Gás Natural

Preço do gás na Europa pode se aproximar de zero a curto prazo, diz Rystad

Depois de atingirem patamares recordes em 2022, preços da molécula no mercado spot europeu recuam para menor nível em dois anos

Europa discute saídas para crise do gás natural. Na imagem: gasoduto Russo-Alemão "Nord Stream 2", projeto liderado pela russa Gazprom (Foto: Nikolai Ryutin_Nord Stream 2)
Europa reduziu as compras de gás russo, como retaliação à invasão da Ucrânia, e aumentou as importações de GNL de outros países, como os EUA, a preços mais altos (Foto: Nikolai Ryutin/Nord Stream 2)

RIO  — Depois de atingirem patamares recordes em 2022, os preços do gás natural, na Europa, recuaram esta semana para os menores níveis desde maio de 2021 – período pré-guerra entre Rússia e Ucrânia. Com o alto nível dos estoques e a desaceleração da demanda no continente, a Rystad Energy não descarta a possibilidade de que os preços da molécula se aproximem de zero no mercado spot (curto prazo), no terceiro trimestre.

O quadro de sobreoferta, contudo, deve ser passageiro, alerta a consultoria.

A desvalorização do gás. Ao fim de maio, os estoques de gás europeus estavam com 68% de capacidade – com 27 bilhões de metros cúbicos (bcm) a mais que o observado em igual período no ano passado.

O movimento de queda dos preços internacionais do gás começou, então, a se intensificar no mês passado. O TTF, referência para o mercado na Europa Ocidental, caiu de US$ 12,5 para US$ 8,8 por milhão de BTU ao longo do último mês.

O cenário também se refletiu no preço spot no mercado asiático, onde os preços caíram de US$ 11,6 para US$ 9 por milhão de BTU. Como comparação, em dezembro os preços chegaram a ficar entre US$ 30 e US$ 40 por milhão de BTU.

Segundo a Rystad, a queda reflete o inverno ameno no Hemisfério Norte – o que enfraqueceu a demanda. Esse quadro se soma ao aumento dos esforços dos países europeus em aumentar os estoques.

Em 2022, a invasão russa à Ucrânia e as consequentes sanções à Rússia geraram incertezas sobre o suprimento europeu de gás. Isso levou a uma corrida europeia no mercado internacional para diversificar o fornecimento de gás – o que criou oportunidades para os supridores americanos e africanos.

Cenário de sobreoferta deve ser breve

Mesmo que o cenário para o curto prazo seja de sobreoferta, o balanço entre oferta e demanda de gás vai seguir estreito pelo menos durante os próximos três anos, diz a Rystad.

“Apesar de ver o risco de um excesso de oferta de curto prazo nos mercados internacionais de gás e GNL [gás natural liquefeito], continuamos a ver uma pressão nos fundamentos. É também por isso que esperamos que os preços subam ao entrar no inverno, pois os ‘deuses do clima’ testarão novamente a robustez do mercado de gás”, afirmam os analistas da Rystad Sindre Knutsson, Xi Nan e Emily McClain.

A tendência é que a parada para manutenção de alguns ativos reduza o suprimento de GNL nos próximos meses.

A consultoria aponta que os baixos preços hoje vistos no mercado de GNL favorecem o uso do gás em substituição ao carvão – o que, por sua vez, ajuda a reequilibrar o excesso de oferta no curto prazo, com o aumento da oferta.

O cenário de baixos preços no mercado internacional pode levar também a uma redução na sanção de novos investimentos de GNL no mundo.

Se no ano passado ocorreu uma corrida por novos projetos, a alta nas taxas de juros, o aumento na inflação e a escassez de mão-de-obra têm dificultado o anúncio de novos empreendimentos este ano.

Para a Rystad, é possível que o mercado volte a ficar mais apertado ainda este ano, pois a falta de novos projetos torna a oferta mais escassa. Com isso, o cenário de competição internacional pelos fornecedores disponíveis deve continuar.