Diálogos da Transição

Poluição industrial está acima de limites seguros em Belo Horizonte

Refino de petróleo, plantas siderúrgicas e a mineração têm potencial significativo de gerar altas concentrações de poluentes atmosféricos, aponta Iema

Poluição industrial está acima de limites seguros em Belo Horizonte. Na imagem: Vista de "mar de prédios" em Belo Horizonte, capital metropolitana de Minas Gerais (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Poluição do ar em Belo Horizonte está acima do limite recomendado pela Organização Mundial da Saúde (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

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Diálogos da Transição

Editada por Nayara Machado
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Os mais de cinco milhões de habitantes da região metropolitana de Belo Horizonte, em Minas Gerais, estão respirando um ar com alta concentração de poluentes, acima dos limites recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

A conclusão é de um levantamento do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema) divulgado nesta terça (4/7).

Composta por 34 municípios, a região é o terceiro maior aglomerado urbano do Brasil, ficando atrás apenas das regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Mas, diferente de São Paulo, onde a maior parte da poluição do ar é proveniente da queima de combustíveis fósseis no trânsito, no caso da capital mineira, uma contribuição significativa vem da atividade industrial dos municípios.

Refino de petróleo, plantas siderúrgicas e a mineração têm potencial significativo de gerar altas concentrações de poluentes atmosféricos, observa o Iema.

De acordo com o estudo, todas as médias anuais de concentração de material particulado inalável (MP10) e material particulado fino (MP2,5), no período de 2000 a 2021, se mostraram acima do recomendado pelas diretrizes de qualidade do ar da OMS.

“É alarmante que as concentrações de poluentes na região metropolitana de Belo Horizonte estejam tão elevadas e por tanto tempo, sem indicação de melhora ao longo de duas décadas”, comenta David Tsai, gerente de projetos do Iema e um dos autores do estudo.

A análise foi feita a partir da Plataforma da Qualidade do Ar, ferramenta criada pelo Iema que reúne e padroniza os dados do monitoramento gerados pelos órgãos públicos brasileiros.

Atualmente, BH tem 17 estações automáticas de monitoramento da qualidade do ar em operação. Outras cinco realizaram monitoramento no início dos anos 2000, mas foram desativadas.

Além de mostrar que a região não está em uma trajetória em direção às diretrizes da OMS, os dados revelam que algumas áreas sequer atendem ao padrão intermediário menos restritivo do Brasil.

Alguns destaques:

  • Em 2021 (último ano com dados válidos), São José da Lapa, Brumadinho e Betim registraram as maiores concentrações de material particulado inalável (MP10);
  • São José da Lapa ficou com a concentração média de MP10 quase cinco vezes superior à recomendação da OMS;
  • Betim e São José da Lapa registraram as maiores concentrações de MP2,5;
  • Em Betim, mais de 60% da massa de material particulado é proveniente de indústrias, destacando-se as empresas metalúrgicas Metalsider e Teksid do Brasil;
  • Quanto ao poluente ozônio, das 11 estações responsáveis por monitorá-lo, cinco delas deixaram de atender às diretrizes de qualidade do ar;
  • No caso do dióxido de nitrogênio, todas as estações, exceto a localizada no bairro Cascata do município de Ibirité, apresentaram níveis superiores aos recomendados pela OMS. Especificamente, na estação Bairro Piratininga, houve o cumprimento das diretrizes da OMS nos anos de 2017 a 2019;
  • Somente o dióxido de enxofre (SO2) está em conformidade com a meta brasileira e as diretrizes da OMS.

Roteiro climático

Por falar em cidades… elas são responsáveis por 70% das emissões globais de carbono, o que as coloca no centro das ações contra as mudanças climáticas.

Um roteiro recém lançado pela Danfoss, empresa de engenharia e tecnologia, indica que apenas a implementação de tecnologias já existentes para eficiência e substituição de fósseis em edifícios e transporte preenche metade da lacuna nas reduções de emissões urbanas de gases de efeito estufa (GEE) necessárias para 1,5°C.

“As cidades oferecem algumas das melhores possibilidades para otimizar o planejamento urbano e acelerar uma transição verde, e já existem tecnologias acessíveis e econômicas capazes de reduzir as emissões o suficiente para cumprir as metas climáticas globais”, defende Kim Fausing, CEO da Danfoss.

Um dos exemplos é a eficiência energética. O estudo calcula que se todas as áreas urbanas e cidades da Europa, dos EUA e da China investissem em aquecimento e refrigeração energeticamente eficientes de edifícios, isso contribuiria com 20% para a meta de 1,5°C do Acordo de Paris.

Outro é a eletrificação dos transportes urbanos, tanto privados (leves) como públicos (pesados): 28% da descarbonização necessária para o Acordo de Paris seria alcançada se todas as áreas urbanas da Europa, EUA e China eletrificassem o transporte público e privado. Veja o roteiro na íntegra (.pdf)

Cobrimos por aqui:

Curtas

Igualdade salarial é lei. Se descumprir, tem multa

O presidente Lula (PT) sancionou, na segunda (3/7), a lei que torna obrigatória a igualdade salarial entre homens e mulheres quando exercerem trabalho equivalente ou a mesma função. Ao empregador que descumprir está prevista multa equivalente a dez vezes o valor do novo salário devido. Em caso de reincidência, o valor será dobrado.

O governo também criou canais de denúncia sobre o descumprimento da igualdade salarial. Os casos podem ser encaminhados via Ministério do Trabalho ou pelos telefones: Disque 100, Disque 180 ou Disque 158. Agência Brasil

Fábrica de elétricos na Bahia

A chinesa BYD confirmou nesta terça (4/7) o investimento de R$ 3 bilhões em um complexo fabril em Camaçari, para fabricação de veículos elétricos e processamento de minerais críticos para exportação. Localizado a 50 km da capital Salvador, será composto por três células fabris.

Biometano

A Cocal, empresa do setor sucroenergético, inicia neste mês de julho a construção de sua segunda planta de biogás, na unidade de Paraguaçu Paulista (SP), no oeste do estado.

A expectativa é iniciar as operações em abril de 2025. Com investimento de R$ 216 milhões, a nova unidade será 100% destinada à conversão em biometano e terá capacidade de até 60 mil m³/dia durante a safra.

Terminal de etanol

A Ultracargo anunciou na segunda (3/7) que concluiu a aquisição de 50% da Opla para formar uma joint venture com a bp, que detém os outros 50% do terminal de etanol em Paulínia (SP).

O empreendimento é estratégico para a logística de biocombustíveis. Conecta as regiões Sudeste, Centro-Oeste e Norte por meio de soluções integradas para os modais ferroviário, dutoviário e rodoviário.

Trading de créditos de carbono

Comerc Energia e Vibra anunciaram nesta terça (4/7) a entrada para o negócio de compra e venda de créditos de carbono e I-RECs. Chamado Mesa de Carbono, o serviço integra plataforma lançada pela Comerc no ano passado para ajudar seus clientes na jornada de descarbonização.

A proposta é fazer uma curadoria de títulos com integridade, a partir da demanda dos clientes. Os créditos podem vir tanto de projetos de soluções baseadas na natureza, quanto energia.