RIO – Dona do Complexo Termelétrico Jorge Lacerda (740 MW), em Santa Catarina, a Diamante Energia terá de se preparar para o fim das operações do ativo, após 2040, e aposta na captura e armazenagem de carbono (CCS) e no gás natural como vetores de sua estratégia de transição. A companhia mira, ainda, oportunidades na indústria de fertilizantes nitrogenados — também inserido na cadeia de valor do gás.
A Diamante anunciou este mês a criação de uma joint venture com o grupo Nebras Power, subsidiária da Qatar Electricity & Water Company (QEWC), para investir R$ 5 bilhões em dois projetos de termelétricas a gás, em Santa Catarina. Em paralelo, a companhia investe em projetos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) em CCS.
O presidente da Diamante Geração de Energia, Pedro Litsek, acredita que a tecnologia CCS poderá ajudar a aumentar a vida útil da indústria do carvão, no contexto da transição energética para uma economia de baixo carbono.
“É claro, temos que pensar primeiro no planeta, mas se conseguirmos resolver o problema do carbono, deveríamos seguir utilizando esse combustível [carvão]”, afirmou o executivo ao epbr entrevista.
“Se conseguimos resolver isso (captura de carbono), temos um energético que é abundante, seguro, que cumpre o papel da segurança energética — que as térmicas têm cumprido com louvor. Emprega as pessoas e gera divisas para o país. Acho que não podemos deixar de pensar no carvão”, completou.
O Complexo Jorge Lacerda, comprado da Engie em 2021, é responsável por 25% da capacidade de geração instalada de Santa Catarina e por 20 mil empregos diretos e indiretos.
Apesar de não acreditar que a operação do ativo possa continuar após 2040, Litsek ressalta que o Brasil tem grandes reservas de carvão em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul e que elas não podem ser desperdiçadas.
Ele reconhece que a geração convencional a carvão como é feita hoje não deve continuar, mas acredita que tecnologias de CCS podem mudar a realidade da economia local.
Além dos projetos internos, a companhia também espera estreitar o diálogo com o setor de óleo e gás — que está mais avançado em pesquisas relacionadas à CCS.
Assista na íntegra Pedro Litsek, CEO da Diamante Geração de Energia, no epbr entrevista
Empresa estuda usina a gás com Nebras
Além de tecnologias de captura de carbono, a Diamante também olha para o gás natural na sua estratégia de transição.
A joint venture formada com a Nebras Power prevê dois novos projetos de termelétricas a gás, em Santa Catarina: a usina Norte Catarinense (600 MW), projeto adquirido da Engie; e uma nova unidade geradora de 440 MW, a ser implantada dentro do próprio Complexo Jorge Lacerda.
Litsek adiantou que a nova joint venture deverá se chamar Al Mass, que significa diamante em árabe.
“[UTE Norte Catarinense] É um projeto que está estrategicamente situado num ponto onde o terminal [de GNL da New Fortress Energy], que está acabando de ser construído, se conecta no gasoduto Bolívia-Brasil. Então, achamos que esse é um projeto que faz muito sentido”, explicou.
A localização estratégica do projeto permite à empresa abastecer a futura usina tanto com gás nacional quanto com gás boliviano e gás natural liquefeito (GNL).
O CEO da Diamante diz que a empresa não descarta, inclusive, a possibilidade de importar o GNL do Catar — um dos principais exportadores globais da commodity.
“A proximidade do terminal abre espaço para podermos discutir no Catar a possibilidade de trazermos gás do Catar. O Catar hoje é o maior exportador de gás do mundo (…) Estamos muito animados. Porque, primeiro, é um sócio importante. É um investimento do exterior no Brasil. Temos que incentivar a vinda de capital externo para o país”, disse.
A viabilidade dos projetos a gás está atrelada ao sucesso nos leilões de energia.
“Os leilões têm que ter as condições adequadas para que possamos botar esse projeto de pé. Mas é um projeto que está no nosso portfólio e tem tudo a ver com a transição energética justa”, afirmou.
De olho também nos fertilizantes
O executivo conta que também observa as movimentações do governo para aumentar a oferta de gás nacional no mercado doméstico — mote do programa Gás para Empregar, que promete ampliar a infraestrutura de escoamento e, assim, reduzir a reinjeção de gás nos campos offshore.
