Gás Natural

Indústria pede gás mais barato já, enquanto choque de oferta não vem

Custos das transportadoras também começam a ser questionados

ArcelorMittal e Fiemg vão instalar Centro CIT/Senai de Descarbonização Industrial, em Belo Horizonte, MG. Na imagem: Linha de produção com uma série de barras incandescentes forjadas em alto forno da siderúrgica da ArcelorMittal, em Piracicaba, São Paulo (Foto: Divulgação)
ArcelorMittal Piracicaba (Foto: Divulgação)

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Editada por André Ramalho
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PIPELINE Indústrias pedem mudança na política de preços do gás da Petrobras. No embalo, custos das transportadoras também começam a ser questionados.

ANP avança para incluir gas release na agenda regulatória. MDC/Marquise querem levar biometano para indústrias de Manaus e mais. Confira:

EU QUERO É PREÇO!

Enquanto o governo acena para um (futuro) choque de oferta, indústrias cobram soluções para baratear o gás a curto prazo. O setor produtivo volta à carga contra a Petrobras, agente dominante que pratica, hoje, preços acima da média da concorrência.

O debate, aliás, começa a respingar também sobre os custos do transporte.

No embalo da nova política de preços do diesel e gasolina, que pôs fim ao alinhamento da Petrobras ao preço de paridade de importação (PPI), o Fórum do Gás e União Pela Energia (representantes de um grupo de associações empresariais, predominante industriais) enviaram carta conjunta ao Ministério de Minas e Energia e à Petrobras.

Entendem que os preços da estatal não refletem mais a dinâmica do mercado atual — e pedem, claro, um gás mais barato.

E não estão sozinhos: as distribuidoras, que judicializaram os contratos com a Petrobras, em 2022, também apoiam a revisão da precificação da molécula — já sinalizada pela própria estatal.

Em paralelo, as indústrias de química e fertilizantes se mobilizam para garantir um gás mais competitivo no Gás para Empregar. O governo já sinalizou que o uso do gás como matéria-prima nesses dois segmentos será priorizado.

Quem tem gás tem pressa

A Unigel, principal consumidora no mercado livre, hoje, cobra, no entanto, uma solução imediata para os preços, sob o risco de interromper as operações de suas fábricas de fertilizantes.

E, afinal, qual será o preço do gás a ser vendido pela PPSA no Gás para Empregar? O MME dá as primeiras sinalizações dos custos para trazer o gás da União para a costa. Confira:

PREÇO DO GÁS ‘ABRASILEIRADO’

O Fórum do Gás e o União Pela Energia criticam a atual fórmula de preços da Petrobras e pedem que a companhia adote uma referência mais coerente com as características do mercado local.

Relembre: Em sua maior parte, os contratos da Petrobras seguem uma fórmula atrelada à variação do Brent e taxa de câmbio. Nos novos contratos, assinados no fim de 2021, no entanto, a petroleira embutiu nos preços o aumento dos custos com importação do GNL durante a crise hídrica.

A petroleira elevou, então, o percentual do Brent ao qual o preço do gás está indexado – de 12% para 16,75% em 2022. Este ano, o índice caiu para 14,4%, como previsto em contrato. A Petrobras alega que a maior parte do volume contratado está sujeito a percentuais mais baixos, de contratos mais antigos.

As indústrias alegam que a importação de GNL no Brasil ocorre pela flexibilidade das termelétricas e que o custo do setor elétrico transbordou seus impactos” para o mercado não-termelétrico.

A própria Petrobras, sob o comando de Jean Paul Prates, já sinalizou a intenção de buscar uma nova fórmula de preços para o gás natural, de forma a dar mais peso aos custos domésticos de produção da molécula.

Procurada, a petroleira não se manifestou até o fechamento da edição sobre o assunto.

QUER PAGAR QUANTO?

O diretor de gás da Abrace (grandes consumidores), Adrianno Lorenzon, afirma que mais importante do que rever os indexadores da Petrobras, em si, é garantir, na prática, uma redução de preços: “O indexador é uma questão marginal nessa discussão”.

O preço da Petrobras, no city-gate, caiu em maio para entre US$ 9,75 e US$ 12 o milhão de BTU, dependendo do contrato.

Mas qual o preço justo?

Para o superintendente da Abividro (indústria de vidros), Lucien Belmonte, falta, historicamente, transparência na formação dos preços do gás da Petrobras – o que dificulta o próprio debate sobre qual seria o preço justo da molécula.

“Sabemos que é abusivo [com base no preço histórico que a Petrobras pagava aos demais produtores, na cabeça do poço]. Adoraria ter um preço padrão Henry Hub [dos EUA], mas sabemos que é irreal. Mas qual é o preço real? Só quando tivermos as devidas transparências no processo vamos saber. Qual é o preço interno de transferência entre a área de exploração e produção e de comercialização de gás da Petrobras? Não sabemos”, disse.

Nas conversas com fontes clientes industriais, um preço que frequentemente é citado como ideal para dar mais competitividade ao setor oscila entre US$ 7 e US$ 8 o milhão de BTU na ponta. Esse patamar destravaria a demanda reprimida por gás nas indústrias – cujo consumo patina há anos, fruto da “década perdida” da economia, nos anos 2010.

