RIO – O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, assumiu o comando da empresa prometendo fortalecer a presença da companhia no Nordeste. A petroleira está reavaliando a venda de ativos de óleo e gás na região, ao mesmo tempo em que quer fazer do Nordeste um polo importante de investimentos em transição energética.
Em suas primeiras agendas como CEO da Petrobras, Prates já fez viagens ao Rio Grande do Norte – reduto eleitoral do ex-senador – e à Bahia, berço histórico da produção de petróleo do Brasil.
O discurso se opõe à estratégia da Petrobras durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), de reduzir, radicalmente, a sua presença na região.
Em 2019, o então presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, chegou a afirmar que a empresa seria, em 2022, uma companhia essencialmente concentrada nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo, no Sudeste. E que o Nordeste se tornou “irrelevante” para a empresa.
Relembre: As bases da estratégia de redução da dívida da Petrobras, por meio de um plano robusto de venda de ativos, foram traçadas ainda no governo Dilma Rousseff, na gestão Aldemir Bendine. Esse direcionamento ganhou tração nas administrações de Pedro Parente e Ivan Monteiro, no governo Michel Temer, e foi acelerado por Roberto Castello Branco, no mandato de Jair Bolsonaro.
Foi com Castello Branco que a Petrobras intensificou a venda de ativos, com o objetivo estratégico de focar na produção de óleo e gás no pré-sal. O executivo prometeu se desfazer de todas as refinarias fora do eixo Rio-São Paulo e de todos os campos terrestres e em águas rasas da petroleira – localizados, sobretudo, no Nordeste.
Petrobras reduz tamanho no Nordeste
Sair totalmente da região, porém, nunca foi parte do plano da Petrobras – que, mesmo prometendo vender a maior parte de seus ativos no Nordeste, manteve no planejamento investimentos na produção de óleo e gás em águas profundas de Sergipe e na exploração na margem equatorial.
Inegavelmente, contudo, a Petrobras enxugou sua carteira de ativos no Nordeste. Vendeu:
- a maioria de seus campos maduros;
- a Refinaria Landulpho Alves (BA);
- a sua malha de gasodutos, operada pela Transportadora Associada de Gás (TAG);
- e saiu do capital de todas as distribuidoras estaduais de gás, a partir da alienação da Gaspetro.
O PT volta ao poder, em 2023, com uma Petrobras mais enxuta.
Renováveis e margem equatorial trazem novas perspectivas
Agora, Prates promete trazer o Nordeste de volta ao mapa de investimentos da petroleira.
O novo presidente da Petrobras destaca que a transição energética e a exploração da margem equatorial abrem novas perspectivas para a companhia na região.
“Tem muita coisa para fazer no Rio Grande do Norte, que não necessariamente o Polo Potiguar”, disse, a jornalistas, no dia 2 de março, ao comentar especificamente sobre o futuro da venda do Polo Potiguar.
Ele citou as oportunidades do estado de abrigar atividades de eólica offshore, além da campanha de exploração prevista pela companhia para avaliação da descoberta de Pitu, em águas profundas na Bacia Potiguar.
Por ora, nada ainda muito novo, de concreto, em relação às diretrizes previstas no plano de negócios da companhia, concebido nas gestões passadas.
Prates diz que Petrobras fica na Bahia
Esta semana, o presidente da Petrobras prometeu retomar investimentos na Bahia.
Após encontro com trabalhadores e sindicalistas e com o governador baiano, Jerônimo Rodrigues, em Salvador (BA), nos últimos dois dias, Jean Paul Prates garantiu que a companhia está tomando “todas as providências necessárias para a retomada da produção do Polo Bahia Terra até o mês de abril”.
O polo, à venda, teve a operação paralisada a pedido da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), no fim de 2022, por problemas de segurança na operação.
“Já anunciamos recentemente que vamos incluir no novo Plano Estratégico da companhia o retorno das atividades no Polo Bahia, com a retomada das operações, novos investimentos e o fortalecimento de outras matrizes”, afirmou Prates, em nota.
A Federação Única dos Petroleiros (FUP), parte da base de apoio o governo, pressiona a nova gestão da companhia a suspender a venda de ativos. Pede investigação da alienação da RLAM para o fundo Mubadala e defende a recompra da unidade – além da rescisão do contrato de arrendamento das fábricas de fertilizantes para a Unigel.
A Petrobras ainda mantém ativos ainda à venda no Nordeste, mas a suspensão dos desinvestimentos por 90 dias, pedida pelo Ministério de Minas e Energia, traz incertezas sobre a continuidade das negociações.
Ontem, a Petrobras informou que continua “em fase de negociação” do Polo Bahia Terra com PetroRecôncavo e Eneva, e que “não foi tomada qualquer decisão” pela diretoria executiva e o conselho de administração da companhia sobre os ativos. O anúncio ocorre após Prates garantir a retomada de investimentos no Polo Bahia.
Petrobras está revendo desinvestimentos
No início do mês, ao comentar sobre um possível recuo na venda do Polo Potiguar, Prates disse que não se tratar de desfazer contratos e que “aquilo que já foi vendido ninguém vai rever” – a empresa tem contrato assinado para alienação do ativo para a 3R Petroleum.
Ele afirmou, no entanto, que o pedido do MME dá a oportunidade para que a empresa reveja alguns conceitos.
Há, por exemplo, uma série de ativos colocados à venda pela empresa cujas negociações não avançaram nos últimos anos e que poderão, agora, ser reavaliados. Casos:
- da Refinaria Abreu e Lima (Rnest);
- das termelétricas a óleo combustível em Pernambuco;
- e campos em águas rasas no Ceará e Sergipe-Alagoas.