Combustíveis e Bioenergia

Para onde vão os preços do petróleo após novo acordo da Opep?

Cartel estende cortes até 2024 e Arábia Saudita anuncia redução unilateral de 1 milhão de barris/dia

Ministro de Energia da Arábia Saudita, príncipe Abdulaziz Bin Salman Al-Saud, anuncia novo corte de produção do país (Foto: Divulgação IAEA)
Ministro de Energia da Arábia Saudita, príncipe Abdulaziz Bin Salman Al-Saud, anuncia novo corte de produção do país (Foto: Divulgação IAEA)

RIO — O saldo da reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+), deste domingo (4/6), reforça a percepção, entre analistas do mercado, de que os preços do barril podem interromper, no segundo semestre, a trajetória de desvalorização desta primeira metade do ano — influenciada, em parte, pelos sinais de desaceleração da economia global.

A expectativa é de que o petróleo seguirá próximo aos US$ 80 o barril, ou até acima desse patamar, caso não ocorram grandes choques globais – como foram a pandemia e a invasão russa à Ucrânia, nos últimos anos. Em 2023, a média da cotação, até o momento, é de US$ 80.

Nesta segunda (5/6), após o anúncio da decisão da Opep, o barril do tipo Brent subiu 0,76%, a US$ 76,7 o barril. O chefe da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), Fatih Birol, disse que a chance de preços mais altos aumentou acentuadamente.

Em 2023, a commodity acumula uma desvalorização de 10,8% até agora. No mercado de derivados, a tempestade perfeita passou e as margens do refino voltaram às tendências de longo prazo, de acordo com a Wood Mackenzie.

A Opep, no entanto, tem demonstrado que buscará manter o preço do barril num patamar próximo aos US$ 80. Déficits no suprimento global podem ajudar a pressionar os preços.

A cotação da commodity, no segundo semestre, será ditada por dois principais fatores:

  • os temores sobre uma recessão econômica global
  • e os esforços da Opep+ em manter preços confortáveis para seus membros

Por aqui, embora a Petrobras tenha anunciado o fim do alinhamento do preço de paridade de importação (PPI), a companhia não pretende desvincular seus preços domésticos do comportamento do mercado global.

“Já me perguntaram: ‘E quando subir?’ Quando subir vai subir! Talvez não suba com a mesma rapidez e precisão do PPI, mas uma hora o preço vai subir ou alguém achava que Lula ia se eleger e nós íamos entrar aqui e prometer que o preço nunca mais ia subir, só ia descer, não tem sentido”, afirmou o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, ao Valor.

Entenda, a seguir, como a oferta e demanda podem pressionar os preços do petróleo nos próximos meses:

Oferta

No começo de abril, a Opep+ anunciou uma redução voluntária da produção de seus principais membros, de 1,66 milhão de barris/dia até o fim de 2023.

Na reunião deste domingo, o corte foi estendido até dezembro de 2024. E a Arábia Saudita anunciou um corte unilateral adicional de 1 milhão de barris/dia em julho.

O movimento da Opep amplia as pressões para aumentos de preços nas próximas semanas, acredita a Rystad Energy. A possibilidade de extensão do corte saudita para além de julho dificulta a queda nos preços nos próximos meses, na visão da consultoria.

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Para o Goldman Sachs, antes de a Opep se posicionar, já havia sinais de que o déficit no suprimento mundial de petróleo poderia se aprofundar no segundo semestre, diante da possibilidade de quedas no suprimento de países como Venezuela, Rússia e Irã.

Depois da reunião da Opep, o banco reforçou a visão de que é ainda mais improvável uma queda nos preços na segunda metade do ano.

O Goldman Sachs aponta que o baixo investimento no aumento do suprimento global de petróleo para além da Opep tem feito o grupo ter maior poder de ditar os rumos dos preços do barril.

Fora do cartel, o crescimento da oferta global este ano deve vir, sobretudo, dos Estados Unidos, Noruega, Canadá e Brasil. Esse suprimento deve atender principalmente às regiões que aderiram às sanções contra a Rússia, como Europa e EUA.

“A Europa achou alternativa ao óleo russo e a América Latina teve um papel importante nesse processo. Daqui pra frente, esse cenário deve continuar, mas precisamos ficar atentos aos custos de frete e à mudança na ‘dieta’ [tipo de petróleo processado] das refinarias”, apontou a gerente de comércio de petróleo bruto da Repsol Trading, Mónica Martínez, em evento no Rio de Janeiro em maio.

Demanda

A possibilidade de uma recessão econômica é um dos fatores que ajuda a puxar os preços para baixo.  As incertezas sobre a economia global penalizaram os preços do barril nas últimas semanas.

A Rystad aponta, entretanto, que as menores cotações em maio também refletiram fatores sazonais, como a manutenção das refinarias e a redução do consumo das famílias antes das férias de verão no Hemisfério Norte, período de alta demanda por combustíveis líquidos.

“Sinais fracos de demanda agora não significam necessariamente preços menores durante a temporada de alto consumo”, disse a consultoria em relatório divulgado este mês.

O cenário se torna ainda mais incerto, pois a forte relação entre o Produto Interno Bruto (PIB) global e a demanda de petróleo teve uma dissociação depois da pandemia, devido a questões como mudanças nos hábitos de consumo, segundo a Rystad. Com isso, fica mais difícil prever os impactos de uma eventual crise sobre os preços.

Apesar dos temores de uma possível recessão econômica global – o que levaria à queda da demanda por petróleo bruto e a uma consequente redução nos preços – o Goldman aponta que o consumo segue em linha com as expectativas.

Por enquanto, segundo o banco, a possibilidade de desaceleração da economia é sentida sobretudo na demanda petroquímica, enquanto o consumo de combustíveis de aviação e gasolina tem crescido, ainda no embalo da reabertura pós-covid e dos altos níveis de emprego globais.

A recuperação chinesa com a reabertura da economia pós-pandemia é outro ponto de atenção. O consumo de petróleo no segundo semestre vai ser puxado principalmente pela China e Índia, dizem especialistas.

“Mas nunca foi tão difícil prever o crescimento da demanda chinesa”, disse o economista sênior do Departamento de Energia dos Estados Unidos, Sean Hill, que participou de uma conferência da Argus no Rio.

Segundo Adhemar Mineiro, pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), outros fatores que geram incertezas sobre o consumo de petróleo no mundo são os impactos do aumento das taxas de juros nos EUA e Europa, assim como um possível aprofundamento da crise financeira.

Mineiro lembra ainda que mudanças no cenário geopolítico podem mudar os patamares dos preços do petróleo este ano, como ocorreu com a guerra da Ucrânia em fevereiro de 2022.

“Isso não está descartado. O cenário internacional não é tranquilo, pode haver surpresas”, afirmou.