“Se conseguíssemos a competitividade do preço desse gás, dobraríamos o consumo da Gerdau no Brasil”, disse o gerente de Energia e Gás da Gerdau, Marcos Prudente, ao participar do Seminário de Gás Natural do IBP, este mês.

“Continuarmos vinculados a um mercado muito próximo ao custo do GNL, a 13%, 14% ou até 12% do Brent, de fato, não dá o sinal adequado para novos investimentos”, completou o diretor de Energia e Descarbonização Industrial da Braskem, Gustavo Cecchucci, na mesma ocasião.

QUANTO CUSTARÁ O GÁS DA UNIÃO?

O choque de oferta do gás da União, prometido pelo Gás para Empregar, ainda não tem data para chegar ao mercado. Por questões contratuais, é improvável que o swap do óleo da União por volumes adicionais de gás disponíveis para comercialização via PPSA ocorra antes de 2025.

Também não está claro ainda em que o patamar de preços que esse gás chegará ao mercado. O governo ainda estuda uma política de precificação de longo prazo para o gás da União.

Esta semana, porém, o MME deu as primeiras sinalizações dos custos para trazer esse gás até a costa.

O custo estimado para colocar a molécula da União no city-gate é de US$ 5,89 o milhão de BTU, a partir do uso da infraestrutura existente; e de US$ 6,71 o milhão de BTU, se necessária a construção de novos gasodutos de escoamento.

O ministério entende que seria possível vender o gás da União, no city-gate, entre US$ 7 e US$ 8 o milhão de BTU, com ganhos de arrecadação para o Fundo Social do Pré-Sal – o superávit da operação é uma preocupação de lideranças políticas da base do governo nas discussões do Gás para Empregar.

MUITO ALÉM DA MOLÉCULA

Embora seja o item de maior peso no preço final do gás, a molécula não é o único componente com espaço para redução. Essa afirmativa tem marcado uma presença crescente nos discursos de consumidores de gás (mas não só deles).

A Unigel tem defendido mais flexibilidade nas negociações das tarifas de transporte e distribuição (ambas reguladas). Soluções como o short haul (tarifa diferenciada para o transporte de curta distância) estão no radar.

“Não adianta ter um transporte muito barato e uma molécula muito cara, não adianta ter uma molécula muito barata e um transporte caro. Precisamos de competitividade em toda a cadeia. Hoje, ele [o mercado] já nasce com dificuldade na molécula e sofre o ônus do transporte caro”, disse o diretor de Compras da Unigel, Luiz Antônio Nitschke, no Seminário de Gás Natural.

Se o Brasil não buscar reduzir os custos da infraestrutura, o preço do gás não ganhará a competitividade que se espera, avalia o diretor Comercial da PetroReconcavo, João Vitor Moreira.

“Se o Brasil não olhar para frente, para a necessidade de racionalizar esses custos também, o gás na ponta não vai evoluir”, comentou.

Ele acredita que as tarifas de transporte dos contratos legados – aqueles assinados com a Petrobras antes da privatização das transportadoras e que foram herdados pelos novos operadores do setor – cairão, à medida que esses contratos forem vencendo a partir de 2025.

Enquanto isso não acontece, defende Moreira, há espaço para se buscar reduções nos custos do transporte.

“Francamente, não vejo, na prática, o valor da tarifa para o gás adicional [aos contratos legados] mais barato que o valor dos contratos legados. Não é o que vemos na realidade”, disse.

Ele acredita que a revisão da Resolução ANP nº 15/2014, prevista na agenda regulatória da agência, é uma oportunidade ideal para tratar do assunto.

“[Renegociar os contratos legados] não seria simples. O melhor caminho é aprimorar a forma como são feitas as revisões tarifárias, há muito espaço para melhoria”, complementou Lorenzon, da Abrace.

O GÁS NA SEMANA

Gas release avança na ANP. Diretoria aprovou nesta quinta (25/5) a publicação da nota técnica sobre a proposta do Programa de Redução de Concentração. Documento será enviado ao CNPE e o tema incluído na agenda regulatória – 1º passo para o início da Avaliação de Impacto Regulatório. (epbr)

Marquise e MDC vão levar biometano para indústrias de Manaus. Plano é replicar num aterro da capital do Amazonas o modelo de negócio da GNR Fortaleza – primeira e única planta de biometano do Nordeste, que já corresponde a até 20% de todo o gás distribuído pela Cegás (CE). (epbr)

Biometano terá prioridade na área de concessão da ES Gás. Agência reguladora capixaba, a ARSP, abriu consulta pública sobre a regulamentação das condições de distribuição de biometano no estado. A concessionária local deverá priorizar o uso do gás renovável para o atendimento do mercado cativo, desde que o preço seja competitivo em relação ao gás natural. (epbr)

Térmicas ameaçam competitividade de hidrogênio verde, diz PSR. A contratação compulsória das usinas a gás, prevista na lei de privatização da Eletrobras, pode prejudicar a certificação do hidrogênio produzido com eletrolisadores a partir da energia fornecida pelo Sistema Interligado Nacional (SIN) a partir de 2027. (epbr)