Diálogos da Transição

Equatorianos rejeitam exploração de petróleo na Amazônia

Cerca de seis em cada dez equatorianos ficaram a favor de uma moratória no projeto da estatal Petroecuador na Amazônia

Consulta popular no Equador decidiu contra a exploração de petróleo no Parque Nacional Yasuni, parte da Amazônia. Na imagem: Cavalo-de-pau para exploração de petróleo em terra (Foto: Awsloley/Pixabay)
Consulta popular no Equador decidiu contra a exploração de petróleo no Parque Nacional Yasuni, uma das regiões de maior biodiversidade do mundo na Amazônia (Foto: Awsloley/Pixabay)

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Editada por Nayara Machado
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Uma consulta popular no Equador decidiu contra a exploração de petróleo no Parque Nacional Yasuni, uma das regiões de maior biodiversidade do mundo que faz parte do território da Amazônia.

O país também passa por eleições presidenciais, que seguem para o segundo turno, disputado entre a candidata de esquerda Luisa González e o direitista Daniel Noboa – em um pleito marcado por violência, com o assassinato do candidato Fernando Villavicencio.

Com mais de 90% dos votos contados nesta segunda (21/8), cerca de seis em cada dez equatorianos ficaram a favor de uma moratória no projeto chamado de ITT ou bloco 43, da estatal Petroecuador, que opera na região desde 2016.

Como resultado da votação, a petrolífera estatal terá que desmobilizar suas operações na área em até um ano – o prazo passa a contar a partir de 4 de outubro de 2023.

O plebiscito ocorreu por demanda popular, após o coletivo Yasunidos reunir 757 mil assinaturas e travar uma batalha jurídica com os órgãos eleitorais do Equador por uma década.

“A consulta popular sobre Yasuní é importante para o Equador, mas também para o mundo inteiro. Diante da inação dos diferentes governos do mundo, os equatorianos estão decidindo tomar medidas reais contra a mudança climática”, afirma Antonella Calle Avislés, da ONG Yasunidos, promotora do plebiscito de Yasuní.

Para Calle-Avislés, é também uma mensagem aos países amazônicos, que estão adiando decisões sobre combustíveis fósseis. O Brasil entre eles.

“Os conflitos sobre a continuidade ou não da exploração de petróleo no Parque Yasuní são muito parecidos com os que ocorrem hoje no Brasil na Foz do Amazonas e em outras bacias sedimentares da Margem Equatorial”, comenta Suely Araújo, especialista sênior em políticas públicas do Observatório do Clima.

Suely, que já foi presidente do Ibama, considera “equivocada e anacrônica” a ideia de que a produção de petróleo resolve problemas sociais.

“A torcida é para que o Brasil siga o caminho escolhido pelos equatorianos, que votaram na consulta popular, com o olhar para as futuras gerações e para o destino do planeta”, completa.

Questão de timing

O caso brasileiro, apesar de ter algumas diferenças em relação ao projeto do Equador, carrega o mesmo debate sobre o timing para abrir novas fronteiras exploratórias de óleo e gás.

  • O bloco 43-ITT é onshore e ocupa um setor de Yasuní, uma área natural protegida que abrange um milhão de hectares e abriga mais de 2 mil espécies de árvores e arbustos e mais de 1,3 mil espécies de animais.
  • No Brasil, a discussão gira em torno do pedido de licença para perfuração da Petrobras no bloco FZA-M-59, na Bacia da Foz do Amazonas, um projeto offshore que fica a cerca de 154 km de distância da costa e cerca de 500 km da foz do rio Amazonas, propriamente dita.

Na última sexta (18/8), a Organização Meteorológica Mundial (OMM) emitiu mais um alerta de que eventos climáticos extremos impulsionados pela mudança climática induzida pelas atividades humanas se tornaram “o novo normal”.

Segundo a porta-voz da agência meteorológica, Clare Nullis, alertas de calor foram emitidos em toda a Europa na última semana, incluindo França, Alemanha, Polônia e Suíça.

Enquanto isso, espera-se que partes do Oriente Médio vejam temperaturas acima de 50°C nos próximos dias, e o Japão está passando por uma onda de calor prolongada que quebrou recordes de temperatura.

Se quisermos frear as mudanças climáticas, precisamos cortar emissões – e parar de investir em novos projetos de combustíveis fósseis, de acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês).

Lula defende abertura novas fronteiras exploratórias

O governo brasileiro vai em outra linha. O presidente Lula (PT) defende a perfuração para confirmar as reservas de petróleo e gás na região da Margem Equatorial.

Primeiro, a gente tem que explorar, fazer a pesquisa. Se a pesquisa constatar que a gente tem o que a gente pensa que tem, aí sim vamos fazer uma segunda discussão: como fazer para explorar sem causar nenhum prejuízo a qualquer espécie amazônica”, afirmou Lula durante entrevista a rádios do Norte do país no início de agosto.

O argumento é que os recursos da atividade são necessários para levar desenvolvimento econômico a essas regiões, e até mesmo financiar a transição energética.

Discurso criticado pelos ambientalistas, que enxergam um adiamento nos planos de romper com os combustíveis fósseis.

“Os equatorianos decidiram revogar a licença social do petróleo. Isso significa que querem a transição energética na Amazônia agora, e não em 2030 ou 2050”, avalia Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa e membro do Painel de Acreditação do Green Climate Fund.

“Essa decisão não está condicionada a compensações financeiras por parte da comunidade internacional, e os equatorianos mostram, assim, sua determinação em buscar um desenvolvimento livre de emissões, dando um exemplo contundente aos demais países da região”, completa.

Para aprofundar:

Curtas

Etanol para SAF

A Raízen certificou seu etanol no programa de compensação de carbono da aviação internacional para produção de combustível sustentável (SAF, em inglês). Emitido pela Organização da Aviação Civil Internacional (Icao), o selo atesta o baixo teor de carbono do produto.

Com a certificação do biocombustível produzido no Parque de Bioenergia Costa Pinto em Piracicaba (SP), a Raízen se torna a primeira produtora de etanol do mundo no Corsia.

Imposto sobre o carbono

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Mercado livre

Mais de 5 mil consumidores já pediram para migrar para o ambiente de contratação direta em 2024, diz Aneel. Dados são de levantamento feito pela agência que propôs novas regras para a comercialização varejista.

Microgrid na Amazônia

Cooperação entre a Schneider Electric e a Fundação Amazônia Sustentável vai identificar e implementar ações para levar energia renovável às comunidades indígenas e ribeirinhas da Amazônia Legal. O objetivo é encontrar parcerias para instalar sistemas de microrredes de energia solar, em uma extensão de um modelo-piloto instalado na comunidade do Tumbira, Amazonas, em 2012 pela Schneider Electric.

Selo de eficiência

O Ministério de Minas e Energia (MME) concluiu um estudo para estabelecer Padrões Mínimos de Desempenho Energético (MEPS), etiquetagem e selo para refrigeradores comerciais no Brasil. Objetivo, segundo o MME, é padronizar as informações sobre consumo de energia dos equipamentos.

Volkswagen Caminhões e Ônibus lança programa de proteção às mulheres

A iniciativa vai dobrar o período previsto na Lei Maria da Penha, que garante estabilidade empregatícia de seis meses para as mulheres em situação de violência doméstica. Além disso, a empresa disponibiliza uma canal exclusivo de atendimento para suporte nesses casos.