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Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Gabriel Chiappini
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Após testes com eletrificação fracassarem, a maior mineradora do Brasil, a Vale, e a terceira maior em operação no país, a Anglo American, voltam suas apostas para a bioenergia: o etanol e o HVO (diesel verde) podem se mostrar opções mais rápidas para descarbonização de grandes caminhões.
E o hidrogênio verde, uma solução futura.
Responsável por 5% a 7% das emissões globais de gases do efeito estufa, a mineração vem investindo em maneiras de reduzir a pegada de carbono das suas operações. E os caminhões a diesel representam uma grande fatia dessas emissões.
Parte da pressão sobre as mineradoras se dá por conta do ajuste de fronteira, o plano europeu para precificar o carbono das importações para a União Europeia.
O Carbon Border Adjustment Mechanism (CBAM) inclui a possibilidade de taxação de alumínio, ferro e aço, que abastecem a indústria do bloco.
“Apesar dos avanços nos testes, a eletrificação ainda apresenta desafios a serem superados para veículos pesados de carga”, explica Alexandre da Silva, gerente de desenvolvimento tecnológico para descarbonização da Vale, em entrevista à agência epbr.
O desafio
Por se tratarem de grandes caminhões, o maior desafio é diminuir o tempo de carregamento das baterias, que atualmente é muito longo e prejudica a produtividade. A “baixa maturidade tecnológica”, cita Silva.
Além disso, algumas operações das mineradoras estão distantes do grid, o que dificulta o acesso a pontos de abastecimento com energia renovável.
“É um caminhão extremamente robusto, então a eletrificação ainda não atingiu o patamar tecnológico que se viabilize você ter uma bateria para um caminhão desse porte”, diz o gerente de meio ambiente da Anglo American, Tiago Alves.
Apesar disso, as companhias não descartam a possibilidade de seguir com os estudos e de adotarem a eletrificação em caminhões de pequeno porte ou de forma híbrida, em locomotivas com outros combustíveis.
Sai bateria, entra bioenergia
As mineradoras têm pressa para alcançar suas metas de neutralidade, e os biocombustíveis se apresentam como o caminho mais viável para entregar os primeiros resultados na redução de emissões.
A Anglo pretende reduzir suas emissões líquidas de gases de efeito estufa em 30% até 2030, e ser neutra até 2040, nos escopos 1 e 2, que consideram o consumo de energia elétrica e as próprias atividades operacionais.
“Estamos trabalhando também muito sério olhando para o HVO a gente tem um entendimento hoje com HVO pode não ser a solução definitiva do futuro mas de transição entre o status atual do uso do diesel e no futuro o uso do hidrogênio”, diz Tiago Alves, da Anglo.
A companhia já realizou testes em caminhões de grande porte (com capacidade 250 toneladas de carregamento) a hidrogênio verde na África do Sul e Chile.
E agora segue com os estudos no Brasil
Uma das conclusões é que a produção do hidrogênio verde deve ser no mesmo local de consumo. Já a Vale espera reduzir em 33% suas emissões até 2030 e atingir o net zero até 2050, e deve iniciar os testes com etanol este ano.
“Em relação aos caminhões, estamos trabalhando em estudos para a implantação de biocombustíveis neste primeiro momento. Entre as opções existentes no momento, o etanol é a que tem o maior potencial para substituir os combustíveis fósseis nos caminhões pesados de carga”, diz o gerente da Vale.
Trens e navios
A Vale tem estudado a utilização da amônia verde, feita do hidrogênio, tanto para uso em navios como em locomotivas próprias.
“A amônia é a maior aposta para as locomotivas”, afirma Silva. A companhia comprou da Wabtec três locomotivas elétricas para estudar a utilização de amônia como alternativa ao diesel.
“Entre as vantagens da amônia está o fato de que ela permite uma autonomia superior à locomotiva em relação a outros combustíveis que também não emitem carbono. Além disso, a amônia apresenta uma classificação de alta octanagem e uma infraestrutura de distribuição em larga escala já estabelecida”, explica o executivo da Vale.
Nos mares, a companhia lançou o primeiro navio de transporte de minério do mundo equipado com sistema de velas rotativas, um Guiabamax, que deve ter redução de até 3,4 mil toneladas de CO2 equivalente por navio por ano. O interesse da Vale é ter uma frota que opere com diferentes tipos de combustíveis, incluindo metanol e amônia verde.
A Anglo American olha, no curto prazo, para o gás natural liquefeito (GNL), e também vê na amônia uma maneira de descarbonizar o transporte marítimo no futuro.
Recentemente, o navio MV Ubuntu Loyalty da companhia, que utiliza gás natural liquefeito (GNL) como combustível, realizou sua viagem inaugural atracando em território brasileiro.
Segundo a mineradora, o uso do GNL proporciona uma redução estimada de 35% nas emissões de gases do efeito estufa, em comparação com as embarcações movidas a combustível marítimo convencional.
“Precisamos olhar o problema globalmente, e no futuro estamos estudando a amônia verde. Mas ainda tem um hiato tecnológico grande pra gente atingir esse objetivo” diz Alves.
Curtas
Leilão de eólicas offshore no Golfo do México fracassa
O primeiro leilão do governo Biden para eólicas offshore no Golfo do México terminou com uma única oferta vencedora de US$ 5,6 milhões, da alemã RWE, que contratou os direitos sobre 42 mil hectares na Louisiana.
É uma fração dos bilhões de dólares do leilão de Nova York e Nova Jersey, em fevereiro de 2022, o que reflete uma escassa demanda pela fonte de energia limpa em uma região conhecida pela produção de petróleo e gás. Outras duas áreas em oferta no Texas não receberam propostas. (Reuters)
Falando em Texas…
A Equinor adquiriu uma participação de 25% no projeto de captura e armazenamento de carbono Bayou Bend, localizado ao longo da Costa do Golfo no sudeste do Texas, EUA.
O empreendimento é operado pela Chevron e um dos maiores em desenvolvimento no país, com capacidade de mais de 1 bilhão de toneladas métricas de CO2. (epbr)
Bahia vai receber fábrica de rastreadores solares
Trina Tracker, subsidiária da chinesa Trina Solar, anunciou nesta terça (29/8) a instalação de uma fábrica de rastreadores solares em Salvador, Bahia. Será a segunda fábrica da Trina fora da China. (epbr)
O equipamento é utilizado para aumentar a geração de energia dos painéis fotovoltaicos, acompanhando a movimentação do sol durante o dia.
Solar e eólica não são culpadas pelo apagão no Brasil
O diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Carlos Ciocchi, afirmou nesta terça (29/8) que não é possível atribuir a culpa do apagão nacional à geração de energia eólica e solar.
“Não há como, nesse momento, atribuir culpa a fontes. Isso é importante que seja dito. Não há como atribuir culpa, inclusive aos agentes”, disse o diretor. (epbr)