RIO — A Petrobras anunciou, na semana passada, que estuda mudar — novamente — o escopo do Polo Gaslub (ex-Comperj), para produzir produtos petroquímicos de segunda geração.
É mais um episódio das idas e vindas do antigo projeto do Comperj — concebido justamente como um polo petroquímico, mas que é hoje algo bem diferente de tudo o que se planejou originalmente, ainda nos anos 2000, no segundo governo Lula.
O que você precisa saber:
- A petroleira está construindo em Itaboraí, atualmente, um polo para processamento do gás do pré-sal;
- A companhia investe num projeto de produção de lubrificantes interligado à refinaria Reduc (RJ);
- Em paralelo, a empresa tem planos de construir uma termelétrica a gás;
- Também anunciou a retomada dos investimentos em petroquímica;
- Pretende voltar a investir em refino, mas dessa vez para produção de biocombustíveis — o diesel verde;
- A Petrobras avalia até a venda de terrenos para indústrias interessadas em se instalar no local.
A seguir, a agência epbr apresenta os planos da Petrobras para o antigo Comperj e os diferentes estágios de maturidade de cada projeto:
O polo de gás natural
O projeto mais avançado do Polo Gaslub é o do Projeto Integrado Rota 3. A companhia prevê começar a operar em 2024 a unidade de processamento de gás natural (UPGN) de Itaboraí, que receberá o gás do pré-sal, escoado pelo gasoduto offshore Rota 3.
O polo Gaslub terá capacidade para 21 milhões de m³/dia de gás — e permitirá, assim, aumentar a oferta de gás nacional no mercado brasileiro.
A UPGN era para ter sido inaugurada em 2022, mas a petroleira teve problemas com a empresa responsável pelas obras (a Kerui/Método). O contrato acabou sendo rescindido e a Petrobras teve de recontratar os serviços com a Toyo Setal, com impactos no cronograma do projeto.
A produção de lubrificantes
Outro projeto previsto para o Gaslub é o de integração com a Refinaria Duque de Caxias (Reduc), para produção de combustíveis e lubrificantes.
No fim de 2022, a empresa aprovou o projeto de engenharia do empreendimento — que terá capacidade para produzir cerca de 12 mil barris/dia de óleos lubrificantes de Grupo II, de maior valor agregado.
A companhia alega que o projeto “permitirá o uso adequado e rentável de grande parte das instalações e unidades do antigo Comperj”.
A ideia é que cargas de gasóleo da Reduc sejam redirecionadas para equipamentos de conversão no polo Gaslub, para produção dos lubrificantes.
A decisão final de investimento e contratações para início das obras só serão sacramentadas após a conclusão dos estudos de engenharia básica. A operação do projeto de lubrificantes avançados do polo Gaslub está prevista para a partir de 2027, no atual planejamento estratégico da companhia.
Gaslub terá projeto mais modesto para combustíveis
Além dos lubrificantes, a integração Reduc-Gaslub viabilizará, segundo a Petrobras, o processamento de correntes intermediárias oriundas da refinaria de Duque de Caxias — eliminando, assim, restrições operacionais.
O projeto de integração contempla a produção de 75 mil barris/dia de diesel S-10 e 20 mil barris/dia de querosene de aviação (QAV-1), de baixo teor de enxofre.
Iniciativa bem mais modesta que a refinaria originalmente planejada para o Comperj. Inicialmente concebido como um complexo petroquímico, o empreendimento se tornou, posteriormente, num projeto de refino. O plano era construir dois trens de 165 mil barris/dia cada, mas o projeto foi abandonado.
A pá de cal veio em 2019, quando a Petrobras encerrou as negociações com a chinesa CNPC para retomada das obras da refinaria do complexo.
O tamanho do desperdício do Comperj é superlativo: a refinaria foi abandonada com mais de 80% das obras executadas e já tendo absorvido investimentos de mais de US$ 13 bilhões.
