O Ministério de Minas e Energia (MME) apresentou algumas metas do Plano Nacional Trienal 2023-2025 do Programa Nacional do Hidrogênio (PNH2), nesta quarta-feira (16/8), durante reunião ampliada com o setor privado, que vê avanços, mas espera detalhes das ações.
Um dos destaques da atualização é o foco na produção de hidrogênio de baixo carbono, incluindo fontes renováveis de energia, biomassa e combustíveis fósseis com captura, e armazenamento ou uso de carbono, e nuclear. No texto do PNH2, a preferência pelas rotas de baixo carbono não está explícita.
“O desenvolvimento do hidrogênio de baixo carbono no Brasil trará maior segurança energética, criará novos empregos, contribuirá para a descarbonização da indústria e dos transportes e ajudará a criar um mercado internacional desse vetor da ordem de bilhões de dólares”, disse o ministro do MME, Alexandre Silveira.
Segundo levantamento da pasta, cerca de US$ 30 bilhões em projetos de hidrogênio de baixo carbono já foram anunciados no Brasil.
Atualizações do Plano trienal
O secretário Nacional de Transição Energética e Planejamento do MME, Thiago Barral, destacou que “as projeções atuais colocam o Brasil como o país com menor custo de produção de hidrogênio de baixo carbono e seus derivados”. E que hoje o Brasil possui potencial técnico para produzir 1,8 gigatoneladas de hidrogênio por ano.
Segundo ele, o plano, colocado em consulta pública ainda no governo anterior, deve ser publicado na próxima semana, com as atualizações baseadas nas mais de 650 contribuições recebidas, e deve ganhar uma nova revisão em dezembro.
Na sua primeira versão, o documento foi alvo de críticas de agentes do setor privado pela falta de metas e objetivos concretos, diferente de outros países que já possuem estratégias claras para o hidrogênio, como Chile, Estados Unidos e Alemanha.
Entre as metas incluídas na atualização do Plano Trienal estão:
- disseminar plantas pilotos no país até 2025;
- consolidar o Brasil como o país mais competitivo do mundo na produção hidrogênio de baixo carbono do mundo até 2030;
- consolidar, até 2035, hubs de hidrogênio de baixo carbono no país – reunindo produtores e consumidores de H2, geradores de energia, e logística de distribuição e transporte.
Além desses objetivos, Barral destacou prioridades até 2025. A primeira delas é a provação de um marco legal para o hidrogênio. O MME ainda discute a produção de uma minuta de projeto de lei para o H2 de baixo carbono.
Outras prioridades são quintuplicar os investimentos em Pesquisa & Desenvolvimento e Inovação para H2 de baixo carbono e ampliar capacidade de financiamento para projetos.
Outro ponto de destaque na atualização do Plano foi a inclusão do termo “neoindustrialização” em um dos eixos do PNH2, atendendo a pedidos do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), que defende a inclusão do hidrogênio em política industrial.
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Representantes do setor olham com cautela
Apesar de observarem alguns avanços em relação ao documento anterior, agentes do setor de cadeia de hidrogênio esperam mais detalhes sobre a estratégia do Brasil para desenvolvimento desta indústria.
Para Ansgar Pinkowski, diretor de transição energética da Câmara de Comércio do Brasil-Alemanha do Rio de Janeiro (AHK Rio) – que junto com Abiogás, Abeeólica, Absolar e governo do Ceará formam o Pacto pelo Hidrogênio renovável –, ainda falta clareza em como país pretende liderar o tema.
“A indústria está aguardando ansiosamente um posicionamento porque isso traz uma segurança de investimento para o país”, afirmou durante a live Diálogos da Transição, realizada pela agência epbr, nesta quinta (17/8). Veja a íntegra abaixo:
“Tem estados que estão avançando com esse tema, pois enxergam nisso um grande potencial para o desenvolvimento socioeconômico. (…) O Brasil precisa tomar um certo cuidado para não perder essa grande vantagem que é a largada da corrida pela transição energética, porque os outros países já estão atuando e trabalhando”, disse o representante da AHK Rio.
Eduardo Tobias, coordenador da Força-Tarefa de Hidrogênio Verde da Absolar, ponderou, durante a live, que aguarda detalhes e a publicação do documento final.
“São metas importantes e ambiciosas (…) Esperamos que as ações que vão estar no Plano Trienal sejam compatíveis com essas metas, porque até então não eram”, disse.
Tobias também chamou a atenção para o fato de escolherem priorizar estímulos a plantas pilotos e não em grande escala.
“Se queremos ser os mais competitivos do mundo em 2030 deveríamos estar focando em plantas em escala industrial”, comentou. “O resto do mundo já está no processo de scale up, no processo de grande escala, e não em plantas pilotos”.
Para o presidente da recém-criada Associação Brasileira de Hidrogênio e Combustíveis Sustentáveis (ABHIC), Sérgio Costa, a atualização apresentou um avanço.
“Percebemos uma evolução sensível, mas acreditamos que possa ser melhorado”, disse em entrevista à agência epbr.