Gás Natural

Nasce um novo mercado: o comércio bilateral de gás entre produtores

Novos agentes do setor fecham acordos de compra e venda entre si, atrás de flexibilidade no portfólio

Gás natural vendido no Brasil pode ter novas especificações. Na imagem: Instalações metálicas do gasoduto Rota 3, sistema de escoamento de gás do pré-sal de campos operados pela Petrobras na Bacia de Santos (Foto: Agência Petrobras)
Instalações do gasoduto Rota 3: gás do pré-sal tem teores de hidrocarbonetos diferentes dos presentes no pós-sal, que basearam a atual regulação da ANP sobre especificações do energético (Foto: Agência Petrobras)

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EDIÇÃO APRESENTADA POR

Editada por André Ramalho
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PIPELINE Novos agentes do mercado começam a explorar o comércio bilateral de gás, atrás de flexibilidade para o portfólio. Solução promete dar mais liquidez ao setor e pode ajudar, no futuro, a amadurecer um mercado secundário.

Origem Energia espera aval para estocagem de gás e planeja também ampliação de UPGN em Alagoas. TAG mapeia demanda para plano de expansão. Comgás recebe 14 propostas de supridores e mais. Confira:

Nasce um novo mercado

A entrada de novos agentes começou a fomentar um novo tipo de negociação no mercado brasileiro de gás natural: o comércio bilateral de molécula entre os novos fornecedores.

Os produtores têm, aos poucos, apostado em acordos flexíveis de compra e venda com concorrentes — e nesse caso também parceiros — que lhes permitem ajustar seus respectivos portfólios de suprimento.

Trata-se de uma solução que promete dar mais liquidez ao mercado e que pode ajudar, no futuro, a amadurecer o desenvolvimento de um mercado secundário — o da revenda de gás, propriamente dito.

Aliás, fica o registro, o mercado secundário já dá seus primeiros passos: em Sergipe, a Proquigel, subsidiária da Unigel que opera as fábricas de fertilizantes arrendadas da Petrobras em Laranjeiras (SE) e Camaçari (BA), tem contratos de curto prazo com a Sergas, para revenda de volumes contratados no mercado livre e não consumidos pelas fafens.

O perfil do comércio bilateral de gás

Ao menos cinco produtores de gás nacional têm contratos bilaterais, hoje, de compra e venda no mercado brasileiro.

Repsol Sinopec chinesa CNOOC, duas das principais produtoras do pré-sal, por exemplo, têm contratos para venda de seus volumes para a Galp.

Diante das incertezas de um mercado ainda em formação, as vendedoras optaram por repassar a sua molécula para um outro comercializador, em vez de buscar, elas próprias, um contrato direto com alguma distribuidora ou consumidor livre no mercado.

Nesses casos, o gás é vendido com um desconto. A CNOOC, por exemplo, vendeu sua parcela de produção em Búzios, na Bacia de Santos, a 10,34% do Brent. Em contrapartida, o vendedor não assume os riscos inerentes à atividade de comercialização — embora também não colham os bônus do negócio, sem bem-sucedido.

Já a PetroReconcavo possui contratos de compra e venda com a ShellGalp e Origem Energia. São acordos de natureza flexível, isto é, sem volumes firmes definidos, que visam a dar mais flexibilidade comercial aos agentes.

Em geral, os volumes produzidos acima das demandas firmes contratadas são comercializados com os parceiros.

Em setembro de 2022, por exemplo, a PetroReconcavo chegou a comercializar cerca de 120 mil m3/dia com a Galp. Em outubro, os volumes ficaram em 95 mil m3/dia.

Por ter uma produção mais flexível — de gás não associado onshore — a PetroReconcavo figura como uma fonte interessante para produtores do gás associado do pré-sal — que têm menos espaço de manobra na gestão de seus volumes.

Mas não é uma via de mão única: os contratos também preveem a possibilidade de que a petroleira independente compre gás de seus parceiros.

Um adendo:

A comercialização de gás entre produtores não chega a ser novidade no mercado brasileiro, onde a Petrobras, por décadas, na figura de agente dominante, comprava o gás de seus sócios nos campos de produção a preços baixos, para revendê–los na costa.

A novidade, agora, é que as negociações envolvem os novos fornecedores do mercado, em acordos fora do universo Petrobras, dentro do contexto da abertura do mercado.

O termo de cessação de conduta (TCC) fechado com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), em 2019, começou a fechar o cerco contra essa prática, ao colocar limites nessa comercialização.

Foi aí que empresas como Shell, Galp e Equinor saíram em busca de clientes para seus volumes de produção, girando a roda do mercado.