O Comperj acumula um histórico de erros de projeto, sobrecustos e corrupção e esteve nos holofotes das investigações da Lava Jato. Os desvios nas obras de terraplanagem do empreendimento foram, inclusive, a base da primeira condenação do ex-governador do Rio, Sérgio Cabral.
A construção da refinaria do Comperj foi interrompida em 2015, em meio aos desdobramentos da Lava Jato. Sem dinheiro em caixa para tocar o empreendimento, num momento em que as empreiteiras brasileiras entraram em crise, a Petrobras decidiu então que só retomaria as obras da refinaria se conseguisse uma sócia.
Foi nesse contexto, na gestão Pedro Parente, que a companhia iniciou as conversas com a CNPC. A Petrobras chegou a calcular em US$ 2,3 bilhões o custo para concluir a refinaria. Ao fim, encerrou as negociações com a chinesa por inviabilidade econômica.
Agora, Petrobras mira biorrefino no Gaslub
Em paralelo ao projeto de integração com a Reduc, a petroleira avalia a instalação de uma planta dedicada à produção de diesel renovável no polo Gaslub. A iniciativa está num estado mais inicial de estudos.
Sequer consta no atual planejamento estratégico 2023-2027. Na semana passada, o atual gerente executivo de Estratégia da Petrobras, Maurício Tolmasquim, disse que a empresa começou a revisão do plano estratégico quinquenal e vai divulgar ao fim do ano o novo planejamento para o período 2024-2028;
Indicado para a diretoria de Transição Energética e Energias Renováveis, ainda a ser formalmente criada, Tolmasquim afirmou que a transição energética “não era prioridade” para a Petrobras e que o desafio da companhia será “recuperar o tempo perdido”.
Segundo ele, a descarbonização dos produtos da empresa é um dos temas que devem ter mais espaço no novo plano.
Em artigo recente, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, defendeu que a companhia deve “aplicar a experiência e a excelência técnica da Petrobras no desenvolvimento de bioprodutos”. E citou os planos de converter as refinarias da empresa em “bio-petro-gás refinarias”, para processamento de “combustíveis de nova geração”.
Termelétrica a gás é para pós-2027
A instalação de uma termelétrica a gás no Gaslub também está nos planos da Petrobras. Depende, no entanto, do sucesso da empresa em contratar a unidade em leilões de energia.
Em 2019, o então presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, afirmou que a empresa estudaria uma parceria para construção de uma “grande usina termelétrica a gás natural” no antigo Comperj.
Naquele ano, a petroleira celebrou um Memorando de Entendimentos com a Equinor para estudarem projetos de geração térmica a gás em conjunto, bem como a viabilidade sobre ativos de processamento e escoamento de gás nas áreas do Terminal de Cabiúnas (Tecab), em Macaé, e do Comperj.
O atual planejamento estratégico da Petrobras cita a térmica a gás do Gaslub como um projeto para a partir de 2027.
Comperj virou até empreitada fundiária
Nas idas e vindas do projeto do antigo Comperj, a Petrobras decidiu, em 2022, colocar parte de seus terrenos à venda, em busca de empresas interessadas em se instalar na região.
A companhia abriu uma consulta formal ao mercado, para avaliar o interesse de empresas em adquirir terrenos de propriedade da companhia em Itaboraí — onde se encontram os esqueletos do projeto inacabado do complexo petroquímico.
Recebeu, ao todo, 13 manifestações de interesse.
A estatal possui 2,1 km² disponíveis para potencial negociação, de uma área total terraplanada com 3 km².
Assista na íntegra o episódio Novas ideias para o antigo Comperj, do antessala epbr
O governo do Rio de Janeiro estuda reduzir a alíquota de ICMS para indústrias gás-intensivas interessadas em se instalar no Gaslub, da Petrobras.
Mira o potencial de atração de projetos de fertilizantes e distribuição de gás natural em pequena escala no polo, por exemplo.