Biocombustíveis

O que é barter e como essa operação pode impulsionar o mercado de CBIOs

Prática bastante difundida no agro dá flexibilidade para produtor aquirir insumos e já começa a ser usada com créditos de carbono

Entenda como funciona uma operação de barter com créditos de descarbonização -- Cbios (Foto: Divulgação Basf)
Entenda como funciona uma operação de barter com Cbios (Foto: Divulgação Basf)

A multinacional de química Basf fechou em setembro uma operação de barter com a produtora gaúcha de biodiesel Olfar para troca de insumos por créditos de descarbonização do RenovaBio (CBIOs).

Segundo a Basf, esse modelo de barter desenvolvido pela própria companhia com base na Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio) possibilita o incentivo à produção de energia renovável no país, ao mesmo tempo em que atende a necessidade dos seus clientes.

Na prática, a Olfar, detentora dos créditos, irá transferir o montante vendido na B3 para a Basf em troca do fornecimento de produtos.

A primeira operação envolvendo os CBIOs ocorreu em 2021, também com uma produtora gaúcha de biodiesel, a 3Tentos.

À epbr, Marcos Davi Barbosa, coordenador de Operações com Commodities na Basf, conta que a empresa está fechando negócios do tipo com mais cinco produtores de biocombustíveis, incluindo de etanol.

A expectativa é ver o mercado de créditos de carbono crescendo e, ao mesmo tempo, aumentar a base de clientes fechando negócios com os títulos.

A seguir entenda:

  • O que é barter?
  • O que é CBIO?
  • Como funciona a troca de insumos por CBIOs?
  • Como o barter pode impulsionar mercado de créditos de carbono?

O que é barter?

O barter, ou troca, é uma modalidade já bastante difundida no agronegócio brasileiro, geralmente envolvendo três elos da cadeia produtiva: uma empresa química, o cliente (produtor rural) e uma trading.

“O produtor rural pensa sempre em sacas. Se ele produz, por exemplo, mil sacas de soja e quer comprar um trator, ele vai pensar quantas sacas de soja vai custar essa compra. Quando ela quer comprar produtos da Basf, a lógica é a mesma”, explica Barbosa.

“Só que a Basf não consegue receber esse grão, porque é uma indústria química. O que a gente faz? A gente coloca essa trading na operação”, continua.

Isso significa que o produtor rural vai negociar a compra do insumo na moeda dele – as sacas de soja, por exemplo.

“A gente entrega o produto químico para o produtor usar na lavoura e, nesse primeiro momento, ele não paga nada. Na colheita, ela vai entregar a produção para a trading, que vai conferir a qualidade e fazer o pagamento para a Basf”, resume Barbosa.

O que é CBIO?

O CBIO é um crédito de descarbonização criado pelo RenovaBio para remunerar a eficiência energética e ambiental da produção de biocombustíveis.

Na prática, funciona como um mercado regulado de carbono fechado ao setor de combustíveis. Os produtores de etanol, biodiesel e biometano certificados no programa podem emitir créditos de descarbonização a partir dos ganhos de eficiência nos seus processos.

Atualmente, mais de 300 produtores estão aptos a emitir CBIOs. Esses créditos são então comercializados na B3.

As distribuidoras de combustíveis, por sua vez, são a parte obrigada a comprar os títulos para compensar sua pegada de carbono com o comércio de derivados do petróleo.

Como funciona o barter com CBIOs?

A operação segue a mesma lógica, mudando apenas um dos elos da cadeia e a moeda de troca. No lugar da trading, entra o banco que operacionaliza o comércio de CBIOs. E ao invés dos grãos, o produtor oferece a receita obtida com os títulos negociados em bolsa.

“Sem o barter, o produtor comercializa os títulos na B3, alguém compra, o banco repassa o dinheiro para o produtor e acaba a operação. O que a gente trouxe foi uma nova possibilidade para este mercado”, explica o coordenador de Commodities da Basf.

“A Basf entrega o insumo para o produtor, ele produz o biocombustível, emite os créditos de descarbonização e transfere para a Basf. Aí fecha o ciclo: por exemplo, a Basf, a usina e o banco que paga a Basf. Ao invés de ser em grão, é em CBIOs”, detalha.

Como o barter pode impulsionar mercado de créditos de carbono?

Na avaliação de Barbosa, as características do mercado de CBIOs dão segurança para viabilizar operações de barter, que, por sua vez, dão mais flexibilidade para os produtores de biocombustíveis nas negociações de insumos.

“[O mercado de CBIOs] é um mercado totalmente estruturado, a nível nacional, tem lei, tem a B3. O investidor quer isso. Quer segurança, quer entrar no mercado estruturado, que tenha regulamentação”.

Pelo lado do produtor, como a negociação é fechada em reais, ele pode pagar com mais ou menos CBIOs dependendo da cotação e em parcelas.

“O cliente consegue participar na alta. Ele vai acompanhando o mercado e vendendo os CBIOs até fechar o valor”, completa Barbosa.

Além da Olfar, da 3tentos e outras cinco clientes não divulgadas, ele conta que a Basf tem uma lista de empresas interessadas nesse modelo de negócio e a tendência é que ele cresça, junto com o mercado de CBIOs.

“A gente acredita que esse mercado não vai voltar atrás. A tendência é que a sustentabilidade seja cada vez mais cobrada. Conseguir participar no início de um programa como esse nos dará, lá na frente, a vantagem competitiva de ter começado antes”, finaliza.