Congresso

Os oportunistas nossos de cada dia

O embate às claras, envolvendo a sociedade, pode nos livrar de quem só pensa no próprio umbigo e quer vencer sem dialogar, defende Fernando Teixeirense

Os oportunistas nossos de cada dia e a falta de um debate técnico no setor elétrico. Na imagem: Vista de grande banco de areia aparente devido a baixa vazão por conta da seca no Rio Madeira, na Bacia Amazônica; com pequena embarcação junto à margem e, ao lado, três pessoas conversam (Foto: Defesa Civil/AM)
Seca no Rio Madeira, na Bacia Amazônica (Foto: Defesa Civil/AM)

Curioso como a cada evento dramático no setor elétrico, a comunicação é usada pelos oportunistas de plantão para defender interesses específicos que, via de regra, aumentam a conta dos consumidores de energia.

No apagão de agosto, antes mesmo de qualquer indicação técnica sobre as possíveis causas do desligamento, vários “especialistas” se aproveitaram da situação para atacar as fontes renováveis e defender o que parece indefensável, em pleno 2023: o uso de fontes de energia caras e sujas.

As narrativas são importantes e o que se vê, tanto no ambiente midiático como nos corredores do Congresso Nacional, é uma estratégia bem montada, com mensagens bem amaradas e frases de efeito para impressionar a sociedade e o parlamento e tornar meias verdades em certezas, mesmo que falte embasamento técnico e moral para tais argumentos.

O último movimento tem-se dado após a crise da seca no Norte do país e anúncio de que as usinas hidrelétricas do Rio Madeira teriam que parar de gerar, tamanha a seca que atingiu a região. Foi o suficiente para que os defensores de usinas térmicas se levantassem para “explicar” que essas usinas são a melhor opção para o sistema, que elas “representam a segurança” que o país precisa.

Esse é, pelo menos deveria ser, um tema estritamente técnico, debatido entre os tomadores de decisão, a sociedade civil organizada e, claro, os consumidores de energia, que são quem, no final, vão pagar a conta pelas decisões de gerar ou não essas usinas.

A questão aqui levantada é como as ferramentas de comunicação e relações governamentais são e podem ser usadas para garantir que certos discursos sejam reproduzidos, muitas vezes sem confirmação técnica ou respaldo dos que, de fato, conhecem o funcionamento do setor.

Faz parte do jogo democrático que cada um defenda seus interesses e isso pode significar que o todo da questão não seja apresentado, mas apenas parte do problema.

Esse processo de comunicação ganhou ainda mais relevância com as redes sociais, na medida em que qualquer pessoa pode usar esses ambientes para expor seus pensamentos e defender o que quer que seja. Isso também aumentou o poder de quem não usa informações precisas sob o ponto de vista técnico. E aí temos um risco ainda maior: aqueles que têm mais capacidade financeira, em teoria, podem impulsionar seus conteúdos e atingir um público ainda maior.

Para vencer o poder financeiro, é preciso ter criatividade e agilidade, ampliar o rol de atores envolvidos, buscar a opinião pública e fazer o debate aberto. Sai a conversa ao pé de ouvido, nos bastidores, e entra o debate feito com a luz acessa, na mídia e nas redes sociais.

Sempre haverá quem se aproveita de momentos extremos para buscar seus interesses próprios usando meias verdades ou mentiras completas.

Aqueles que querem um debate sério precisam se apresentar para o jogo, expondo seus argumentos e usando todos os canais disponíveis para equilibrar o debate e permitir que a informação chegue ao maior número de pessoas. O embate feito às claras, com a participação da sociedade, é que vai nos livrar de quem só pensa no próprio umbigo e quer vencer sem dialogar.