Diálogos da Transição

Mais Luz para Amazônia: os painéis solares, as baterias e o que vem depois

Estudo do Iema mostra que é preciso planejar a instalação de sistemas solares nas áreas remotas junto com a previsão de retirada e reciclagem dos resíduos

Na imagem: Mulher segura conta de luz e sorri. Programa Mais Luz Para a Amazônia leva energia elétrica a comunidades em áreas remotas (Foto: Divulgação/Energisa)
Programa Mais Luz Para a Amazônia leva energia elétrica a comunidades em áreas remotas (Foto: Divulgação/Energisa)

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APRESENTADA POR

LLYC

 

Editada por Nayara Machado
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Levar energia renovável às mais de 219 mil unidades consumidoras mapeadas pelo programa Mais Luz para a Amazônia (MLA) demandará a instalação de até seis milhões de módulos fotovoltaicos e mais de cinco milhões de baterias estacionárias até 2030.

O suficiente para colocar a região Norte em destaque no ranking de capacidade e número de sistemas instalados nacionalmente, mas que exigirá um fluxo de fornecimento de componentes contínuo e estável e um plano de logística reversa para as baterias.

As conclusões fazem parte de um estudo do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema) sobre a dimensão do programa olhando para todo o ciclo de vida dos equipamentos. Veja na íntegra (.pdf)

Instituído em fevereiro de 2020 pelo governo federal, o MLA propõe levar energia limpa e renovável às famílias que vivem em áreas remotas, com recursos da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE).

É uma alternativa para substituir geradores a diesel em comunidades ribeirinhas, indígenas e quilombolas sem acesso às redes de distribuição convencionais.

Embora usar a radiação solar para gerar energia seja mais barato e menos poluente que queimar diesel, a instalação dos sistemas precisará vir acompanhada de um planejamento de retirada e reciclagem dos resíduos (módulos FV, baterias e componentes), ao fim da vida útil, em escala e de forma distribuída.

Vale dizer: a discussão não é sobre a necessidade de levar energia a essas populações, ou se a geração distribuída solar vale a pena, mas como garantir que o acesso à eletricidade não crie um passivo ambiental na região.

Pelos cálculos do Iema, em 2030, a capacidade instalada do programa MLA atingirá algo entre 363 MWp (Megawatt-pico) e 1.381 MWp, a depender dos sistemas adotados.

  • Para dar uma dimensão: São Paulo, hoje com a maior capacidade instalada residencial de geração distribuída fotovoltaica, tem 1.282 MWp.

Ao final da vida útil dos sistemas, seriam produzidas entre 71 mil e 237 mil toneladas de resíduos – superior à atual coleta anual de equipamentos eletroeletrônicos de todo o Brasil.

Ao longo dos 32 anos analisados, Mato Grosso, Rondônia e Tocantins são os estados da Amazônia Legal com maior potencial de geração de resíduos por habitante. Acre, Amapá e Amazonas gerariam a menor quantidade.

Mas, se o Brasil inteiro está instalando painel solar, por que estamos discutindo os resíduos na Amazônia?

Lacuna logística

O Iema explica que, ainda que a maioria dos componentes dos sistemas fotovoltaicos seja reciclável, a logística reversa para eles é praticamente inexistente na região: apenas 58 dos 808 municípios contam com o serviço.

Em Tocantins, são apenas dois municípios de 14 e Roraima tem apenas um município entre também 14 com esse recurso.

“A transição energética justa, tão discutida atualmente, passa pela inclusão energética tanto em centros urbanos periféricos quanto em áreas ambientalmente sensíveis, como a Amazônia”, comenta Ricardo Baitelo, gerente de projetos do Iema.

“Nesse sentido, o abastecimento à população ainda sem acesso a esse serviço deve vir necessariamente acompanhado de políticas públicas capazes de integrar os desafios de recursos e governança para evitar que o problema atual da falta de luz não seja substituído por outro problema de acúmulo de resíduos no futuro”, defende.

