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Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
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As negociações da Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA) terminaram hoje (28/7) sem acordo para regular a mineração no fundo do mar em águas internacionais. A decisão foi adiada para novembro, quando os 168 membros se reúnem novamente.
Sem entrar em detalhes, a organização filiada às Nações Unidas afirma que “avançou significativamente nas negociações” e espera aprovar uma regulamentação para ser adotada em 2025.
O que está em jogo é a extração de minerais críticos para a transição energética versus o impacto dessa atividade sobre um ecossistema sensível e pouco explorado.
A demanda por minerais para a transição é o principal argumento das mineradoras. O movimento é liderado pela canadense The Metals Company (TMC), apoiada pela Noruega, a ilha de Nauru e o México.
A indefinição, que se arrasta desde a última sexta, derrubou as ações da TMC no início desta semana. Nasdaq
Mesmo que a ISA tenha um plano e consiga colocar em prática para liberar a mineração em 2025, até lá, a TMC ficará impedida de avançar sobre águas internacionais – e a demanda por metais para produção de baterias seguirá sendo atendida por terra.
Enquanto isso, organizações ambientais, cientistas, grupos de investidores e países cobram mais estudos dos impactos sobre o equilíbrio do ecossistema marinho e o clima global, e se eles anulariam os benefícios de produzir essas tecnologias de transição.
- Para relembrar: Mineração no fundo do mar? Entenda o que está em discussão
Oposição
Atualmente, pouco mais de 20 governos manifestaram resistência à mineração em águas profundas, pedindo uma pausa. Brasil, Costa Rica, Chile, Vanuatu, Alemanha e Suíça são alguns deles.
Mais de 700 cientistas também assinam uma carta pedindo uma pausa, alertando que a mineração em águas profundas resultará na “perda de biodiversidade e no funcionamento do ecossistema que seria irreversível em escalas de tempo multigeracionais”.
Para dar um exemplo, estudo publicado na Nature afirma que a mudança climática deve aumentar a sobreposição entre a pesca de atum no Pacífico e a indústria emergente de mineração em alto mar.
Além de apresentar um potencial de conflito entre as repercussões ambientais e econômicas, mostra o quanto ainda precisa ser analisado sobre o mar.
Os povos indígenas do Pacífico são outro grupo preocupado com o impacto dessa atividade sobre seus meios de subsistência. Na semana passada, mais de mil indígenas de 34 países assinaram um documento entregue à ISA expondo sua oposição. Greenpeace
O que tem no fundo do mar?
Uma expedição científica dos anos 1870 no Oceano Pacífico descobriu nódulos polimetálicos, pequenas rochas do tamanho de uma batata, compostos principalmente de manganês e ferro, além de metais estratégicos como cobalto, níquel e cobre.
As mais abundantes estão na Zona de Fratura Clipperton, em frente ao litoral mexicano do Pacífico, no centro do Oceano Índico e na bacia do Peru. Essas reservas superam as conhecidas em terra. AFP/UOL
Leia também:
- Por que a transição deve incluir as comunidades locais?
- Transição energética vai esbarrar em escassez de minerais críticos até 2030
- ONU adota primeiro tratado do mundo para proteger a biodiversidade em alto mar
Curtas
Hidrogênio na Alemanha
Alemanha terá que importar até 70% de sua demanda de hidrogênio para alcançar a neutralidade de carbono até 2045, de acordo com um documento estratégico atualizado pelo governo. O país revisou sua estratégia para incluir rotas de produção que utilizam gás natural e resíduos.
- Oportunidade para o Brasil: Conheça 10 projetos promissores de hidrogênio verde no Brasil
G20 reafirma 1,5°C, mas sem acordo de ação climática
Países não conseguiram chegar a um entendimento sobre vários pontos em torno da ação de mitigação, incluindo um cronograma para redução de emissões, corte de emissões não-carbono, como metano, investimento e ampliação de energias renováveis e eficiência energética ou um cronograma para descarbonização. Argus
China triplica investimentos renováveis na América Latina
A região tornou-se destino de um terço dos investimentos do país asiático em energia eólica e solar, mostra um levantamento do Ipea. O acumulado de investimentos diretos de empresas chinesas em energias alternativas subiu de US$ 960 milhões em 2018 para US$ 3,8 bilhões no final de 2022. Agência Brasil
Padrão para mercado de carbono voluntário
A iniciativa global que tenta criar padronizar o comércio de créditos de carbono no mercado voluntário anunciou os critérios que serão usados para o carimbo de aprovação. Mas a categoria de desmatamento evitado (o REDD+), a mais comum no Brasil, ainda “estão sujeitos a um intenso escrutínio”. Capital Reset
Artigos da semana
– Corrida com obstáculos Um desafio para a transição energética no Brasil é adequar o arcabouço legal e regulatório, que impacta diretamente na atração de investimentos, escreve Daniele Nunes
– Novos decretos sobre mudanças climáticas: mais um passo na descarbonização da economia Novas normas favorecem a adoção de práticas voltadas à descarbonização da economia brasileira, por Guilherme Mota, Gabriela Mello e Victoria Weber
– Reflexões sobre a reforma tributária e o setor de gás natural Alternativa para o gás natural não sofrer um tratamento tributário mais oneroso seria constar expressamente a sua condição de bem essencial, avaliam Jayme Freitas e Rafaela Canito
– A nova concepção da PPSA frente à experiência norueguesa Discussão sobre papel da PPSA levanta dúvidas se o futuro da estatal e, indiretamente, o da Petrobras, será promissor ou danoso na gestão da comercialização do óleo da União, escreve Nathália Pereira Dias