Diálogos da Transição

Quem está de olho nas emissões da cadeia de suprimentos?

Menos da metade das empresas que divulgam ao CDP estão relatando quaisquer emissões de sua cadeia de suprimentos

Quem está de olho nas emissões da cadeia de suprimentos? Na imagem: Foto aérea de área preparada para monocultura ou pecuária, próxima a Porto Velho; em 07 de agosto de 2020 (Foto: Bruno Kelly/Amazônia Real)
Imagem aérea de área preparada para monocultura ou pecuária, próxima a Porto Velho (Foto: Bruno Kelly/Amazônia Real)

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Diálogos da Transição

Editada por Nayara Machado
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Lançado esta semana, relatório da cadeia de suprimentos de 2022 do CDP mostra que as empresas estão falhando em rastrear as emissões da cadeia de suprimentos.

Isso é um problema porque, até 2030, grandes empresas e instituições financeiras deverão avaliar e divulgar seus riscos, impactos e dependências da biodiversidade para cumprir um acordo feito na COP15, em dezembro passado.

E mais: a divulgação das emissões do Escopo 3 (que envolve a cadeia de suprimentos) pode ser exigida em breve na União Europeia, nos Estados Unidos e no International Sustainability Standards Board (ISSB) para divulgação financeira relacionada ao clima.

Mas, de acordo com o levantamento da organização de divulgação ambiental, menos da metade (41%) das empresas que divulgam ao CDP estão relatando quaisquer emissões de sua cadeia de suprimentos, apesar de seu impacto superar mais de 11 vezes as emissões diretas (Escopo 1).

Enquanto quase 70% relataram que não avaliaram o impacto de sua cadeia de valor na biodiversidade em 2022.

“A maioria das empresas ainda não reconheceu que deve enfrentar juntos seus impactos nas mudanças climáticas e na natureza na cadeia de suprimentos”, comenta o CDP.

O relatório mostra que a maioria está priorizando a divulgação do clima.

Entre as mais de 18.500 empresas (15 são brasileiras) que divulgaram ao CDP em 2022, mais de 7.000 relataram engajar seus fornecedores em mudanças climáticas, em comparação com 915 em água e pouco mais de 500 em florestas.

A taxa de engajamento das cadeias de suprimentos é muito maior nas empresas que divulgam sobre desmatamento, com 69% engajando fornecedores sobre o assunto, em comparação com 39% engajando sobre clima e 23% sobre água.

Além disso, uma em cada 10 empresas inclui requisitos relacionados ao clima em seus contratos com fornecedores, e isso também está acontecendo em certa medida com o desmatamento.

No entanto, a maioria desses requisitos ainda não está alinhada com a ciência climática de 1,5°C, com menos de 1% (0,04%) de todas as empresas exigindo que seus fornecedores estabeleçam metas baseadas na ciência.

Cobrimos por aqui:

Em tempo: a Comissão Europeia apresentou ontem (16/3) seu plano para garantir acesso a um abastecimento “seguro, diversificado, acessível e sustentável de matérias-primas essenciais”.

É a estratégia para enfrentar a Lei de Redução da Inflação dos EUA e a China na corrida por uma indústria verde, que demandará milhões de toneladas de minerais críticos, como lítio e cobre.

E se antecipar a questões geopolíticas, já que o bloco depende fortemente de importações, muitas vezes, monopolizadas – a Comissão disse que haverá um teto de 65% para qualquer matéria-prima vinda de um único país fora da UE.

Segundo a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o novo regulamento melhora significativamente o refino, processamento e reciclagem de matérias-primas críticas dentro da Europa.

Uma das metas é extrair, na região, 10% das matérias-primas críticas que consome e reciclar mais 15%. Também pretende aumentar o processamento para 40% de suas necessidades até 2030

A lei prevê acesso a financiamento e prazos de licenciamento mais curtos (24 meses para licenças de extração e 12 meses para licenças de processamento e reciclagem). Estados-membros terão também de desenvolver programas nacionais de exploração dos recursos geológicos. Veja o regulamento

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Curtas

Brasil aumenta mistura de biodiesel

O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) decidiu nesta sexta (17/3) elevar o percentual de biodiesel no diesel para 12% a partir de abril. A medida pretende reduzir emissões e amenizar a ociosidade do setor, hoje em cerca de 50%. O governo também definiu um cronograma de evolução da mistura até 2026.

Nos EUA

Produtores planejam dobrar oferta de biocombustíveis para descarbonizar transporte pesado até 2030. Estimativas da Clean Fuels America Alliance apontam que a produção anual de biodiesel, diesel renovável e combustível de aviação sustentável (SAF, na sigla em inglês) pode alcançar 22,8 bilhões de litros até o fim da década.

Incentivo solar no Pará

Governo do Pará e Absolar discutem um programa para ampliar o uso de energia solar fotovoltaica na região. Em encontro com o governador Helder Barbalho, esta semana, a associação propôs uma política estadual com incentivos tributários, acesso facilitado a linhas de crédito, simplificação do licenciamento ambiental e incorporação de sistemas fotovoltaicos em novos prédios públicos e casas populares, entre outras ações.

Atualmente, a geração própria solar no Pará abrange mais de 51,2 mil consumidores, com mais de 44,7 mil sistemas instalados em telhados, fachadas e pequenos terrenos, espalhadas por 142 dos 144 municípios paraenses.

De olho na exportação de hidrogênio

A SAP fechou uma parceria com a Agência de Desenvolvimento Alemã (GIZ) para ajudar empresas brasileiras a exportarem hidrogênio verde para a Alemanha, com certificado de sustentabilidade. A SAP fornece o GreenToken, que utiliza blockchain para coletar as informações de origem da matéria-prima.

E para encerrar a semana…

Indústrias de cerveja apostam em eólica e solar para zerar emissões de CO2. Segundo o Sindicerv, quatro cervejarias brasileiras já operam 100% com energia limpa. O setor está investindo na diversidade da matriz energética para descarbonizar a cadeia produtiva.

Artigos da semana

— CERAWeek: O que foi debatido na maior conferência global de energia? Clarissa Lins compartilha impressões sobre os principais temas abordados na conferência nos EUA, este mês

— Descarbonização – não há tempo a perder Carlos Peixoto escreve como, ao longo da história, exigências da vida civilizada demandaram intervenções regulatórias e pesados investimentos públicos

— A escolha que o Brasil precisa fazer É momento de a sociedade escolher o combustível que viabiliza, além de benefícios à qualidade de vida, vantagens econômicas e ambientais, escreve Donizete Tokarski

— O biodiesel é inflacionário? Superada a forte pressão inflacionária dos óleos vegetais no mundo, cabe reavaliar os efeitos do biodiesel sobre os preços dos combustíveis, escrevem André Nassar Daniel Amaral

— Nova Lei das Licitações e atraso no licenciamento ambiental: reequilíbrio ou extinção dos contratos Nova legislação não deixa margem para entendimento discricionário e garante reequilíbrio contratual em caso de atrasos no licenciamento, analisam Luciana Gil, Patrícia Mendanha Dias e Luciana Maciel

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