Entre as sugestões do instituto está o estímulo ao investimento e financiamento público e privado para a gestão de fim de vida dos equipamentos do MLA, superando as barreiras de financiamento a cooperativas regionais, pequenos distribuidores e processadores de resíduos.

“Garantir o efetivo gerenciamento dos resíduos desses sistemas de armazenamento em regiões remotas requer uma cadeia estruturada de descomissionamento”, diz um trecho do estudo.

Essa cadeia deverá administrar os resíduos para reduzir os riscos de contaminação ambiental e humana após o fim da vida útil, especialmente no caso das baterias usadas para armazenar a energia fotovoltaica quando não tem sol.

Outro ponto levantado é a necessidade de atualização da Política Nacional de Resíduos Sólidos, que deixa de fora as baterias de íon-lítio, uma lacuna regulatória para a tecnologia.

Infográfico do Iema mostra como a GD solar atenderá as famílias no MLA. Clique na imagem para ampliar
Infográfico do Iema mostra como a GD solar atenderá as famílias no MLA. Clique na imagem para ampliar

Cobrimos por aqui:

Curtas

Política de hidrogênio

O governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), sancionou na quarta (3/5) a Política Estadual do Hidrogênio Renovável, com os primeiros passos para incentivar o uso de hidrogênio.

Paralelamente, anunciou um pacote de medidas para posicionar o estado como líder na produção nacional do gás considerado o “combustível do futuro”, como o Programa de Energia Verde, além de linhas de crédito e de processos mais simples de licenciamento.

Telecom com GD

Também no Paraná, a Vivo inaugurou em abril mais três usinas solares do seu projeto de geração distribuída renovável. Os empreendimentos da Helexia estão localizados nas cidades do Alto Paraná, Cidade Gaúcha e Loanda. Juntas, as usinas somam 18,4 megawatts-pico (MWp) de capacidade instalada e devem abastecer mais de 1,7 mil pontos de consumo da empresa de telefonia.

Eólica offshore

Os estados com tradição na produção marítima de óleo e gás despontam como candidatos naturais a atrair os investimentos em eólicas offshore. Levantamento da agência epbr mostra que seis em cada dez projetos com pedidos de licenciamento registrados no Ibama estão em estados com histórico de produção de petróleo e gás natural.

O Brasil fechou o 1º trimestre com 74 projetos de geração eólica offshore com pedidos de licenciamento registrados no Ibama. Desse total, 45 projetos (60,8% do total) estão no RJ, ES, CE e RN, que abrigam ou já abrigaram uma indústria petrolífera offshore.

E mais: empresas especializadas em levantamento de dados geofísicos para a indústria de O&G estão interessadas em prestar serviços para projetos de geração eólica offshore no Brasil. É parte do reposicionamento dos negócios dessas companhias, frente à transição energética.

As empresas, porém, ainda veem com cautela a falta de regulação para avançarem de vez com os planos de diversificação de serviços. E pedem urgência na definição das regras sobre a coleta e uso dos dados no setor eólico.

Foz do Amazonas

Em despacho interno do Ibama, o diretor substituto da Diretoria de Licenciamento Ambiental (DLIC), Régis Fontana, discordou parcialmente do parecer técnico que sugere a rejeição da licença para atividade de perfuração na Foz do Amazonas, projeto da Petrobras em águas profundas do Amapá.

O servidor diz não se opor aos argumentos da equipe técnica em relação a falhas no Plano de Proteção à Fauna, mas considera todo o processo uma “avaliação político-estratégica a ser tratada em arena diversa do licenciamento ambiental”.

Biodiesel na Amaggi

A companhia de grãos obteve, na quarta (3/5), autorização da ANP para o uso experimental de 100% de biodiesel (B100) em frota cativa. Com a licença da ANP, a Amaggi pode utilizar biodiesel puro em até 300 caminhões. Coincide com a instalação de uma usina de biodiesel em Lucas do Rio Verde (MT) com produção autorizada de até 1 milhão de litros do biocombustível por dia.