Biocombustíveis

Europa define metas para combustíveis sustentáveis de aviação

Proposta olha tanto oferta quanto demanda, e cria obrigações de fornecimento e uso a partir de 2025

Europa define metas para combustíveis sustentáveis de aviação. Na imagem: Caminhão tanque para abastecimento de aeronave com 80% de SAF (Foto: Divulgação/Airbus)
Caminhão tanque para abastecimento de aeronave com 80% de SAF (Foto: Divulgação/Airbus)

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Diálogos da Transição

APRESENTADA POR

Editada por Nayara Machado
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A União Europeia fechou um acordo esta semana para estabelecer metas obrigatórias para as companhias aéreas no bloco aumentarem o uso de combustíveis sustentáveis de aviação (SAF, na sigla em inglês).

A proposta olha tanto oferta quanto demanda, e cria metas de fornecimento e uso a partir de 2025.

O mandato começa com pelo menos 2% dos combustíveis de aviação cumprindo requisitos “verdes”, com essa parcela aumentando a cada cinco anos: 6% em 2030, 20% em 2035, 34% em 2040, 42% em 2045 e 70 % em 2050.

Além disso, uma proporção específica da mistura (1,2% em 2030, 2% em 2032, 5% em 2035 e atingindo progressivamente 35% em 2050) deve incluir combustíveis sintéticos como o e-querosene.

A expectativa é que a substituição gradual do querosene fóssil pelo SAF resulte em uma queda de dois terços nas emissões das aeronaves até 2050.

A aviação civil é responsável por 13,4% das emissões totais de CO2 dos transportes da UE. Entre 2013 e 2019, o crescimento foi, em média, de 5% ao ano. E a previsão é continuar aumentando, com as pessoas voltando a viajar no pós-pandemia.

Para alcançar neutralidade climática, os europeus estimam que precisarão reduzir as emissões dos transportes em 90% até 2050 (em comparação com os níveis de 1990).

Vale dizer: o bloco formado por países ricos também enfrenta pressões sociais por uma aviação mais sustentável, com campanhas como a “flygskam“, ou “vergonha de voar”, que começou na Suécia e se espalhou por outros membros.

Segundo o parlamento europeu, o RefuelEU Aviation ajudará o setor de aviação a contribuir para atingir essa meta, juntamente com as regras revisadas sobre o Sistema de Comércio de Emissões da UE no setor de aviação.

O mercado de carbono europeu deve fornecer cerca de 2 bilhões de euros em financiamentos às companhias aéreas para incentivar a transição para o SAF.

Meta de fornecimento

Ao incluir os fornecedores nas obrigações, assim como os operadores, a UE tenta garantir a disponibilidade do produto, já que ele precisa ganhar escala para se tornar competitivo em relação ao fóssil.

Estudo do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) aponta que a indústria global de SAF deve alcançar 449 bilhões de litros até 2050. Em 2022, a produção chegou a pouco mais de 300 milhões de litros.

Os aeroportos também terão que adaptar sua infraestrutura de abastecimento para viabilizar a distribuição SAF.

Embora a maioria dos aeroportos não faça parte da cadeia de valor do combustível, eles desempenham um papel na facilitação do intercâmbio e interação entre as diferentes partes envolvidas e podem atuar para facilitar a introdução do SAF.

Definição de verde

O mandato de mistura abrange biocombustíveis de resíduos agrícolas ou florestais, algas, biorresíduos, óleo de cozinha usado ou certas gorduras animais e e-combustíveis, inclusive com hidrogênio produzido a partir de energia nuclear.

Exclui, no entanto, os derivados de óleo de soja e óleo de palma.

O acordo ainda depende da adoção formal pelo Parlamento e Conselho Europeu para entrar em vigor. Uma vez publicada, a legislação passará a valer com efeitos imediatos.

Regulação no Brasil

No Brasil, há algumas movimentações para entrar no mercado de SAF.

O potencial de produção do país, usando apenas resíduos, é calculado em cerca de 9 bilhões de litros pela RSB (Roundtable on Sustainable Biomaterials) – a aviação doméstica consome 7 bilhões de litros de querosene fóssil, de acordo com dados mais atualizados.

