Biocombustíveis

Projeto de biogás no Paraná mira exportação de petróleo sintético para refinarias na Alemanha

Grupo Mele quer transformar o biogás oriundo de resíduos da suinocultura em biometano e combiná-lo ao hidrogênio verde para produção de syncrude

Projeto de biogás no Paraná, do Grupo Le Mele, mira exportação de petróleo sintético (syncrude) para refinarias na Alemanha. Na imagem: Usina da Vivo instalada em uma área de 1.490 m2, junto ao aterro Terrestre Ambiental, utilizará entre 2.500 e 5.000 Nm³/h de biogás com alto teor de metano – cerca de 50% (Foto: Divulgação)
Usina de biogás (Foto: Divulgação Vivo)

RIO — O projeto do Grupo Mele de produção de biogás, no Paraná, espera exportar bio-syncrude – um substituto sintético sustentável do petróleo bruto – para produção de combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês), em refinarias na Alemanha.

O projeto, anunciado no início do ano, é financiado pelo H2Uppp, programa global comissionado pelo Ministério Federal Alemão de Economia e Proteção Climática (BMWK, sigla alemã).

A ideia é transformar o biogás, oriundo dos resíduos da suinocultura de municípios no oeste do Paraná, em biometano e combiná-lo ao hidrogênio verde – obtido a partir de eletrólise da água e reforma do biogás – para produção do syncrude.

“O programa prevê uma produção local em torno de 30 mil metros cúbicos de biometano/hora, e com uma produção de SAF de 100 mil toneladas/ano, na primeira fase do programa”, disse Neudi Mosconi, sócio administrador da Me Le Brasil Biogás, durante evento da AHK Rio, na sexta (4/8).

Segundo ele, os números consideram apenas os atuais produtores de seis municípios que participam do projeto. Mas a expectativa é que outras 20 cidades integrem a iniciativa, não só do Paraná, como também de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, que também possuem produção intensiva de aves e suínos.

“O oeste do Paraná é hoje detentor do maior poço de petróleo verde do mundo”, afirmou Mosconi, se referindo ao bio-syncrude.

“Estamos pensando que esse syncrude seja refinado lá na Alemanha para chegar na fração SAF (…) O que temos dá para produzir e atender uma certa quantidade de necessidade de SAF hoje da indústria europeia e do mercado brasileiro”, completou.

Biorrefinaria no Paraná

Apesar de olhar em um primeiro momento para exportação do syncrude, o executivo trabalha para a instalação de uma biorrefinaria no Paraná, capaz de produzir localmente o SAF e outros combustíveis sintéticos.

“A ideia é exportar o syncrude, mas sou defensor desde o início que temos que ter uma biorrefinaria junto ao complexo industrial, para fecharmos a cadeia da sustentabilidade na produção de proteína animal”.

Mosconi defende que seria possível descarbonizar a frota utilizada pela indústria de suínos da região Sul adotando esses combustíveis sustentáveis.

“Estamos trabalhando com os interessados para colocarmos uma biorrefinaria e produzir o SAF, óleo diesel sintético, e biometano, para justamente alimentar toda essa frota de transporte para fechar 100% na cadeia”.

O executivo também aposta na produção de fertilizantes, a partir do hidrogênio verde e biogás, para atender as lavouras da região. Hoje, a maior parte dos fertilizantes consumidos são importados.

“Temos condições de produzir todo o nosso fertilizante para soja, milho e trigo com aquilo que estamos jogando fora. Podemos produzir nossa ureia, nosso nitrogenado, e nossa amônia verde”, disse Mosconi.