Diálogos da Transição

Recém lançada, Floen quer dar escala a novas tecnologias de transição energética

Joint venture da Votorantim e com o CPP Investments apoiará negócios em hidrogênio verde, biocombustíveis avançados e bioprodutos

Recém lançada, Floen quer dar escala a novas tecnologias de transição energética
Andé Macedo e Raphaella Gomes - Floen

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Editada por Nayara Machado
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A Votorantim e o fundo de investimentos canadense CPP anunciaram em março a criação da Floen, uma joint venture para apoiar novos negócios nas áreas de transição energética e economia verde.

A empresa já nasce com 17 oportunidades de investimentos mapeadas, em diversas fases de discussão. E pretende aliviar uma dor de quem decide desenvolver projetos de inovação: aporte de capital para ganhar escala.

Em entrevista à agência epbr, a CEO da Floen, Raphaella Gomes, conta que cerca de 70% das tecnologias necessárias para descarbonização já estão em fase comercial. A dificuldade das empresas é conseguir aportes para aumentar a produção e tornar essas soluções viáveis economicamente.

“Queremos justamente apoiar empreendedores que tenham tecnologias testadas e comprovadas, e que precisam escalar para que isso seja ofertado de forma ampla, com custo adequado”.

O CPP já investe em transição energética globalmente e é sócio da Votorantim na Auren, uma plataforma de renováveis com portfólio de 2,5 GW médios.

Mas a proposta da Floen é mais abrangente e de longo prazo, explica Gomes, que foi diretora de transição energética e investimentos na Raízen, e CEO da Raízen Geo Biogás.

“Quando se fala em descarbonizar, é preciso substituir basicamente três coisas: a produção de eletricidade e calor, o transporte (carros, navios, aviões, trens etc.) e os materiais que hoje são derivados de petróleo”.

A joint venture pretende atuar nessas três frentes e aportar capital, know-how e governança em projetos que vão desde hidrogênio verde a novos produtos, passando também por biocombustíveis avançados.

A lista inclui bioplásticos, eficiência energética, armazenamento, gestão de carbono e combustíveis sustentáveis de aviação (SAF, na sigla em inglês), para dar alguns exemplos.

“Muita coisa está começando a maturar agora. O mercado está começando a apoiar o desenvolvimento tecnológico, a criar demanda. E tem um terceiro componente: a regulação”, explica André Macedo, diretor de Investimentos da Floen.

O executivo observa que a nova empresa está se posicionando para operar em um mercado que ainda vai “florescer”. E garante que a atuação será independente da dos seus acionistas, embora muitos dos projetos tenham potencial de ajudar a descarbonizar os negócios desses grupos.

Em um primeiro momento, o exercício será de apoio – seja por meio de investimentos, ou consultorias – a negócios já estruturados em algum nível. Mas não há restrições para que, futuramente, a Floen também desenvolva os projetos.

“Transição energética é um tema complexo. Nós temos que escalar soluções energéticas para todas as nossas necessidades e, naturalmente, não vai ter uma solução única. Por isso, a flexibilidade de priorizar empresas que já existem, mas a gente não tem limitação”, defende Gomes

“Pode existir algum setor específico que a gente entenda que ainda não tem solução desenvolvida e queira atuar para desenvolver”, completa.

Mercado de US$ 125 bilhões até 2040

Mapeamento da McKinsey aponta energia renovável, bioeconomia e mercado de carbono como as três áreas em que o Brasil pode assumir protagonismo na economia verde.

Apenas solar e eólica podem adicionar US$ 11 bilhões em 2040, com as fontes alcançando 47% do total da capacidade instalada até lá.

Some-se a isso a competitividade da geração renovável para produção de hidrogênio verde, e a consultoria calcula a criação de um mercado de US$ 20 bilhões.

O uso de biomassa é outra grande oportunidade, com expansão do uso de biocombustíveis para aviação ou substituição ao diesel; desenvolvimento da indústria de biometano; e aplicação da biomassa na produção de aço e outros processos de alta temperatura.

emprego de resíduos, como vinhaça de cana-de-açúcar, do óleo de soja e de cultivos especiais, como a macaúba (que pode ser cultivada em pastagens degradadas) promete movimentar até US$ 40 bilhões no período – sem colocar sua produção agrícola em risco.

Já o valor do mercado brasileiro de biometano pode atingir US$ 15 bilhões até 2040, aproveitando resíduos e subprodutos de quatro indústrias: cana-de-açúcar, pecuária, gado leiteiro, suinocultura, além de lixo e esgoto urbano.

Como substituta para o carvão, a adoção de biomassa na siderurgia e em outros processos que requerem aquecimento a altas temperaturas pode atingir de US$ 3 a 4 bilhões ainda em 2030.

Manter as florestas em pé também pode ser um bom negócio. Segundo a McKinsey, o Brasil tem cerca de 15% do potencial para abater ou sequestrar carbono da atmosfera usando soluções climáticas naturais.

Preservação e restauração de biomas e melhor captura de carbono no solo pela agricultura são iniciativas que podem ser estruturadas por meio de créditos voluntários de carbono e render US$ 35 bilhões em 2040.

Cobrimos por aqui:

Curtas

Hidrogênio no Japão

Japão planeja aumentar seu suprimento de hidrogênio para cerca de 12 milhões de toneladas até 2040 – seis vezes do nível atual. A administração do primeiro-ministro Fumio Kishida planeja gerar US$ 113 bilhões. O governo está revisando sua Estratégia Básica de Hidrogênio, formulada em 2017, e deve apresentar o novo texto até o final de maio. Japan Times

E no Rio Grande do Sul

Banrisul pretende disponibilizar linhas de crédito para projetos de energias renováveiscom foco na produção de hidrogênio verde no Rio Grande do Sul. A nova indústria pode acrescentar até R$ 62 bilhões ao PIB gaúcho, segundo levantamento do governo estadual.

“Iremos avançar em disponibilizar para os empreendedores linhas de crédito compatíveis com o retorno dos investimentos”, afirmou o presidente do banco, Cláudio Coutinho, na semana passada, durante um evento de negócios.

Polo do lítio em MG

Em Minas Gerais, a Comissão de Minas e Energia da Assembleia Legislativa (ALMG) deu parecer favorável ao PL 1.992/20, do deputado Doutor Jean Freire (PT), que cria o Polo Minerário e Industrial do Lítio nos Vales do Jequitinhonha e do Mucuri. A proposta segue para deliberação no plenário.

Lista Suja do Trabalho Escravo tem 289 empregadores

A atualização da lista do Ministério do Trabalho e Emprego, que acontece em abril e outubro de cada ano, trouxe 132 novos nomes nesta edição, maior atualização registrada desde 2017. Iniciada em 2004, com publicação semestral, a divulgação sofreu impasses nos governos de Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL). G1