Recentemente, a Acelen assinou um memorando com o governo da Bahia prevendo investimentos de R$ 12 bilhões em biorrefino na refinaria de Mataripe.

No ano passado, Vibra e Brasil Biofuels também anunciaram uma parceria para produção e distribuição de biocombustíveis avançados, a partir de 2025. A matéria-prima será o óleo de palma produzido no interior de Roraima (não aceito no mandato europeu).

A princípio, os projetos olham a exportação. Isso porque o país ainda não definiu uma política para incentivar a demanda e a produção do SAF.

O governo Lula (PT) vem dando continuidade aos estudos do Combustível do Futuro, programa criado pelo Ministério de Minas e Energia (MME) para propor políticas para o consumo de SAF pela aviação e outras medidas para descarbonização do transporte.

A proposta – fechada há um ano com apoio dos diferentes segmentos do mercado que participaram da elaboração – estabelecia aos operadores aéreos uma meta de redução das emissões de CO2 em 1%, no mínimo, a partir de 1º de janeiro de 2027, em voos domésticos, usando SAF misturado ao querosene fóssil.

A regulação para o mercado de biocombustíveis avançados no Brasil foi tema do antessala na semana passada, com Marcos Costa (Cooperação alemã GIZ e projeto H2Brasil) e Amanda Gondim (Rede Brasileira de Bioquerosene e Hidrocarbonetos Sustentáveis de Aviação — RBQAV). Assista no Youtube

Cobrimos por aqui:

Curtas

Apoio à transição

O CAF (banco de desenvolvimento da América Latina) e o Instituto das Américas (IOA, em inglês) assinaram na quarta (26/4) um acordo para desenvolver projetos que contribuam para acelerar a transição energética na região.

O escopo inclui descarbonização, mobilidade sustentável, integração regional, luta contra as mudanças climáticas, desenvolvimento urbano sustentável, comércio e inclusão econômica.

Eleições na Petrobras

A assembleia de acionistas da Petrobras elegeu nesta quinta (27/4), seis dos oito nomes indicados pelo governo Lula, entre eles os três secretários do Ministério de Minas e Energia (MME), indicados pelo ministro Alexandre Silveira (PSD), e Bruno Moretti, da Casa Civil.

O secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, Pietro Mendes, vai presidir o conselho de administração (CA) da Petrobras, como indicado pela União e confirmado pela assembleia.

Renováveis no alumínio

A Atlas Renewable Energy fechou um PPA com a Albras, maior produtora de alumínio primário do Brasil, para fornecimento de energia de baixo carbono por 21 anos. O contrato em dólares americanos é o maior PPA já assinado na América Latina.

A energia virá do projeto fotovoltaico Vista Alegre, com início de operação previsto para 2025. Localizado em Minas Gerais, o projeto 902 MWp, irá gerar aproximadamente 2TWh/ano e evitar a emissão de 154 mil toneladas de CO2 por ano – o equivalente a tirar mais de 61,8 mil carros das ruas.

PPP de iluminação

Parceria entre a Engie e a operadora de telecomunicação TIM vai levar a tecnologia de iluminação inteligente para Curitiba, com a promessa de uma redução de 33% no consumo de energia do município.

O contrato de parceria público privada (PPP) entre a Engie e a Prefeitura municipal foi anunciado no final de março, e prevê operação, manutenção e expansão da infraestrutura de iluminação da cidade por 23 anos.

Scania testa ônibus elétrico na Unesp

Pesquisadores da Faculdade de Engenharia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), do Campus de Ilha Solteira (SP), vão testar um veículo 100% elétrico sob condições de alta temperatura, além de desenvolver ferramentas de análises e modelagens computacionais.

O ônibus chegou ao Brasil no fim de 2021 para operar na fábrica da Scania em São Bernardo do Campo (SP), exclusivamente para o transporte interno de colaboradores. E há seis meses começou a ser estudado pelos pesquisadores da graduação e pós-graduação da Unesp. O projeto terá duração de 12 meses.