Diálogos da Transição

Até 800 GW de energia nuclear nova podem ser necessários para net zero, diz relatório

McKinsey avalia que período de estagnação pode estar chegando ao fim, com a fonte emergindo como um componente-chave dos planos de descarbonização

Até 800 GW de energia nuclear nova podem ser necessários para net zero, diz relatório. Na imagem: Usina de energia nuclear (Foto: Pixabay)
Globalmente, há cerca de 178 GW de capacidade nuclear em construção ou planejada (Foto: Pixabay)

newsletter

Diálogos da Transição

APRESENTADA POR

Editada por Nayara Machado
[email protected]

Substituir combustíveis fósseis na geração de eletricidade por fontes de baixo carbono pode demandar de 400 a 800 gigawatts (GW) de energia nuclear nova até 2050, mostra um estudo da McKinsey, apontando para a necessidade de energia despachável.

Esse volume pode representar de 10 a 20% da futura demanda global de eletricidade, que deve triplicar até meados do século, com a eletrificação do transporte e processos industriais exigindo cada vez mais energia.

O cenário considera restrições potenciais na expansão de solar e eólica, como escassez de terra, matérias-primas e limitações de transmissão. E estima quanta geração adicional despachável e de baixo carbono será necessária para atingir as metas líquidas zero.

A energia nuclear — uma fonte de eletricidade comprovada de carbono zero — atualmente contribui com cerca de 10% da geração global de eletricidade, com 413 GW, de acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês).

No entanto, é cercada de controvérsias.

Nesta quinta (30/3), a União Europeia definiu que todos os países membros terão que gerar pelo menos 42,5% de energia de fontes renováveis até 2030, mas decidiu deixar de fora a geração de energia atômica, apesar dos apelos da França.

Alemanha e Áustria ganharam a briga argumentando que a inclusão dessa fonte prejudicaria a expansão de eólica e solar. O bloco decidiu então classificá-la como “de baixo carbono”. Valor

“Depois que a construção de novas usinas nucleares surgiu na Europa e na América do Norte nas décadas de 1960 e 1970, ela ficou relativamente estagnada globalmente, fora da China, Rússia e Coréia do Sul. A estagnação decorre de desafios de construção no Ocidente, percepções políticas e sociais em algumas regiões, e a transição geral para outras tecnologias limpas”, explica a McKinsey.

Novo momento

A estagnação pode estar chegando ao fim, com a fonte emergindo como um componente-chave dos planos de descarbonização.

No início do ano passado, a França anunciou a expansão da termeletricidade nuclear com a construção de seis novos reatores e possibilidade de acrescentar mais oito a essa conta — como estratégia para atingir a neutralidade de carbono em 2050.

Logo em seguida, o Reino Unido lançou um fundo de aproximadamente US$ 145 milhões para apoiar novos projetos.

Nos Estados Unidos, a Lei de Redução da Inflação (IRA, em inglês) fornece um crédito fiscal de investimento de até 50%, ou de produção de até US$ 30 por MWh, para os primeiros dez anos de operação da nova usina.

Globalmente, cerca de 178 GW de capacidade estão em construção ou planejados.

“Mas a indústria está em um impasse. Apesar do momento positivo pela primeira vez em mais de uma década, o risco de que a construção inicial ultrapasse o orçamento e o cronograma pode diminuir as chances de que a nova energia nuclear atinja todo o seu potencial no apoio à transição energética em escala”, observam os analistas.

Os desafios no curto prazo incluem novos financiamentostrabalhadores especializados para fabricação, construção e operação; licenciamentogovernança nos projetos (para reduzir a probabilidade de estouros de custo e cronograma); padronização dos projetos; e cadeia de suprimentos.

“Mesmo um cenário otimista provavelmente envolveria uma complexa rede global de políticas, além de níveis de custos desiguais, à medida que as tecnologias e a base industrial de apoio surgissem em diferentes cronogramas. No entanto, acreditamos que uma escala nuclear é alcançável”, completa.

Para aprofundar:

Justiça climática

A Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou na quarta (29/3) uma uma resolução para responsabilizar países que não cumprirem seus compromissos climáticos.

O documento foi apresentado pela nação insular Vanuatu, no Pacífico, atingida por dois ciclones consecutivos no início de março (G1), e se concentra nos impactos adversos das mudanças climáticas em pequenos Estados insulares em desenvolvimento.

Mais de 130 dos 193 Estados-membros da ONU concordaram com a proposição.

Na prática, é um pedido para que a Corte Internacional de Justiça (CIJ) determine se os governos têm “obrigações legais” de proteger as pessoas do aquecimento global e questiona se o descumprimento delas seria passível de “consequências legais“.

As opiniões não são vinculantes — ou seja, as nações não são obrigadas a segui-las –, mas ainda assim carregam simbolismo e influência. A conclusão pode ainda pavimentar caminho para transformar promessas voluntárias de redução de emissões, como as feitas no Acordo de Paris de 2015, em obrigações legais. Quem descumpri-las, portanto, poderia ficar passível de punições. O Globo

Gostou? Compartilhe no WhatsApp!

Curtas

42,5% renovável

A União Europeia chegou a um acordo para aumentar a participação da energia renovável para 42,5% até 2030 nos 27 países do bloco. Hoje, a média renovável da matriz é de 22%. Há, no entanto, uma grande variação entre países. Com a matriz mais limpa entre os 27, a Suécia tem 63% da energia fornecida por fontes renováveis, enquanto países como Luxemburgo, Malta, Holanda e Irlanda ficam com menos de 13%. Reuters

1,3 GW em turbinas

Esse é o conteúdo de um contrato que a geradora renovável Casa dos Ventos fechou com a dinamarquesa Vestas para instalação em dois novos complexos eólicos no Nordeste.

É o maior acordo comercial da Vestas no mundo para turbinas onshore e a maior aquisição de equipamentos de energia eólica registrada na América Latina. Os equipamentos são do modelo V150-4,5MW.

O Complexo Eólico Babilônia Centro, na Bahia, receberá 123 turbinas e terá 554 MW de capacidade instalada. Já o Complexo Eólico Serra do Tigre, no Rio Grande do Norte, terá 756 MW e contará com 168 turbinas. Os dois empreendimentos receberão investimento da ordem de R$ 9 bilhões.

60 dias

O presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, indicou um prazo de 60 dias para responder aos pedidos da Petrobras no licenciamento da campanha de perfuração do bloco FZA-M-59, na Foz do Amazonas.

A Petrobras tenta obter autorização para perfurar um poço pioneiro em águas profundas na bacia. A companhia diz estar pronta para iniciar os trabalhos em em abril. No momento, discute com o Ibama a estrutura de resposta a um eventual vazamento.

Quase lá

O governo do Reino Unido revelou na revisão de seu plano net zero divulgada hoje (30/3) que suas estratégias quantificadas de redução de emissões de CO2 fornecem apenas 92% da sua meta climática para 2030. O restante dependerá de  “políticas não quantificadas”, diz o relatório, indicando que a lacuna poderá ser preenchida por soluções como taxonomia verde e captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS). Argus

Chamada para startups de hidrogênio

O programa iH2Brasil está com inscrições abertas para a terceira edição do programa de aceleração de hidrogênio verde. A iniciativa é voltada para estudantes, pesquisadores, entusiastas e startups com soluções inovadoras em energias renováveis. O prazo vai até 27 de abril