Diálogos da Transição

Hidrogênio e eólicas offshore: mercado quer ‘sinalizações fortes’ do governo

Entrevista com Raíssa Cafure Lafranque, vice-presidente da EDF Renewables

Hidrogênio e eólicas offshore: mercado quer ‘sinalizações fortes’ do governo
Em entrevista à agência epbr, Raíssa Cafure Lafranque, vice-presidente da EDF Renewables Brasil, conta que a empresa vem se preparando desde 2021 para ingressar no mercado eólico offshore do Brasil (Foto: EDF Renewables)

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Editada por Nayara Machado
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A EDF Renewables assinou esta semana um memorando de entendimento (MoU, na sigla em inglês) com o governo do Rio Grande do Norte e a Internacional Energias Renováveis (IER) com planos para um complexo eólico offshore de até 2 GW.

Previsto para começar a operar em 2030, o complexo em alto mar integra o projeto Porto-Indústria do estado, que está desenhando um hub de hidrogênio verde para exportar à Europa e alimentar a indústria potiguar.

Em entrevista à agência epbr em meados de maio, Raíssa Cafure Lafranque, vice-presidente da EDF Renewables Brasil, conta que a empresa vem se preparando desde 2021 para ingressar no mercado eólico offshore do Brasil.

A companhia aguarda as definições regulatórias e o primeiro leilão de oferta de áreas, e diz estar pronta para fazer parte dos primeiros projetos e também para fornecer eletricidade renovável às futuras instalações de hidrogênio verde.

“Ainda não temos uma regulação estabelecida, nem para offshore, que precisa de uma regulação local, nem para hidrogênio verde, que precisa não só de uma política local, mas também de uma clareza maior da regulação internacional”, comenta a executiva.

No início do mês, a vice-presidente da EDF foi eleita membro do Conselho de Administração da ABEEólica (associação que representa a indústria eólica e, mais recentemente, de hidrogênio) na categoria “Desenvolvedores e Investidores”.

A intenção é contribuir com o desenho dessas regulações, trazendo a experiência internacional com os projetos do tipo.

A companhia já tem mais de 1 GW em operação e outros 10 GW em construção e desenvolvimento no segmento offshore ao redor do mundo.

“O Brasil tem um potencial enorme para eólica offshore, mas entendemos que o estabelecimento de fato dessa indústria depende de vontade política e de algumas definições regulatórias, de um leilão, para que seja de fato viável”, aponta Raíssa.

Como modelo de licitação, a EDF tem defendido que as concessões de áreas estejam atreladas aos contratos de energia de longo prazo, os PPAs (Power Purchase Agreement), similar ao que ocorre na França.

“Para trazer investidores com uma visão de longo prazo, precisa de sinalizações fortes e claras do estabelecimento dessa indústria a longo prazo”, defende.

Incentivos ao hidrogênio verde

No hidrogênio verde, a empresa está na fase de conversas com stakeholders sobre o fornecimento da eletricidade renovável para a eletrólise.

“Estamos totalmente prontos para contribuir na entrega da energia renovável, algo que já fazemos de forma competitiva. Entendemos que a garantia na entrega dessa energia vai ser essencial para a indústria de hidrogênio verde”, afirma.

Mas a materialização dos investimentos, assim como no caso da eólica offshore, aguarda respostas da regulação.

“Esses parques podem estar conectados à rede de qualquer local do Brasil ou precisam ser off grid, estar estabelecidos junto com a planta de produção de hidrogênio verde? Quais vão ser os parâmetros para isso? Precisa ter aí uma bateria associada? Será para indústria local ou exportação?”, questiona.

‘O momento é agora’

Raíssa avalia que, enquanto para eólica offshore o potencial brasileiro já está materializado, o desenvolvimento da indústria do hidrogênio verde ainda depende de sinalizações externas, o que os países estão decidindo sobre esse mercado.

Ela cita os Estados Unidos que têm lançado mão de políticas de incentivos para se estabelecer como um dos líderes nesse segmento.

“O hidrogênio é uma agenda que precisa ser discutida, porque o momento é agora. Outros países já estão se posicionando e não há dúvidas do potencial que nós temos para avançar”, diz.

Brasil vai dar incentivos à tecnologia?

O tema está na agenda do Congresso Nacional e do governo Lula, e os estados começam a criar suas políticas locais, enquanto cobram uma definição federal para de fato aproveitar a competitividade da matriz renovável.

Embora o Brasil tenha oferta de energia limpa e barata, outros concorrentes no continente americano também contam com esses recursos.

Chile, por exemplo, é hoje o país mais atrativo para investimentos em novas energias, segundo a BNEF.

E os Estados Unidos, com a Lei de Redução da Inflação (IRA, na sigla em inglês) já está atraindo investidores de diferentes partes do globo.

“Nosso recurso é de altíssima qualidade, mas os Estados Unidos, por exemplo, não têm o recurso ruim. Eles têm uma indústria muito bem desenvolvida. E ainda assim, estão colocando subsídios para fomentar o desenvolvimento dessa indústria e se colocar como um dos líderes no setor”.

A executiva menciona o exemplo das tecnologias eólicas e solar que receberam subsídios no começo do seu desenvolvimento no Brasil e hoje conseguem ser competitivas sem o suporte público.

“Não dá para dizer se há ou não há necessidade, mas uma ação ou a falta de ação vai gerar alguma consequência na forma como o país se posicionará mundialmente para receber investimentos”

Ela defende que, se o Brasil quiser se posicionar como líder, terá que demonstrar com “ações mais agressivas” nesse início de estruturação da indústria, acreditando que, num segundo momento, terá condições de caminhar sem subsídios.

“Nesse momento, para competir com outros países que estão aplicando altos subsídios, eu entendo que a gente precisaria de alguma forma, de algum tipo de subsídio sim”, completa.

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