BRASÍLIA — Após um período de estagnação na última parte da década de 2010, os investimentos em energia estão aumentando e devem alcançar US$ 2,8 trilhões em 2023, estima a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês), mas os mercados emergentes estão enfrentando dificuldades com o aumento dos custos de financiamento.
Publicado nesta terça (24/10), o World Energy Outlook (WEO 2023) mostra que quase todo o aumento nos últimos cinco anos tem sido direcionado para energia limpa e infraestrutura, que agora representa US$ 1,8 trilhão em gastos, em comparação com cerca de US$ 1 trilhão em combustíveis fósseis.
O montante considera investimentos anunciados em diferentes partes do setor de energia em 2023, superando os US$ 2,2 trilhões de cinco anos atrás.
Ainda assim, todos os cenários da IEA apontam para a necessidade de aumentar os investimentos em energia em relação aos níveis históricos, algo que parece alcançável para os países ricos e a China, mas desafiador para os demais.
Nos mercados emergentes e de baixa renda, até 2030, será preciso aumentar em cinco vezes os gastos atuais com energia limpa em relação aos níveis de 2022, para alcançar emissões líquidas zero até 2050.
“Algumas das maiores lacunas estão na eficiência energética e na descarbonização do uso final. Isso reflete o fato de que muitos lares e empresas de baixa renda estão enfrentando dificuldades para lidar com os custos iniciais mais elevados de várias tecnologias de energia limpa”, aponta o relatório.
Quase US$ 5 tri até 2050
O WEO traz três cenários: políticas declaradas (STEPS), com base nas configurações de políticas mais recentes; compromissos anunciados (APS), assumindo que todas as metas nacionais de energia e clima estabelecidas pelos governos serão cumpridas integralmente e no prazo; e emissões líquidas zero até 2050 (NZE), que limita o aquecimento global a 1,5 °C.
Embora estime que, para alcançar o net zero em 2050, o mundo precise investir US$ 4,7 trilhões, as políticas atuais apontam que o montante deve aumentar para US$ 3,2 trilhões em 2030 no STEPS, US$ 3,8 trilhões no APS.
“Alcançar a transformação no NZE requer que os investimentos em energia como parte do PIB aumentem cerca de um ponto percentual entre 2023 e 2030, mas a relação volta ao nível atual até 2050”, diz o relatório.
A análise mostra ainda que uma parcela crescente dos investimentos está direcionada para energia limpa em todos os cenários.
No STEPS, a proporção de investimento em combustíveis fósseis em relação ao investimento em tecnologias de energia limpa aumenta de 1:1,8 em 2023 para 1:2,5 em 2030. No Cenário de Emissões Líquidas Zero, essa proporção sobe para mais de 1:10 em 2030.
O aumento de US$ 2,5 trilhões nos investimentos em energia limpa no Cenário de Emissões Líquidas Zero até 2030 é muito maior do que a redução de US$ 0,6 trilhão nos investimentos em combustíveis fósseis nesse período.
Custo alto para emergentes
O ambiente de taxas de juros mais altas está impactando os custos de financiamento, com especial reflexo em tecnologias de energia limpa mais intensivas em capital. Mercados emergentes e de baixa renda também estão enfrentando dificuldades na hora de viabilizar projetos, à medida que as taxas de juros mais altas elevam o custo do capital.
“É necessária uma combinação de reformas políticas e medidas anti-risco, incluindo garantias de receita, garantias de perda inicial e hedge de moeda, para lidar com riscos reais e percebidos de projetos e países”, alerta o documento.
De acordo com a agência, o grande aumento nos investimentos de capital no NZE será compensado em parte por custos operacionais mais baixos na transição de combustíveis fósseis para tecnologias de energia limpa intensivas em capital.
“Para os países importadores de combustíveis fósseis, a transição para energia limpa também melhora o balanço comercial e reforça a segurança energética, à medida que a parcela de energia proveniente de fontes renováveis de origem doméstica começa a aumentar”, completa.