Diálogos da Transição

Brasil pode exportar hidrogênio verde na forma de aço

Análise da McKinsey indica que a demanda de aço verde provavelmente ultrapassará a oferta, impulsionada pela expansão das renováveis

Brasil pode exportar hidrogênio verde na forma de aço. Produção de barras cilíndricas de aço em instalações de siderúrgica (Foto: Public Domain Pictures/Pixabay)
Produção mundial de 1,9 bilhão de toneladas de aço por ano depende de combustíveis fósseis e gera 8% das emissões globais de GEE (Foto: Public Domain Pictures/Pixabay)

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Editada por Nayara Machado
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Estudo do think tank de energia alemão Agora divulgado nesta quinta (15/6) afirma que é possível, tecnicamente, chegar a emissões líquidas zero na siderurgia ainda na década de 2040 e o segredo está no hidrogênio verde.

Ao lado de investimentos em eficiência no uso dos materiais, aumento da reciclagem, aplicação da bioenergia e de soluções de captura e armazenamento de carbono, a substituição do carvão por hidrogênio verde tem condições de alinhar a indústria de aço às metas globais de limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C.

Mais do que isso: abre uma janela de oportunidade para exportadores de ferro se converterem em fornecedores de commodities verdesO Brasil é um deles.

Segundo maior exportador de minério de ferro, o Brasil (22%) fica atrás apenas da Austrália (53%) e está em posição de vantagem em relação aos outros três fornecedores internacionais mais relevantes: África do Sul (4%); Canadá (3%) e Ucrânia (3%).

estudo (.pdf) destaca o país sulamericano como o com maior capacidade de produção de hidrogênio verde, dada a alta renovabilidade de sua matriz elétrica e o potencial de crescimento da capacidade solar e eólica.

A recomendação do think tank é que, em vez de tentar exportar combustível, países como o Brasil deveriam se preparar para investir em “hidrogênio incorporado” na forma de ferro e aço verdes.

“As exportações de ferro verde proporcionarão novas oportunidades aos países que planejam exportar hidrogênio renovável ou de baixo carbono, criando mais empregos no mercado interno e permitindo que os países capturem uma parte adicional de valor agregado da cadeia de valor da siderurgia”, explica o relatório.

Essa virada de chave para o comércio internacional de produtos com maior valor agregado poderia alavancar em 18% o valor das exportações e em 16% o mercado de trabalho local, mostra a análise.

Corredores logísticos

O comércio de ferro verde também tem potencial de reduzir os custos da transformação global do aço, uma vez que o transporte de hidrogênio incorporado como ferro verde será significativamente mais barato do que o transporte de hidrogênio e seus derivados por navio.

Para impulsionar este cenário, os analistas da Agora recomendam a construção de parcerias entre exportadores e importadores. A Austrália já está trabalhando neste sentido.

Corredores logísticos. Em abril do ano passado, um consórcio formado pelo Fórum Marítimo Global, BHP, Rio Tinto, Oldendorff Carriers e Star Bulk Carriers firmou um acordo para avaliar a criação de um corredor verde de minério de ferro entre a Austrália e o Leste da Ásia.

O objetivo é mobilizar a demanda por transporte verde e escalar o frete de zero ou quase zero emissão de gases de efeito estufa. A amônia verde (derivada de hidrogênio) desponta como a escolha provável de combustível.

A Austrália é o maior exportador de minério de ferro do mundo e embarcou 872 milhões de toneladas em 2021.

Demanda ultrapassará oferta

Análise da  McKinsey indica que a demanda de aço verde provavelmente ultrapassará a oferta, com a projeção de crescimento significativo de projetos de energia renovável na Europa e nos Estados Unidos.

A expectativa é que a demanda global por aço com baixo teor de CO2 cresça dez vezes na próxima década, de aproximadamente 15 milhões de toneladas em 2021 para mais de 200 milhões de toneladas até 2030 – representando mais de 10% da demanda total de aço. Em 2040, deve chegar a 25% da demanda.

Com o mercado aquecido, os prêmios verdes podem chegar a US$ 200-US$ 350 por tonelada até 2025 e US$ 300-US$ 500/tonelada de 2025 a 2030, calcula a McKinsey.

Descarbonizando a siderurgia:

Curtas

Cooperação renovável

Brasil e Emirados Árabes Unidos vão colaborar em hidrogênio de baixo carbono, conversão de energia e tecnologias de descarbonização e biocombustíveis. É o que diz um memorando de entendimento assinado na quarta (14) pelos ministérios de Energia dos dois países.

Um dos projetos destacados pelo ministro brasileiro Alexandre Silveira foi o de Descarbonização da Amazônia, que pretende substituir os geradores a diesel dos sistemas isolados por energia renovável. Mais: MME e governo francês negociam financiamento de pacote renovável para a Amazônia

Saindo do petróleo

A Agência Internacional de Energia (IEA) prevê que o pico da demanda global por petróleo ocorrerá nos próximos cinco anos, com o consumo começando a declinar a partir de 2028.

O setor de transporte verá essa queda ainda mais cedo, a partir de 2026. Este panorama decorre do alto preço do petróleo e das preocupações com a segurança energética, fatores que incentivam a migração para tecnologias de energia mais limpas.

P&D para eletrificação

A TotalEnergies assinou, nesta semana, convênios com a Unicamp, USP e UFRJ para impulsionar projetos de eletrificação com foco em energias renováveis. O investimento total chega a R$ 134 milhões e abrange projetos de desenvolvimento e pesquisa relacionados a baterias, hidrogênio, usinas solares e eólicas offshore.

Empregos verdes no Canadá

O governo canadense apresentou nesta quinta (15/6) um projeto de lei destinado a preparar os trabalhadores para a transição para uma economia de baixo carbono. A proposta chega após anos de consultas e oposição de Alberta, a principal província produtora de combustíveis fósseis do país.

O Canadá, quarto maior produtor de petróleo do mundo e sexto maior produtor de gás natural, tem como meta reduzir de 40% a 45% as emissões de gases de efeito estufa até 2030 e chegar a zero até 2050. Reuters

Os Invasores

Dossiê elaborado pelo observatório De Olho nos Ruralistas denuncia que, no Brasil, 42 políticos e seus familiares de primeiro grau são titulares de fazendas instaladas dentro de terras indígenas, o que constitui uma irregularidade do ponto de vista legal, e ameaça os direitos constitucionais de povos originários que ali vivem.

Lançado na quarta (14/6), o documento detectou terras com sobreposição a partir da análise de dados fundiários do Incra, e mostra que políticos e sua rede têm em mãos 96 mil hectares, o equivalente à soma das áreas urbanas de Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Com 17 casos, Mato Grosso do Sul lidera a lista. Agência Brasil

Carros voadores

A Eve Air Mobility, subsidiária da Embraer, e a United Airlines planejam lançar, em 2026, os primeiros voos elétricos do transporte urbano em San Francisco, na Califórnia (EUA). As empresas trabalharão com autoridades locais e provedores de infraestrutura, energia e tecnologia para garantir a introdução das aeronaves elétricas de decolagem e pouso vertical (eVTOL) na região.