RIO – O preço do petróleo voltou a ser negociado acima dos US$ 90 o barril nesta terça (5/9), depois de quase dez meses. Os contratos do Brent, para novembro, fecharam o dia com valorização de 1,18%, cotados a US$ 90,05 – o maior patamar da commodity desde novembro de 2022.
Durante o dia, o Brent chegou a atingir a máxima de US$ 91,14.
Os mercados globais respondem rapidamente às notícias sobre a postergação dos cortes voluntários de produção da Arábia Saudita e da Rússia até o fim do ano.
Os sauditas anunciaram nesta terça que vão prolongar o corte de 1 milhão de barris/dia até dezembro. O corte das exportações russas, por sua vez, é da ordem de 300 mil barris/dia.
Cortes acentuam aperto do mercado
Os dois países vinham reavaliando suas metas de produção mês a mês. Havia uma expectativa no mercado de que ambos os países renovassem seus cortes para outubro.
A extensão dos cortes por mais três meses, portanto, surpreendeu o setor, de acordo com o analista de Inteligência de Mercado para Petróleo da StoneX, Bruno Cordeiro.
Cordeiro afirma que o preço do petróleo já tem sido pressionado, do lado da demanda, pelo aumento do consumo asiático, sobretudo na Índia e China. E que a extensão dos cortes da Arábia Saudita e Rússia até o fim do ano reforça essa pressão também pelo lado da oferta.
A expectativa, segundo o analista, é de um aperto no mercado global, com déficit no balanço entre oferta e demanda no quarto trimestre – o que levará a uma redução dos estoques no mercado.
A Rystad Energy prevê que a demanda global por derivados ultrapassará a oferta em cerca de 2,7 milhões de barris/dia no quarto trimestre.
“A grande questão é: estarão os sauditas preocupados com a procura global no último trimestre de 2023, especialmente na China, de modo que precisem de tomar medidas preventivas?”, questiona o vice-presidente sênior da Rystad Energy, Jorge Leon.
De acordo com a consultoria global, os indicadores mais recentes de mobilidade não mostram uma desaceleração iminente que possa justificar a decisão da Arábia Saudita de estender os cortes de produção.
A consultoria destaca ainda que o impacto dos cortes sobre a inflação e a política econômica no Ocidente é difícil de prever, mas que o petróleo mais caro aumenta a probabilidade de um maior aperto fiscal, especialmente nos EUA.
A Trafigura, uma das maiores tradings do mundo, vê um mercado global cada vez mais espremido por falta de investimentos em produção e juros altos (o que encarece o custo de estocagem). Para Ben Luckock, co-chefe de comercialização de petróleo da Trafigura, o mercado está “mais frágil do que parece” e “suscetível a disparadas de preços”.