RIO – A Unigel reduziu o ritmo da manutenção da planta de fertilizantes de Sergipe, que está com as operações suspensas, enquanto negocia com o mercado supridor uma redução do preço do gás natural.
Segundo o diretor executivo de compras da Unigel, Luiz Antônio Nitschke, ainda é “prematuro” falar em hibernação das unidades em Sergipe e na Bahia.
“Enquanto estivermos no processo de negociação, está descartada a hibernação das plantas. A planta de Sergipe está parada por manutenção, estamos fazendo isso de forma lenta, até para economizar, mas a hora que tiver o gás competitivo, voltamos”, disse hoje a jornalistas no Seminário de Gás Natural do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP) no Rio.
A negociação envolve a Petrobras, principal fornecedora de gás natural dos projetos. As fábricas também são da companhia, arrendadas para a Unigel, durante o governo Bolsonaro. A Petrobras tinha planos, na gestão passada, de deixar o segmento.
Uma das soluções defendidas pelo executivo da Unigel é que as transportadoras e distribuidoras de gás possam ter maior flexibilidade para negociar as tarifas.
Unigel produz fertilizantes em Sergipe e na Bahia
De acordo com Nitschke, a Unigel está buscando as condições para que a planta volte a operar plenamente “o mais breve possível”.
Em nota enviada à epbr ontem (10/5), a companhia já havia confirmado que “houve uma diminuição na produção de amônia e ureia na divisão Agro, uma vez que a unidade de Laranjeiras (SE) está temporariamente suspensa para manutenção preventiva”.
Na Bahia, a planta de Camaçari (BA), “encontra-se em operação, dentro dos padrões usuais de taxa de utilização da capacidade instalada”.
A produção nacional de fertilizantes é prioritária para o governo federal. No Ministério de Minas e Energia (MME), no entanto, é desenvolvido um programa estruturante de oferta de gás natural, com efeitos de longo prazo. Trabalho envolve Indústria e Comércio (MDIC) e Casa Civil.
Descompasso no mercado global
A Unigel passou a ter prejuízo nas operações depois da queda do preço da ureia no mercado internacional. Os preços do gás natural não acompanharam a queda dos fertilizantes.
O descompasso foi provocado pela sucessão de choques de 2022, o pós-covid e a invasão russa na Ucrânia. No período de forte pressão inflacionária, as margens dos produtores de nitrogenados foram sustentadas em patamares elevados mesmo com o gás mais caro.
“Temos uma indústria estratégica para o país e que está passando por um momento em que é inviável seguir produzindo e operando com prejuízo. Precisamos encontrar soluções para toda a cadeia”, complementou o executivo.
Nitschke afirmou que as condições de competição no mercado brasileiro são desafiadoras, dado que o país importa de países que oferecem melhores condições de preços devido a sanções internacionais, como o Irã e a Venezuela.
“Precisamos andar de acordo com as condições do mercado. O preço do gás caiu, mas não na mesma proporção que o da ureia caiu”, ressaltou o executivo.
Flexibilidade na negociação de tarifas para grandes consumidores
Uma das soluções defendidas pelo executivo da Unigel é que as transportadoras e distribuidoras de gás possam ter maior flexibilidade para negociar as tarifas.
Segundo o executivo, a companhia já levou esse pleito à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
“Não adianta ter um transporte muito barato e uma molécula muito cara, não adianta ter uma molécula muito barata e um transporte caro. Precisamos de competitividade em toda a cadeia. Hoje, ele [o mercado] já nasce com dificuldade na molécula e sofre o ônus do transporte caro”, disse.
O preço do gás natural é negociado entre Petrobras, demais supridores e clientes, no mercado cativo (distribuidoras) e livre. Na Bahia, a Unigel tem contrato com a Petrorecôncavo, por exemplo.
As tarifas são reguladas pela ANP (transporte) e governos estaduais (distribuidoras), e refletem também o câmbio, em reajustes que levam em conta o IGP–M, mais exposto ao dólar que o IPCA.
Nitschke defendeu também que consumidores que demandam volumes maiores possam ter condições diferentes nas negociações com fornecedores e transportadores.
Hoje, a Unigel tem contratos com cinco fornecedores para o suprimento das duas plantas no Nordeste, com capacidade para produção de 1 milhão de toneladas de ureia. As plantas consomem 3 milhões de metros cúbicos por dia.
Interesse por fábrica incompleta em Três Lagoas (MS)
O diretor da Unigel disse ainda que a companhia ainda tem interesse numa eventual compra da unidade de fertilizantes da Petrobras em Três Lagoas (MS), mas disse que a empresa não vai tomar uma decisão enquanto as condições de compra de gás natural estiverem desfavoráveis.
“Manifestamos o interresse num momento diferente. Se houver um gás competitivo, a Unigel tem capacidade de finalizar a construção e botar a planta para operar. Neste momento, com uma situação desfavorável, não vamos dar nenhum passo nessa direção”, disse.
A Petrobras interrompeu os desinvestimentos e está reavaliando a saída do setor de fertilizantes.
A respeito da possibilidade de retorno da estatal a esse segmento, Nitschke afirmou que toda competição “é bem-vinda”, com a ressalva que é necessário que a negociação do preço do gás seja competitiva para todos os agentes.
“O Brasil importa 7 milhões de toneladas de ureia por ano. Tem potencial para vir muita gente”, afirmou.
Segundo ele, caso o país substituísse toda a importação de ureia por produção interna, essa indústria teria um consumo adicional de 18 milhões de metros cúbicos de gás por dia.