RIO — A Rússia ultrapassou os Estados Unidos e se tornou a principal fonte de importações de diesel do Brasil em abril. Mais da metade (56%) das cargas importadas vieram de refinarias russas, contra 21% dos EUA, de acordo com dados do ComexStat, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
No acumulado do ano, no primeiro quadrimestre, os americanos — historicamente os supridores tradicionais do mercado brasileiro — ainda lideram o ranking, com 32% das importações, contra 22% da Rússia. Para efeitos de comparação, os russos responderam por menos de 1% dos volumes importados em igual período de 2022.
A geopolítica do petróleo. A Rússia entrou de vez no mercado brasileiro em fevereiro deste ano. Sem endossar as sanções europeias e dos próprios EUA, o Brasil manteve-se aberto às ofertas de diesel mais barato.
Historicamente pouco relevantes, as importações do derivado de origem russa dispararam nos últimos meses, em meio a mudanças no fluxo do comércio global de combustíveis desde o início da guerra da Ucrânia, em 2022.
As vendas de diesel russo para o mercado brasileiro foram 48 vezes maiores no primeiro quadrimestre deste ano, ante igual período do ano passado.
- Para aprofundar: Brasil aumenta importação de diesel russo durante Guerra da Ucrânia
Rússia vende diesel mais barato que Petrobras
O Brasil importa diesel russo, hoje, mais barato que o produto dos EUA e até mesmo que a Petrobras — mesmo após a redução de quase 13% no preço do diesel da estatal esta semana, segundo a agência Argus.
A Rússia amplia as vendas para o Brasil num momento em que o país tem reduzido suas importações de diesel, no geral. Segundo balanço da StoneX, o Brasil importou 946 mil m³ de diesel em abril, queda de 39% na comparação anual. Considerando os quatro primeiros meses do ano, a queda foi de 5,5%, para 4,45 milhões de m³.
A guerra da Ucrânia redesenhou por completo a dinâmica do mercado e na América Latina não foi diferente.
Atraído pelo aquecimento da demanda europeia – e pelos prêmios pagos por lá pelos produtos alternativos aos russos – os EUA deslocaram parte de sua produção (e estoques) de derivados para a UE.
O Brasil passou, então, a concorrer com a Europa na atração dos barris americanos. E teve de recorrer a supridores alternativos — como a Rússia.
Raízen cogita comprar diesel russo
As importações de diesel russo têm sido destinadas, sobretudo, a distribuidoras regionais — que têm conseguido, com isso, ganhos de competitividade em relação às líderes de mercado.
Apesar das sanções impostas pelas potências ocidentais, o Brasil não seguiu o mesmo caminho e não existe, portanto, um impeditivo, do ponto de vista legal, para o comércio com os russos.
Empresas interessadas em importar diesel da Rússia, no entanto, podem esbarrar em retaliações no mercado financeiro – seja no processamento de pagamentos e acesso a crédito, seja por pressão de investidores institucionais.
É o que faz alguns importadores tradicionais do Brasil ainda se manterem distantes dos barris russos, por ora.
“Por ora, tomamos a decisão de não seguir com importação de diesel russo. Entendemos que sim, seria possível, mas por uma decisão nossa preferimos aguardar o desenvolver nas próximas semanas e meses”, afirmou Ernesto Pousada, da Vibra.
A Raízen, contudo, já sinalizou que pode mudar de posição e que avalia diversas oportunidades para a importação de combustíveis de forma a se manter bastante competitiva, disse o CEO, Ricardo Mussa, esta semana, quando questionado sobre o produto russo, que vem entrando no Brasil mais barato.
“O que posso dividir com vocês é que estamos fazendo todo o possível para sermos competitivos e seremos, então não existe nenhuma restrição do nosso lado. Obviamente, dependendo da posição da Petrobras [sobre a nova política de preços], nós vamos nos posicionar”, disse Ricardo Mussa, da Raízen.