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Mercado de sondas para exploração de petróleo reaquece e põe ritmo da transição energética em xeque

Níveis de ocupação e taxas diárias do setor se aproximam do pico de 2014, diz Wood Mackenzie.

Petrobras adia plano de exploração na costa do Rio Grande do Norte. Na imagem: Sonda offshore Ocean Courage, da Diamond Offshore, contratada pela Petrobras (Foto: Marinha)
Sonda offshore Ocean Courage, da Diamond Offshore, contratada pela Petrobras (Foto: Marinha)

RIO — O mercado de sondas de perfuração, que funciona como um termômetro da atividade de exploração de óleo e gás, dá sinais de reaquecimento. Os níveis de ocupação e taxas diárias estão de volta aos níveis pré-pandemia e cada vez mais próximos do pico de 2014, num sinal de que a transição energética se move mais lentamente do que o necessário, destaca a consultoria Wood Mackenzie.

A retomada da exploração de óleo e gás em águas profundas se dá num contexto de demanda crescente por segurança energética e descoberta de reservas de grande produtividade (e com teores mais baixos de emissões).

Significa uma mudança expressiva de cenário para um mercado que sofreu um ciclo de baixa na década passada, devido à sobreoferta de unidades disponíveis, associada à queda no preço do barril e redução dos investimentos em exploração.

Um cenário que coincide com a assinatura do Acordo de Paris — que sinalizava em 2015 para a descarbonização da economia — e que foi agravado com a pandemia. Centenas de sondas chegaram a ser descartadas ou hibernadas durante a recessão no segmento.

Agora, o nível de utilização das unidades voltadas para perfuração em águas profundas está em 85%, na média de 2023 – ante os níveis de 65% registrados no ano de 2018 — pré-pandemia.

Taxas diárias podem ultrapassar US$ 500 mil

A previsão da consultoria é que as taxas diárias podem voltar a ultrapassar a faixa dos US$ 500 mil até o fim de 2023, para as unidades que atuam em águas ultraprofundas.

As tarifas diárias para unidades flutuantes aumentaram 40% no ano passado e os níveis de utilização da frota de maior classe operacional atingiram os 90% nos últimos meses, com taxas diárias atuais de US$ 470 mil – apenas marginalmente abaixo do pico de 2014.

O impulso da demanda ainda é forte e a Wood Mackenzie prevê que essas taxas diárias aumentarão ainda mais até 2025 — puxadas, sobretudo, pela América Latina, América do Norte e África, além de regiões do Meditererâneo. Juntas, essas regiões vão responder por 75% da demanda global de sondas até 2027.

O ponto de inflexão no setor de sondas

Na visão da consultoria, a recuperação do mercado de sondas mostra que a transição energética está ocorrendo de forma mais lenta do que o necessário para limitar o aumento da temperatura a 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais – o patamar exigido para combater as mudanças climáticas.

As perspectivas de preços do barril mais altos e o consequente fortalecimento na geração de caixa da indústria têm indicado maiores investimentos em exploração e produção.

A guerra na Ucrânia também sinalizou que a demanda por petróleo e gás permanece em crescimento. Com isso, novas descobertas e desenvolvimentos vão ser importantes para compensar o declínio natural dos campos em produção e atender ao crescimento do consumo.

“Os altos preços do barril de petróleo, o maior foco em segurança energética e as vantagens em termos de emissões de carbono das atividades têm assegurado o desenvolvimento em águas profundas e, de certa forma, incentivado a exploração”, escreveu a analista da Wood Mackenzie, Leslie Cook.

Cook aponta que o aumento da demanda e das taxas diárias vai levar o mercado ao ponto de inflexão que permitirá a construção de novas unidades, assim como a reativação das sondas que estavam hibernadas.

“Ainda não chegamos nesse estágio, mas quando se trata de novas construções, não é uma de ‘se’, mas de ‘quando’”, afirma.

Para a analista, no entanto, esse novo ciclo de construção de sondas será diferente, com maior atenção à descarbonização, avanços tecnológicos e eficiência.

A Wood Mackenzie resssalva também que será um ciclo mais restrito do que os anteriores, já que os operadores estão cada vez mais relutantes em assinar contratos de longo prazo e há incertezas sobre a demanda futura para novas perfurações.

Poços perfurados este ano, por exemplo, podem entrar em produção somente ao final desta década e dar retorno aos operadores por volta de 2035.