Estamos à porta da 28ª Conferência das Partes (COP) sobre Mudança Climática, um evento da Organização das Nações Unidas (ONU) que reúne líderes mundiais para discutir ações concretas para combater o aquecimento global.
É inegável que as mudanças climáticas já são uma realidade que afeta a todos nós, refletidas nos tufões no sul do Brasil deste ano e na devastadora seca que assola a Amazônia.
Urge encontrarmos soluções e mudar de rumo rapidamente se desejamos ter alguma chance de enfrentar esse problema ambiental global avassalador. A pergunta que ecoa é: veremos avanços substanciais nesta COP?
A COP28 será realizada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, um país abastado e um dos maiores produtores de petróleo do mundo. Essas circunstâncias influenciarão, inevitavelmente, a agenda, uma vez que o presidente da COP é o chefe de Estado do país anfitrião.
Recentemente, a Agência Internacional de Energia (IEA) lançou seu mais recente estudo sobre tendências energéticas globais. O estudo aponta uma redução de 75% no consumo de petróleo e carvão mineral até 2030.
Por outro lado, a eletrificação de veículos automotores, a produção de energia por hidrogênio e o uso de biocombustíveis ganharão mais espaço no cenário energético global, com expectativas de um aumento de 150% na produção de biocombustíveis até 2030.
A transição energética será, sem dúvida, um dos temas centrais da COP28 e a esperança é que o mundo avance em direção a diretrizes que a acelerem. Embora as emissões e o consumo de petróleo ainda estejam crescendo, estamos nos aproximando do tão aguardado pico do petróleo, previsto para 2030 pela IEA.
COPs anteriores, de certo modo, foram decepcionantes em relação ao compromisso com a redução da dependência de combustíveis fósseis. Na COP26, em Glasgow, o texto final foi alterado no último momento, passando de uma diretiva de eliminação gradual do uso de carvão mineral para uma mera redução.
Na COP27, em Sharm el-Sheikh, no Egito, também houve retrocessos, à medida que o mundo parecia adiar a transição, apesar da urgência. Curiosamente, o que menos temos é tempo, pois a ciência aponta que devemos ultrapassar a marca crítica de 1,5°C de aumento na temperatura média global ainda nesta década.
A esperança por avanços na agenda da transição energética repousa, então, sobre a COP28. A conferência promete debates aprofundados e ações globais abordando tópicos de vanguarda, como energias renováveis (por exemplo, hidrogênio verde e eólica offshore), biocombustíveis para aviação e transporte marítimo, eletrificação e até mesmo energia nuclear.
Financiamento e governança climática
Essa transição energética requer investimentos substanciais, e o mundo árabe, notadamente, possui recursos abundantes. O exemplo é a construção de uma cidade inteiramente sustentável chamada The Line, na Arábia Saudita, com um investimento de US$ 500 bilhões que servirá de exemplo para o mundo na COP28.
Adicionalmente, o pacote de investimento dos EUA, conhecido como Lei de Redução da Inflação (IRA, na sigla em inglês), com um recorde de US$ 370 bilhões alocados para iniciativas relacionadas ao clima e energias renováveis, representa um impulso notável para a COP, especialmente considerando que esses investimentos tiveram início principalmente em 2023.
No entanto, as realidades geopolíticas atuais lançam sombras sobre a agenda climática. A guerra na Ucrânia afetou os planos energéticos europeus, que se viram dependentes da Rússia para compra de gás natural e foram forçados a aumentar a produção interna baseada em fontes de combustíveis fósseis para garantir a segurança energética.
Os conflitos em outras partes do mundo, como Israel e o Hamas, criam incertezas que dificultam os investimentos necessários em tecnologias energéticas inovadoras. Além disso, o cenário econômico global não é favorável, com altas taxas de juros e inflação em quase todos os mercados.
Esse contexto macroeconômico e político pode parecer irrelevante para uma agenda tão crítica como a climática, mas representa um obstáculo significativo para o direcionamento de recursos a ações de curto prazo, adiando compromissos.
Isso é preocupante, uma vez que, mesmo se todos os países atingissem 100% de suas metas, o mundo ainda estaria longe de cumprir as metas estabelecidas pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), que busca limitar o aquecimento global a 2°C, com esforços para limitá-lo a 1,5°C.
Espera-se que muitos países atualizem suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) durante a COP28, comprometendo-se com metas de redução de emissões mais ambiciosas. É aí que o mundo realmente medirá o sucesso da conferência.
Contexto brasileiro
A COP28 promete ser diferente da última edição, quando os representantes do Brasil se encontraram fisicamente em três locais diferentes (governo federal, governos estaduais da Amazônia e sociedade civil). Este ano, haverá um espaço unificado, simbolizando a união de todas as partes interessadas na luta climática.
Há uma grande expectativa de que a Lei de Mercado de Carbono seja aprovada no Congresso até lá, representando uma vitória significativa que o governo brasileiro pode apresentar na conferência. O potencial dos biocombustíveis no Brasil também deve ser amplamente divulgado, com a intenção de atrair investimentos.
Por fim, o mundo estará de olho nas ações do Brasil em relação ao combate ao desmatamento, e o país deverá destacar os avanços substanciais alcançados até o momento. Há rumores de que o Brasil também elevará sua meta de redução de emissões em uma atualização de sua NDC, embora não haja informações confirmadas sobre isso.
Finalmente, a COP28 será uma oportunidade valiosa para o Brasil chamar a atenção do mundo para sua baixa intensidade de carbono, preparando o terreno para a COP30, que acontecerá na Amazônia, em Belém do Pará.
Felipe Bittencourt é CEO da WayCarbon.
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