Diálogos da Transição

O Brasil vai entrar na corrida pela economia verde?

Incentivos verdes dos EUA e Europa ameaçam as vantagens energéticas brasileiras, avalia diretora do BNDES

Incentivos verdes dos EUA e Europa ameaçam as vantagens da economia brasileira, avalia diretora do BNDES
Luciana Costa, diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do BNDES (Foto: Reprodução YouTube)

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Editada por Nayara Machado
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Para Luciana Costa, diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do BNDES, os subsídios dos Estados Unidos e da União Europeia para alavancar a indústria verde em seus territórios ameaçam os planos do Brasil de ser um grande fornecedor global de energia limpa.

“Temos um cenário promissor no Brasil, com vantagens comparativas para se tornarem vantagens competitivas e riqueza. Mas temos um desafio grande. (…) Precisamos de capital”, disse durante um evento do Insper na terça (30/5).

“Olhando para o cenário global, a Lei de Redução da Inflação (IRA, na sigla em inglês) e o Green Deal Europeu são ameaças, sim, para o Brasil, porque nosso custo de capital é muito maior que na Europa e Estados Unidos”, explica.

No encontro, o Insper lançou um documento com “inspirações para a retomada verde no Brasil”, a partir de experiências do Chile, China, França e Estados Unidos. Veja aqui (.pdf)

O Ministério da Fazenda trabalha em um pacote de medidas para “transição ecológica”. Previsto para ser apresentado em agosto, deve ser dividido em seis eixos e incluir pontos como mercado regulado de carbono, bioeconomia, transição energética e hidrogênio verde.

O caso do hidrogênio tem atraído bastante atenção. A Europa precisa descarbonizar sua matriz e prevê uma demanda de 20 milhões de toneladas de hidrogênio em 2030 – metade será importada.

O que pode ser uma oportunidade para o Brasil, que tem uma das matrizes elétricas mais limpas e competitivas do mundo.

Hoje o país tem mais de 1,5 milhão de toneladas de hidrogênio verde em projetos anunciados – algo que demandará mais de 15 GW de novas usinas de energias renováveis; 8 milhões de módulos fotovoltaicos instalados; 1.500 aerogeradores eólicos; 60 TWh/ano de eletricidade; e mais de 1.200 km de novas linhas de transmissão.

Mas, para materializar os investimentos aqui, que já são calculados em US$ 30 bilhões, só com o que foi anunciado até o início de 2023, será necessário atrair uma combinação de capitais públicos e privados.

“O investimento em uma planta de hidrogênio verde custa US$ 1,5 bilhão. Vamos precisar do capital privado, do capital de fomento, do governo e do capital internacional”, comenta Luciana.

Indústria nacional

Ela conta que o BNDES tem estudado esse mercado e uma das conclusões é que, para fomentar investimentos na cadeia, é preciso fomentar demanda.

E aí vem a segunda parte da história: “temos todo esse potencial energético. Vamos nos contentar em exportar energia para a Europa? Ou vamos subir na cadeia de produção e começar a exportar produtos verdes?” questiona Luciana.

“Para que a gente rompa com o modelo primário exportador e comece a exportar esses produtos verdes vai ter que ter muito investimento na cadeia toda”.

Entre os exemplos, cita aço, alumínio, amônia, fertilizantes verdes, que “ainda não têm um prêmio, mas rapidamente terão”.

“O [presidente dos Estados Unidos, Joe] Biden não tem um governo muito forte. Ele conseguiu aprovar os subsídios bilionários do IRA porque Democratas e Republicanos concordam em uma coisa: eles estão lutando contra a China”.

A executiva avalia o IRA como um programa de reação à migração da indústria dos EUA para a China.

“O programa é sobre comprar produtos nacionais. Tem uma guerra comercial junto com o IRA. E o Green Deal Europeu nada mais é que uma reação a ele”.

“No fundo, estamos vivendo uma revolução energética. A primeira foi do carvão, a segunda do petróleo e a terceira é a de baixo carbono. É uma revolução de ruptura tecnológica. Com ela vem oportunidades também”, conclui.

Cobrimos por aqui:

Curtas

Mais hidrogênio

A chinesa CGN Brazil Energy assinou na terça (30/5) um memorando de entendimento com a Quinto Energy, para implementação de um complexo de geração de energia eólica e solar da ordem de 14 GW de capacidade instalada, no sertão da Bahia, com foco na produção de hidrogênio verde em larga escala. A companhia inaugurou nesta terça o Complexo Eólico Tanque Novo (180 MW), segundo maior projeto da companhia no país. O investimento foi de R$ 1,15 bilhão.

Foz do Amazonas

O presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, disse nesta quarta-feira (31/5) que houve uma “melhora significativa” no pedido de reconsideração feito pela Petrobras para a perfuração de um poço no bloco FZA-M-059, na Bacia do Amazonas. Ele disse, no entanto, que o material está sendo analisado pela equipe técnica e que não há prazo para resposta.

Biometano na rede

A Urca Gás, comercializadora do Grupo Urca Energia, pretende injetar biometano na malha de gasodutos da Nova Transportadora do Sudeste (NTS) a partir de 2024. A injeção permitirá que o biometano produzido no aterro de Seropédica, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, seja comercializado em diferentes estados.

Arquitetura solar

No centro de São Paulo, a sede do Germinare Business do Instituto J&F é o primeiro edifício do Brasil a gerar energia elétrica a partir de filmes finos flexíveis na fachada. No Rio de Janeiro, uma parceria entre a Eternit, empresa do setor de construção, e a Revolusolar está levando a energia solar para as favelas, com a instalação de telhas fotovoltaicas de fibrocimento.

ESG na Vibra

A companhia criou uma vice-presidência de Energia Renovável e ESG. A função será exercida por Clarissa Sadock, que renunciou ao cargo de CEO da AES Brasil. Ela assume em agosto, com mandato de dois anos.