Combustíveis e Bioenergia

Fim do PPI gera aumento de incertezas, avaliam especialistas 

Importadores e produtores de biocombustíveis podem ser os mais afetados, dizem entrevistados pelo antessala epbr

A nova política de preços anunciada pela Petrobras nesta terça-feira (16/5), que coloca fim ao preço de paridade de importação (PPI) como principal referência na formação de preços dos combustíveis, eleva as incertezas para os agentes do setor. Essa é uma das avaliações dos entrevistados pelo antessala epbr (Veja a íntegra acima).

Para o presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Sérgio Araújo, as novas referências anunciadas pela Petrobras, tais como “custo alternativo do cliente” e “valor marginal para a Petrobras”, são abstratas. 

“A Petrobras inclui na formação de preço algumas variáveis que são abstratas, que são muito vagas (…) Isso não é mensurável ou facilmente acompanhado”, afirmou Araújo.

Segundo ele, isso pode levar a um aumento da imprevisibilidade por parte dos agentes que atuam na cadeia de combustíveis, inibindo a atuação dos importadores, por exemplo.

“Essa falta de transparência gera uma certa insegurança e pode afastar sim alguns agentes que atuam na cadeia de suprimento da gasolina e diesel”. 

Para o executivo, também cresce o risco da concentração do mercado em poucos agentes, o que pode “aumentar substancialmente o risco de abastecimento”. 

Hoje, o Brasil é dependente de importação de derivados, cerca de 25% do diesel e pouco mais de 10% da gasolina consumidos no país são importados. 

Pedro Shinzato, consultor de petróleo da StoneX, considera que o fato relevante publicado pela Petrobras foi vago. 

“Entendemos que é muito danoso para o mercado de combustíveis (…) O custo marginal da Petrobras, por exemplo, é algo difícil de mensurar. Não se sabe como se chega a esse cálculo, e deixa um ambiente de incerteza sobre a política de preços bastante grande”, disse Shinzato, ao antessala epbr. 

Em seguida, ao anúncio das novas variáveis de preço, a Petrobras anunciou uma redução nas cotações do diesel, de 12,7%, e da gasolina, em 12,5%. Entretanto, a diminuição coincidiu com a queda dos preços internacionais.

“Mesmo com uma política um pouco mais nebulosa, tivemos um reajuste muito alinhado ao PPI (…) Na visão do mercado, a ideia é que o PPI continue de alguma forma influenciando os preços da Petrobras”, diz Shinzato.

Intervenção nos preços

Na avaliação do presidente da Abicom, a falta de transparência abre caminho para que a Petrobras pratique preços artificialmente baixos, baseada em decisões políticas. 

“Não temos ainda nenhuma evidência de uma intervenção do governo (…) No entanto, a nova política dá ao agente controlador, ao acionista majoritário, uma liberdade muito grande para alterar preços com viés político”, diz Araujo. 

Num cenário hipotético de controle artificial dos preços da Petrobras, o consultor da StoneX acredita que isso pode frear investimentos privados, com destaque para importadores.  

“A prática de preços desalinhados ao mercado internacional no mercado interno brasileiro afugenta o investidor privado (…) Se eu posso comprar mais barato da Petrobras, porque eu vou comprar de fora?”, comentou Shinzato. 

Impacto nos biocombustíveis

Entre as novas variáveis adotadas pela Petrobras está a precificação considerando “fornecedores de produtos substitutos”, o que pode impactar os biocombustíveis, principalmente o etanol. 

“Isso pode de alguma pressionar a rentabilidade desses combustíveis alternativos”, avalia Araújo. 

Para Shinzato, o etanol é o mais afetado. 

“O etanol sofre um impacto muito grande com o preço da gasolina. Talvez seja o setor que mais sofra com isso”, pontua Shinzato.

“Se estamos discutindo uma política que talvez possa precificar nossos produtos derivados fósseis abaixo da paridade, temos um desincentivo à produção do biocombustível”, conclui o consultor da StoneX.

Anúncio cumpre promessa política, diz Ineep

Na avaliação da pesquisadora do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo (INEEP). Carla Ferreira, o anúncio da Petrobras segue uma promessa de campanha do presidente Lula, de “abrasileirar” os preços dos combustíveis, em contraponto à política do PPI, adotada pela companhia desde 2016. 

“Os atores que ficaram reféns dessa política foi principalmente a população brasileira, que viu um aumento nos preços do diesel, gasolina, e principalmente GLP, que tem um impacto no orçamento das famílias significativo”. 

Segundo Ferreira, havia um descompasso entre a função social da companhia, em atender aos interesses do país, e a distribuição de dividendos recordes aos acionistas minoritários. 

“Essa nova política vem equacionar essa função social que está dada pela companhia”

A pesquisadora também chama a atenção para vantagens competitivas que permitem ao Brasil maior margem de atuação sobre a precificação dos combustíveis. 

“Temos uma vantagem comparativa a outros países de sermos um grande produtor de petróleo. Essa característica é que nos permite que sejamos um pouco mais ousados nessa política de preços (…) Outra vantagem que temos é explorar principalmente no pré-sal o petróleo a preços muito baixos”, destaca Ferreira.