BRASÍLIA — A lacuna global de acesso à energia persistiu em 2021, com 675 milhões de pessoas sem eletricidade e 2,3 bilhões de pessoas dependendo de carvão e lenha para cozinhar, mostra um novo relatório da Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês), Agência Internacional de Energia Renovável (Irena), Nações Unidas e Banco Mundial publicado hoje (6/6).
O grupo alerta que o mundo não está no caminho certo para alcançar o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável para energia até 2030 (ODS 7), que tem como meta garantir energia moderna, sustentável, confiável e acessível.
“Houve algum progresso em elementos específicos da agenda do ODS 7 – por exemplo, o aumento da taxa de uso de energias renováveis no setor de energia – mas o progresso é insuficiente para atingir as metas estabelecidas nos ODS”.
Entre 2010 e 2021, a porcentagem da população mundial com acesso a eletricidade aumentou de 84% para 91%, o que significa mais de um bilhão de pessoas incluídas.
No entanto, o levantamento afirma que o ritmo de crescimento do acesso desacelerou em 2019-2021 em comparação com os anos anteriores.
“Os esforços de eletrificação rural contribuíram para esse progresso, mas ainda existe uma grande lacuna nas áreas urbanas”.
O uso de eletricidade renovável no consumo global cresceu de 26,3% em 2019 para 28,2% em 2020, o maior aumento em um único ano desde o início do acompanhamento do progresso dos ODS.
Embora a expectativa vá em direção à expansão da capacidade renovável e melhoria da eficiência energética, em meio a políticas de resposta à crise global de energia, os cálculos mostram os fluxos financeiros públicos internacionais diminuindo quando ser trata de apoiar energia limpa em países de baixa e média renda.
Em 2021, os aportes ficaram em US$ 10,8 bilhões, 35% a menos que a média de 2010-2019 e apenas cerca de 40% do pico de US$ 26,4 bilhões em 2017 nessas regiões.
Além disso, aponta o financiamento limitado: 19 países receberam 80% dos fluxos.
“Para cumprir as metas do ODS 7 e garantir que as pessoas se beneficiem plenamente dos ganhos socioeconômicos da mudança para a energia sustentável, é necessário reformar estruturalmente as finanças públicas internacionais e definir novas oportunidades para desbloquear investimentos”, defende.
Mais de 80% da população global sem acesso a eletricidade está na África subsaariana, isto é, 567 milhões de pessoas que não podem ter uma geladeira ou conectar um eletrodoméstico na tomada. Déficit praticamente igual ao de 2010.
E até 2,3 bilhões de pessoas ainda usam combustíveis e tecnologias poluentes para cozinhar, principalmente na África subsaariana e na Ásia.
“O uso de biomassa tradicional também significa que as famílias gastam até 40 horas por semana coletando lenha e cozinhando, o que proíbe as mulheres de buscar emprego ou participar de órgãos locais de tomada de decisão e as crianças de ir à escola”, explica o relatório.
Preços altos pioram acesso
Outra conclusão do relatório é que o aumento da dívida e dos preços da energia estão piorando as perspectivas de acesso universal a cozinha limpa e eletricidade.
As projeções atuais estimam que 1,9 bilhão de pessoas ficarão sem cozinha limpa e 660 milhões sem acesso à eletricidade em 2030 se o mundo não adotar medidas adicionais.
“Essas lacunas afetarão negativamente a saúde de nossas populações mais vulneráveis e acelerarão as mudanças climáticas. Segundo a OMS, 3,2 milhões de pessoas morrem a cada ano de doenças causadas pelo uso de combustíveis e tecnologias poluentes, que aumentam a exposição a níveis tóxicos de poluição do ar doméstico”, destacam as organizações.
A intensidade energética – a medida de quanta energia a economia global usa por dólar do PIB – melhorou de 2010 a 2020 em 1,8% ao ano, mas a taxa de melhoria caiu para 0,6% em 2020.
“Isso o torna o pior ano para melhoria da intensidade energética desde a crise financeira global, embora em grande parte devido a restrições relacionadas à pandemia, o que pode indicar apenas um revés temporário. As melhorias anuais até 2030 devem agora ter uma média de 3,4% para atingir a meta 7.3 do ODS”, competa.