As metas climáticas de 24 das 25 maiores petroleiras do mundo são insuficientes para cumprir com o Acordo de Paris, concluiu um relatório do Carbon Tracker. Segundo a análise, apenas a Eni tem potencial para se alinhar aos objetivos do acordo assinado em 2015, que visa restringir o aquecimento global a 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais.
Já a Petrobras está entre as cinco petroleiras com metas climáticas mais fracas, entre as 25 analisadas. A estatal ficou em 21º no ranking. Atualmente, a companhia brasileira tem como objetivo zerar as emissões líquidas das atividades operacionais (escopo 1 e 2) até 2050.
Esta é a quarta edição do relatório anual que avalia e classifica os compromissos de redução de emissões das maiores empresas de petróleo listadas em Bolsa do mundo. A análise considera se as companhias têm como objetivo zerar as emissões líquidas até 2050, assim como a existência de metas provisórias para reduções absolutas.
Avalia também a abrangência das metas climáticas anunciadas, como a inclusão ou não do ciclo de vida completo dos produtos e sua utilização final; assim como se as metas cobrem apenas ativos operados ou também aqueles nos quais as petroleiras detêm uma participação.
Europeias, americanas e estatais
Segundo o Carbon Tracker, as majors europeias, como TotalEnergies, Repsol, BP, Shell e Equinor têm metas climáticas mais consistentes do que as empresas americanas e companhias estatais, que são menos sujeitas a pressões de acionistas nesse tema.
A americana ExxonMobil ficou em 22º lugar no ranking, seguida pela PetroChina, Sinopec e, em última posição, a Aramco. A companhia saudita foi a única analisada a limitar as metas climáticas aos ativos integralmente operados pela própria empresa, além de ter um compromisso de redução de emissões que consideram a manutenção do cenário de negócios atual.
O relatório alerta que algumas companhias fizeram retrocessos nos objetivos climáticos recentemente. Foi o caso da BP, que anunciou a redução de 40% para 25% o corte na produção até 2030. A Shell também desistiu da intenção de reduzir em até 2% a produção por ano até o fim da década e agora admite que o volume deve seguir estável no período.
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Incerteza sobre os compromissos
Para o chefe de petróleo, gás e mineração da Carbon Tracker, Mike Coffin, as empresas colocam os investidores em risco ao não planejarem cortes de produção que visem se alinhar às metas estabelecidas no Acordo de Paris.
“Proprietários e gestores de ativos, bancos e seguradoras, assim como outras empresas do setor financeiro, devem monitorar se as companhias que financiam estão adequadamente preparadas para a mudança inevitável no sistema global de energia. Os investidores têm menos influência nas companhias majoritariamente estatais e devem considerar que são essas empresas que estão fazendo os menores esforços para se alinharem aos objetivos do acordo”, diz Coffin, que é coautor do relatório.
O relatório alerta que mesmo no caso da Eni, única empresa analisada com potencial para cumprir com os objetivos do acordo climático, há incertezas sobre a capacidade de cumprimento dos compromissos anunciados. A empresa italiana tem a intenção de zerar as emissões líquidas até 2050, além de ter metas intermediárias para as emissões absolutas e de incluir nos objetivos climáticos as emissões no ciclo de vida completo dos produtos e de todos os projetos em que tem participação.
Para o Carbon Tracker, muitos dos planos climáticos anunciados pelas petroleiras carecem de credibilidade pois dependem de desinvestimentos, o que abre espaço para que os ativos vendidos não tenham redução nas emissões. Além disso, o cumprimento das metas anunciadas por várias empresas depende de tecnologias que ainda não foram comprovadas em larga escala, como a captura e armazenamento de carbono.