RIO – A discussão sobre o novo plano de negócios da Petrobras, para o período de 2024 a 2028, passa não apenas pela ampliação de produtos mais sustentáveis na matriz da companhia, como também pela necessidade de investimentos em infraestrutura dedicada para apoiar o aumento da movimentação dos novos produtos.
O gerente executivo de Logística da petroleira, Daniel Sales, cita que não podem ocorrer pontos de contaminação entre fósseis e produtos com conteúdo renovável na infraestrutura logística.
“Estamos trabalhando no momento no processo de certificação nosso QAV [querosene de aviação] verde, por exemplo, e vamos precisar de dutos qualificados”, citou Sales, durante participação em evento online promovido pela FGV Energia nesta segunda (31/7).
No plano estratégico vigente (2023-2027), em revisão, o Programa de BioRefino da Petrobras prevê investimentos da ordem de US$ 600 milhões no desenvolvimento de uma nova geração de combustíveis.
O diesel com conteúdo renovável (produzido por meio do coprocessamento de diesel mineral com óleo vegetal) é o primeiro produto lançado pela companhia. O plano da petroleira é instalar projetos de coprocessamento nas refinarias Presidente Bernardes (RPBC), Paulínia (Replan) e Duque de Caxias (Reduc), além de uma planta dedicada às produções de BioQAV e diesel com matéria-prima 100% renovável na RPBC.
A Petrobras também estuda produzir diesel com teor renovável nas refinarias de Capuava (Recap), Gabriel Passos (Regap) e Abreu e Lima (Rnest). E avalia novas plantas dedicadas para produção de BioQAv e diesel com matéria-prima 100% na Rnest e no Polo Gaslub.
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Além disso, a empresa mira, a longo prazo, entrar no mercado de hidrogênio.
“Hoje, nós exportamos petróleo, mas no futuro vamos exportar hidrogênio, vamos precisar de navios e terminais que armazenem esse tipo de energia em que o Brasil tem diversas vantagens competitivas”, complementou o diretor de Operações de Transporte Marítimo, Dutos e Terminais da Transpetro, Jones Soares.
Logística para fósseis já dá sinais de estresse
A necessidade de investir em infraestrutura para as novas fontes de energia é um desafio adicional para um país que ainda precisa ampliar a infraestrutura para atender à crescente demanda por combustíveis fósseis, em todas as regiões.
“O crescimento do país passa por investimentos em logística, não tem como ser diferente”, acrescentou Sales, da Petrobras.
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O CEO da Vast Infraestrutura, Victor Bomfim, pontua que as movimentações de petróleo cru já concorrem, hoje, com a movimentação de derivados nos terminais.
“O Brasil hoje exporta algo da ordem de 1,6 milhão de barris/dia, quando há dez anos exportava 400 mil barris/dia. Toda essa movimentação estressa o modal logístico”, disse.
Nesse sentido, o incentivo à movimentação de combustíveis por modais alternativos ao rodoviário, como o ferroviário e a cabotagem, é uma das alternativas que pode ajudar a ampliar a infraestrutura de movimentação de combustíveis no país – como também a reduzir emissões, pois essas alternativas têm maior eficiência energética.
Bomfim apontou que os novos investimentos em infraestrutura são vultosos, por isso, vão demandar contratos de longo prazo e uma demanda garantida.
Soares, da Transpetro, reforçou que o país precisa de políticas de longo prazo, que sobrevivam a diferentes governos, para viabilizar esses investimentos.
“Não dá para esperar que o governo faça tudo, mas também não dá para se esperar que o governo não tenha nenhuma participação, pelo menos dando a segurança para o investimento”, afirmou Sales, da Petrobras.