“Vemos com muito interesse, obviamente, uma oferta maior de gás nacional. Acho que faz todo o sentido que tenhamos mais gás para ser distribuído no Brasil. Essa seria também uma possibilidade. Estamos aguardando as diretrizes que vem do ministério”, disse Litsek.
Um dos pontos de atenção do novo programa federal é fomentar a produção nacional de fertilizantes, por meio do uso do gás como matéria-prima.
O CEO da Diamante conta que a companhia, sozinha e em parceria com a Nebras, tem olhado para vários outros projetos para além da geração térmica — inclusive a produção de fertilizantes.
“Andamos olhando muito ao longo do ano passado a possibilidade de produzir aqui no Complexo Jorge Lacerda sulfato de amônia (…) Estudamos isso bastante e acabamos colocando esse projeto um pouco em banho maria por conta do preço da amônia e do preço do sulfato de amônia”.
Segundo Litsek,nas condições atuais, o sulfato de amônia importado da China é mais competitivo
“Se as condições mudarem e isso for viável, teríamos condição de produzir uma quantidade interessante aqui desse fertilizante no complexo”, comentou.
Transição justa depende de novo contrato de energia
Sancionada em 2022, a Lei 14.229 implantou o Programa de Transição Energética Justa — que estende, até 2040, a operação do Complexo Termelétrico Jorge Lacerda — e garante, assim, que os municípios que vivem da exploração do carvão e da atividade termelétrica em Santa Catarina, bem como a própria companhia, preparem-se para abandonar o uso do carvão.
O projeto prevê uma série de ações, coordenadas por um comitê formado por agentes do governo e representantes da sociedade, para criar novas atividades econômicas para as 20 mil pessoas envolvidas na indústria do carvão — além de avançar na recuperação dos impactos ambientais da mineração.
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A transição também contempla a descarbonização gradual da própria atividade da Diamante. Litsek pontua que, para que isso ocorra, no entanto, o setor depende dos recursos oriundos dos novos contratos de comercialização da energia de Jorge Lacerda.
O Programa de Transição Energética Justa prevê que o Ministério de Minas e Energia (MME) deve assinar um contrato de compra de energia de reserva da usina a carvão, garantindo uma receita fixa suficiente para cobrir os custos associados à geração.
“Hoje, existe a falta de um elo que é vital para que isso [processo de transição] aconteça, que é justamente a assinatura do contrato de energia de reserva”, comentou Litsek.
“Esse contrato precisa ser assinado mais cedo do que tarde. Porque nós, como Jorge Lacerda, precisamos fazer investimentos. Para poder fazer com que essa usina tenha essa essa essa nova vida. Uma vida mais longa”, complementou.
O executivo também lembra dos investimentos necessários em toda a cadeia de produção, para abertura de novas minas e construção de novos trechos de ferrovia, por exemplo.
“Esses investimentos têm que acontecer. Já deveriam estar acontecendo. Mas em virtude de não termos ainda esse contrato assinado fica todo mundo meio em compasso de espera”, avaliou.
“Nós estamos prontos para assinar, tudo que a lei previa e que dependia de nós, já fizemos. Já pedimos a extensão da nossa outorga, nos colocamos à disposição do MME para manter a usina operacional durante esse período. Então, da nossa parte, estamos prontos para assinar amanhã”, concluiu.
Vantagens do carvão para geração segura
Em meio à pressão de ambientalistas contra a extensão de Jorge Lacerda, Litsek defende que a geração a carvão tem vantagens para o sistema. Ele cita a estabilidade dos custos operacionais, na comparação com a exposição das usinas a gás natural importado aos preços internacionais da molécula, por exemplo.
“Aqui no complexo Jorge Lacerda você tem um preço em reais fixos reajustado pelo IPCA”, comentou.
O executivo também chamou a atenção para o papel do carvão no abastecimento de energia do país, principalmente em momentos de crise como em 2021, quando o Brasil sofreu com a falta de chuvas — o que reduziu os reservatórios das hidrelétricas.
“Em 2021, esse complexo aqui junto com as demais térmicas do Brasil foi a responsável por não termos um colapso (…) O Brasil precisa dessas técnicas, o Brasil se não tiver uma geração firme, que possa fazer frente às intermitências naturais da geração renovável, certamente terá problemas”, avaliou.
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