RIO – A transição energética do transporte marítimo vai demandar portos adaptados para formar corredores verdes de abastecimento com combustíveis sustentáveis para os navios. Entretanto, um pré-levantamento realizado pelo Pacto Global da ONU no Brasil aponta que nenhum, dentre os avaliados no país, tem estrutura pronta para isso.
Somente dois estão construindo essas estruturas, com objetivo de receber embarcações movidas a biometano, amônia, biogás e hidrogênio verde.
Um deles é o Porto do Açu, no Rio de Janeiro, que aposta na produção de hidrogênio e amônia verdes para descarbonização do aço, fertilizantes e combustível marítimo.
“Os portos desempenham um importante papel no atingimento das metas globais de descarbonização, fornecendo a infraestrutura necessária para produção e armazenamento de combustíveis alternativos, bem como para o abastecimento da frota marítima”, defende José Firmo, CEO do Porto do Açu.
O Pacto Global da ONU no Brasil lançou nesta quarta-feira (26/07), no Rio de Janeiro, um grupo de trabalho com empresas privadas para impulsionar a transição energética dos portos e do transporte marítimo.
Entre as trinta empresas que integram o Grupo de Trabalho de Negócios Oceânicos, estão Porto do Açu, Petrobras, OceanPact, Suzano, Porto de Santos, Wilson Sons e Hidrovias do Brasil.
Rubens Filho, gerente da Plataforma de Ação pela Água e Oceano do Pacto Global, explica que o grupo tem como prioridade suprir uma lacuna do setor empresarial.
“Trazer experiências internacionais, para que o setor de maneira voluntária consiga aplicar essa descarbonização”, disse à agência epbr.
O mesmo levantamento da ONU aponta que 91% dos portos avaliados não dispõem de campanhas de incentivo para redução de emissões gerados pelo transporte marítimo e cerca de 67% não possuem metas relacionadas à eficiência energética e descarbonização.
Segundo o gerente, a ideia é que o GT também seja capaz de propor sugestões de políticas públicas junto ao Congresso Nacional.
Participação do O&G
O grupo espera conquistar maior participação do setor de óleo e gás, que possui uma enorme frota de embarcações no país.
“A Petrobras fará parte do grupo de trabalho, talvez a mais expressiva do setor, mas a ideia é trazer cada vez mais o setor de óleo e gás para dentro, para discutir as dores que eles têm, e as possibilidades desse setor se modernizar e entrar na transição energética”, pontuou Rubens Filho.
O setor de navegação responde hoje por cerca de 80% do volume do comércio mundial e é responsável por aproximadamente 3% das emissões globais.
No início do mês, os estados membros da Organização Marítima Internacional (IMO) lançaram uma nova meta de emissões líquidas zero até 2050.
Recentemente, a Transpetro revelou que pretende retornar ao mercado em janeiro de 2024 para as primeiras contratações dos navios de um novo programa de revitalização da frota, que deverá atender às especificações da IMO de redução de emissões.
Hidrogênio verde
José Firmo, CEO do Açu, destaca que o Brasil tem enorme potencial para ser um líder na produção de hidrogênio verde, e que o país não pode perder essa janela de oportunidade para industrialização como aconteceu com o gás natural
“Perdemos uma janela do gás por duas décadas, e o mesmo não pode acontecer como o hidrogênio (…) Uma nova janela se abre para o hidrogênio , sendo o país de matriz elétrica muito renovável, podemos transformar esses elétrons em hidrogênio”, afirmou.
Em maio deste ano, os Países Baixos e o governo do Ceará assinaram, um acordo para a criação do Corredor de Hidrogênio Verde entre o Porto do Pecém e o Porto de Roterdã.
O Porto holandês – principal porta de entrada da Europa – também assinou uma Parceria de Portos Verdes (Green Ports Partnership) com o Pecém, e os portos de Paranaguá (PR) e de Rio Grande (RS) para desenvolvimento da produção de hidrogênio verde.
Em abril, o Reino Unido também organizou uma missão com representantes dos portos de Pecém, Suape, Rio Grande e Açu, para trocarem informações com portos britânicos, especialmente na pauta do hidrogênio.
O país já disponibiliza de fontes de financiamento internacional para expansão de infraestrutura portuária verde, incluindo no Brasil.