Uma evolução natural

O analista sênior de gás e GNL da Wood Mackenzie, Henrique dos Anjos, destaca que o comércio bilateral de gás entre os novos agentes do setor é uma evolução natural da abertura do mercado.

“É uma questão de tempo para o mercado ficar mais líquido e surgirem soluções mais criativas de contratação”, disse.

Ele explica que esses tipos de acordo são úteis para que os fornecedores reduzam seus riscos no gerenciamento dos contratos de suprimento.

Anjos cita que esses agentes precisam de alternativas para não pagar multas em momentos de flutuações na oferta, por exemplo.

Da mesma forma, com o desenvolvimento do mercado livre, a tendência é que os consumidores comecem a explorar oportunidades no mercado secundário, para fugir de penalidades como o take-or-pay (volume mínimo de gás que deve ser retirado, para não pagamento de multas) em situações de paradas para manutenção de plantas industriais, por exemplo.

A expectativa, contudo, é que o mercado secundário se desenvolva, de fato, num momento mais avançado da abertura do setor — conforme surjam mais clientes livres e comercializadores e o mercado se torne, portanto, mais líquido, com mais opções de compradores e vendedores, de contratos mais flexíveis de transporte e importação e de serviços como o de estocagem.

GÁS NA SEMANA

— Direto de Maceió (AL), no estúdio epbr na Onshore Week 2023 —

Origem espera obter, nesta sexta, aval da ANP para estocagem. Companhia incluiu, no novo plano de desenvolvimento do campo de Pilar (AL), o seu projeto de estocagem subterrânea de gás. A autorização para o projeto será analisada pelo regulador, junto com a avaliação do PD. (epbr)

… e planeja ampliação da UPGN em 2024. O CEO da Origem, Luiz Felipe Coutinho, disse que a unidade de processamento de Pilar está chegando ao seu limite e não dará conta da curva de crescimento da produção prevista no Polo Alagoas. A UPGN possui capacidade de 1,8 milhão de m3/dia. (epbr)

“Eu não quero ser frete do meu gás”, diz governador de Sergipe. Fábio Mitidieri defende ampla discussão para mudar o modelo de precificação do gás no país. Ele enxerga a necessidade de uma política pública que reduza custos para o consumidor e ajude a manter o gás dentro dos próprios estados produtores. (epbr)

Mercado de gás ainda carece de novas leis, diz Laércio Oliveira. Relator da Lei do Gás na Câmara e um dos autores do projeto do Proescoar, senador sergipano pelo PP afirmou que o setor ainda carece de legislação — e não apenas regulação — para avançar mais em sua abertura. E defendeu que o país precisa investir em infraestrutura para o escoamento e, assim, reduzir a reinjeção e aumentar a oferta de gás (epbr).

Gás pode ser a redenção de Alagoas e do Nordeste, diz Paulo Dantas. Governador alagoano acredita que o gás natural, somado às energias renováveis, pode ajudar a desenvolver a economia regional. Alagoas está discutindo uma nova lei do gás estadual que terá, como objetivo, promover o livre mercado. (epbr)

TAG mapeia demanda por novos investimentos. Empresa lançou mapeamento da demanda para subsidiar o seu novo plano de expansão, não apenas de ampliação da rede, mas também de conexões de novos pontos de suprimento ou consumo e reforço do sistema. (epbr)

Comgás recebe 14 propostas em chamada pública. H2A Soluções Ambientais apresentou proposta para fornecimento direto de biometano a clientes da distribuidora no mercado livre. No ambiente regulado, a concessionária recebeu outras 13 propostas, 12 delas de gás natural. Previsão é que, até 31 de julho, os contratos negociados sejam enviados para a aprovação da Arsesp. Suprimento está previsto para começar a partir de 2024.

Compagas prorroga chamada pública para contratação de gás. Distribuidora paranaense adiou do dia 14 de abril para 2 de maio o prazo para recebimento de propostas. Empresa quer comprar 300 mil m³/dia a partir de 2024, de forma a complementar os contratos existentes, e até 50 mil m³/dia para o fornecimento ao Norte do Paraná.

Bayer aposta no gás e biometano para descarbonizar logística. Em 2022, a multinacional reduziu 843 toneladas de CO2 em suas operações, com a substituição de parte da frota a diesel por veículos movidos a GNV e/ou biometano, além de modelos elétricos. (epbr)

Orizon VR compra fatia em centro de tratamento de resíduos em MG. Empresa adquiriu, por R$ 25 milhões, 50% do Centro de Tratamentos de Resíduos Sólidos Santa Luzia — titular de um aterro sanitário situado na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Estratégia da companhia é ampliar, nos ativos comprados, o volume de resíduos sob gestão, para exploração de negócios como biogás e biometano.