobras. “É mais rentável, com a mesma quantidade e de gás, produz 60% mais ureia. A previsão é [entrar em operação] em 2028, mas estamos trabalhando para buscar otimizar esse prazo, em se confirmando a viabilidade da operação”, disse.
Solução para fábricas da Unigel
Além disso, a Petrobras também confirmou que está em negociações com a Proquigel, subsidiária da Unigel, para fechar um acordo de tolling para as fábricas de fertilizantes de Sergipe e da Bahia.
Por meio desse acordo de prestação de serviços, a Proquigel vai seguir pagando o arrendamento para continuar a operar as fábricas e comercializar a ureia, mas a Petrobras vai fornecer gás natural para as operações.
As unidades foram arrendadas à Unigel, em um contrato de dez anos. Em crise financeira, a empresa tem alegado que o atual custo do gás natural fornecido pela estatal impede a continuidade das atividades das fábricas.
“O conceito não é ajudar ninguém, é nos ajudar. As duas plantas são ativos nossos. A alternativa a isso seria descontinuar as plantas, devolvê-las”, afirmou.
O acordo foi antecipado pelo governador sergipano, Fábio Mitidieri, em entrevista ao estúdio epbr durante a OTC Brasil 2023. Veja a íntegra abaixo:
Prates indicou que o acordo de tolling visa dar mais tempo à Petrobras para decidir qual será o destino dos projetos.
“Ao longo desses seis meses, prorrogáveis com mais seis, vamos buscar outra solução: ou incorporar [tomar as plantas de volta], ou fazer uma joint venture com eles, ou colocar um terceiro parceiro, ou juntar com outros projetos. Lá existe também um projeto de uma planta de hidrogênio, que é bem interessante, também estamos olhando”, acrescentou.
Uma das possibilidades seria usar a planta baiana para a produção de amônia verde para exportação, indicou França.
Transição energética
O CEO afirmou que a retomada da estatal na área de fertilizantes está ligada não apenas à necessidade de atender à demanda doméstica, mas também ao posicionamento da companhia na transição energética. “É daí que vão nascer novos produtos, como amônia verde e os fertilizantes do futuro, então precisamos ter um pedaço do mercado, queremos estar no jogo”, afirmou.
A respeito da rentabilidade dos projetos, Prates ressaltou que a companhia precisa diversificar as atividades, no contexto da transição energética, e que pode se aproveitar da capacidade logística e operacional, assim como do acesso à matéria-prima para ter projetos rentáveis nesse segmento.
“Evidentemente que se comparar um poço isolado do pré-sal, por exemplo, com uma fábrica de fertilizantes, não vai ter a mesma rentabilidade, mas isso não quer dizer que seja prejuízo investir em fertilizantes”, disse.
O diretor executivo financeiro e de relações com investidores, Sérgio Leite, destacou que os critérios usados para definir os investimentos não mudaram no caso dos projetos de fertilizantes.
“Qualquer investimento passa pela governança, alguns requerem mais cuidado que outros. Todos os investimentos vão ser feitos considerando geração de valor, margem e atratividade financeira, seja em fertilizantes ou em qualquer outra área”, disse.