Diálogos da Transição

Para onde vão os investimentos climáticos?

Investimentos privados em negócios de transição estão acelerando, apesar das crises geopolíticas, mostra análise da McKinsey

Divergências ameaçam negociações da COP27 Na imagem: projeção do planeta Terra em telão durante cerimônia de abertura da COP27 (Foto: Kiara Worth/UNFCCC)
“O mundo está assistindo e tem uma mensagem simples: levante e entregue” disse António Guterres na COP27 (Foto: Kiara Worth/UNFCCC)

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Diálogos da Transição

Editada por Nayara Machado
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Em sua tradicional carta anual ao mercado, o CEO da BlackRock, Laurence Fink, disse nesta quarta (15/3) que os investidores precisam considerar, no longo prazo, como a transição energética afetará os preços dos ativos e o desempenho do investimento.

“Há anos, vemos o risco climático como um risco de investimento. Ainda é assim”, reconhece em uma carta combinada a acionistas e empresários.

Com cerca de US$ 8,6 trilhões sob gestão, a BlackRock é a maior administradora de ativos do mundo e, na carta do ano passado, chegou a dizer que apoiaria menos propostas climáticas na temporada de assembleias de acionistas.

Este ano, o tom mudou um pouco.

Em um trecho dedicado à transição energética, Fink reconhece os efeitos das mudanças climáticas sobre a economia, com destaque para o mercado de seguros, que em 2022 precisou cobrir US$ 120 bilhões para catástrofes naturais — “uma cifra antes impensável”.

Por outro lado, mantém um tom ponderado em relação aos investimentos, afirmando que a transição para uma economia de baixo carbono é uma prioridade “para muitos” dos seus clientes, e que a instituição tem opções para todos, inclusive aqueles que não estão interessados nessa agenda.

A carta sinaliza apoio às indústrias de óleo e gás, que “desempenharão um papel vital no atendimento às demandas globais de energia”, ao mesmo tempo em que vê a Lei de Redução da Inflação dos EUA (IRA) criando “oportunidades significativas” para os investidores alocarem capital para a transição energética.

Está acontecendo

Os investimentos privados em negócios de transição estão acelerando, apesar das crises geopolíticas que balançaram outros mercados, mas o ritmo ainda está abaixo do ideal, mostra uma análise da McKinsey.

De 2019 até o final de 2022, investidores de ações do mercado privado triplicaram os ativos relacionados a sustentabilidade ambiental, social e governança (ESG), passando de US$ 90 bilhões para mais de US$ 270 bilhões.

O ímpeto parece prestes a continuar em 2023, à medida que governos, corporações e investidores aceleram cada vez mais a implantação de tecnologias climáticas”, analisam os especialistas em Energia, Investimento e Sustentabilidade da McKinsey.

Como exemplos, citam o IRA nos Estados Unidos, que aloca mais de US$ 370 bilhões em financiamento para mitigar as mudanças climáticas, e o Green Deal europeu que pode dedicar mais de 1 trilhão de euros em fundos públicos e privados para economia de baixo carbono.

“A tecnologia climática está recebendo um impulso adicional de programas governamentais sem precedentes, nos Estados Unidos e na Europa, que irão liberar uma enxurrada de capital para emissões líquidas zero até 2050”, dizem os analistas.

O destino do dinheiro

Energia foi a maior destinatária dos investimentos de capital orientados para o clima, absorvendo cerca de 50% do volume implantado de 2019 a 2022, aponta a McKinsey.

Neste subsetor, o capital mais que dobrou, de US$ 40 bilhões para US$ 100 bilhões, impulsionado por projetos renováveis ​​em larga escala.

transporte ficou em segundo lugar, com aumento de 370% durante o período, de US$ 6 bilhões para US$ 30 bilhões. Aqui, a bola da vez é o mercado de veículos elétricos.

