Mesmo diante do aumento de vendas de – e das políticas para – carros elétricos, muitos consumidores vão continuar preferindo os veículos com motores a combustão interna, acredita Mike Sommers, presidente do American Petroleum Institute (API).
A principal associação que representa o setor de petróleo nos Estados Unidos não vê no plano bipartidário de US$ 394 bilhões aprovado pelo governo de Joe Biden uma ameaça à demanda futura por petróleo e derivados no país.
“O que não queremos fazer nos Estados Unidos é negar que as pessoas tenham a escolha. Isso não é bom para o meio ambiente, para os trabalhadores, nem para a segurança nacional”, disse Sommers em entrevista à agência epbr a respeito da competição entre os veículos elétricos e a combustão.
Quase dois terços dos recursos mobilizados pela Lei de Redução da Inflação (IRA, na sigla em inglês) mira o setor de energia limpa, na forma de crédito, subsídios e outros instrumentos de fomento.
Redução de emissões e biocombustíveis
Faz parte dos planos levar de volta para os EUA a indústria automotiva, o que inclui as fábricas de elétricos e componentes. Além da eficiência de motores, para reduzir o consumo de combustíveis e a produção de biocombustíveis.
Sommers afirma que o importante é garantir que as emissões dos combustíveis líquidos continuem a cair por meio do avanço tecnológico.
“A verdade é que a maioria das pessoas da nossa geração, e além dela, vão continuar usando combustíveis líquidos, como gasolina, diesel e biocombustíveis”, acredita Sommers.
Esse pode ser, inclusive, um espaço de colaboração entre as indústrias brasileira e americana de energia, na visão de Sommers.
Uma das soluções que ele vê, nesse sentido, é a ampliação dos investimentos das petroleiras em tecnologias de captura e armazenamento de carbono (CCS).
Dada a proximidade tecnológica, os setores de petróleo e de biocombustíveis têm se aproximado na defesa pelos motores a combustão interna na competição com os elétricos.
O presidente da API acredita que o consumo de petróleo vai continuar a crescer para além do recente recorde global atual de 102 milhões de barris/dia, atingido recentemente, devido, sobretudo, ao aumento populacional.
“Vamos precisar que todas as fontes de energia tenham sucesso, isso vai significar muito mais óleo e gás e também muito mais renováveis”, afirma.
O executivo esteve no Brasil em julho e visitou o escritório local do API, no Rio de Janeiro, além de ter conhecido ativos de produção de petróleo e gás offshore.
Captura de carbono
Sommers explica ainda que a indústria de petróleo e gás nos Estados Unidos se beneficiou da IRA.
O IRA incluiu a previsão de licitações de áreas para exploração e produção de petróleo e gás no Golfo do México americano sempre que ocorrerem leilões também para outros tipos de energia, como as eólicas offshore.
“Isso significa que existe um futuro de longo prazo para o desenvolvimento offshore no Golfo do México”, diz.
Além disso, o programa também ampliou benefícios fiscais para os segmentos de hidrogênio e captura e estocagem de carbono, áreas em que as petroleiras americanas têm ampliado investimentos.
Para o presidente do API, a indústria de energia brasileira tem semelhanças com a americana e pode tirar lições do IRA.
“Essa indústria quer garantir uma contínua melhoria da pegada ambiental. Uma das maneiras de fazer isso é estimular tecnologias de CCS, para garantir que continuemos a entregar produtos importantes para os consumidores, ao mesmo tempo em que reduzimos as emissões”, diz.
Futuro das petroleiras
No contexto da transição energética, as petroleiras americanas estão focadas em expandir a atuação em segmentos nos quais já têm experiência, destaca Sommers.
Por isso, o executivo acredita que a maior parte dessas empresas vai continuar a produzir petróleo e gás, ao mesmo tempo em que investe em CCS, pelo domínio geológico que detém, e em biocombustíveis, por exemplo.
“Acho que esse será o caminho da maior parte dos investimentos, pelo menos para as empresas americanas”, aponta.
A expansão para outras fontes de energia, acredita, vai ocorrer sobretudo nas majors integradas do setor, como ExxonMobil, Chevron, bp e Shell.