Projetos de hidrogênio e gestão de carbono – as duas tecnologias emergentes da moda – receberam, cada, 3% do total de investimentos de capital do mercado privado com foco no clima em 2022.

Pode parecer pouco, mas foram os que registraram o crescimento mais significativo nos fluxos de investimento desde 2019: 460% para o hidrogênio (de menos de US$ 1 bilhão a US$ 5 bilhões) e 1.400% para carbono (de menos de US$ 500 milhões para US$ 7 bilhões).

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Por falar em capital climático…

O enviado especial das Nações Unidas para Ação Climática e Finanças, Mark Carney, disse nesta quarta que é improvável que o colapso do Silicon Valley Bank (SVB) tenha um impacto “material” na disponibilidade de capital para tecnologias relacionadas ao clima.

Sediado na Califórnia, o banco focado em empréstimos para empresas de tecnologia foi fechado pelos reguladores financeiros dos EUA na sexta (10). O colapso do banco levantou preocupações sobre o acesso de startups de tecnologia ao financiamento. Reuters

Enquanto isso, um relatório da Market Forces alerta que os cinco maiores fundos de pensão da Austrália não estão fazendo o suficiente para levar as empresas de combustíveis fósseis à descarbonização, e diz que seus compromissos ambientais podem equivaler a greenwashing.

O relatório surge no momento em que o órgão fiscalizador corporativo lança um caso histórico de greenwashing contra a Mercer Super e adverte que estava investigando “vários” outros superfundos por suposta má conduta semelhante. AFR

Curtas

Governo discute percentual de biodiesel

O ministro dos Transportes, Renan Filho, defendeu na terça (14) que o aumento do percentual de biodiesel na mistura obrigatória com o diesel “é o melhor caminho para o Brasil”. Ele disse, contudo, que o assunto ainda precisa passar por debate dentro do governo e ser conversado com o presidente Lula (PT).

A expectativa é que o tema entre na pauta da próxima reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), prevista para sexta-feira (17) – e que a mistura obrigatória de biodiesel seja gradualmente elevada, primeiramente para 12%.

Eletropostos

A Raízen inaugurou nesta quarta (15/3) um eletroposto do programa de eletromobilidade Shell Recharge no ABC Paulista, em Santo André, no Posto Automan. A nova estação conta com um carregador de 50 kW com um plugue CCS2 e um ChadeMo, que podem recarregar carros elétricos em aproximadamente 35 minutos com energia de fonte renovável.

Este ano a companhia também entregou duas estações de recarga elétrica em parceria com a Zarp Localiza e outras empresas nos supermercados Carrefour Giovanni Gronchi e Imigrantes, ambos na cidade de São Paulo. Os lounges contam com dois carregadores rápidos de 24 kW a 30 kW de potência.

Green bonds

A Atiaia Renováveis, empresa de geração e comercialização do Grupo Cornélio Brennand, concluiu na terça (14) sua primeira emissão de debêntures verdes, no valor de R$ 120 milhões, para investimentos em novos parques de energias renováveis, incluindo alguns que já estão em construção. A operação foi relaizada por meio de sua subsidiária Rio Verde Energia e em parceria com o Bradesco BBI.

Inovação, substantivo feminino

Único hub de inovação presidido por uma mulher negra no Brasil, o Órbi Conecta realiza em Belo Horizonte (MG), nos dias 28 e 29 de março, uma série de workshops e mentorias gratuitas com mulheres que são referência em negócios, carreira, finanças e tecnologia. O evento é pautado na Agenda 2030 da ONU e seus Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Inscrições no link

Aeroportos reduzem emissões

Quase 400 aeroportos participantes do programa Airport Carbon Accreditation da ACI World reduziram juntos 8,1% de suas emissões de carbono, cerca de 550 mil toneladas no período de maio de 2021 a maio de 2022. Outras 899 mil toneladas de CO2 foram compensadas com créditos de carbono. Segundo a ACI, em maio de 2022 havia 395 aeroportos em 79 países envolvidos no programa.