Tecnocrata, meritocracia, tecnicismo. Essas palavras foram usadas muitas vezes no Brasil para criar uma separação entre o que seria uma atuação técnica de uma atuação política. Essa aparente dicotomia afastou algumas lideranças, reconhecidas ou não, das discussões políticas.
O mito da meritocracia, do tecnicismo quase religioso, como se as visões políticas ou sociais tivessem desconectadas da economia real e do mundo, parece estar perdendo força.
Vemos agora uma oportunidade de uma reconciliação dessas visões, com a compreensão que aqueles perfis transformadores, quase revolucionários, são os perfis que fazem a coisa andar e que transitam entre o técnico e o político.
A política não pode estar desconectada da visão técnica, como já aconteceu em vários momentos no setor de energia, a exemplo das térmicas-jabutis.
Mas, ao mesmo tempo, o mundo técnico não pode estar afastado da política, da sensibilidade social e ambiental. É o que se vê hoje em grande parte do mundo dito civilizado, com as bandeiras de ESG, com a nova realidade energética e a questão climática.
Um exemplo disso é o ex-senador Jean Paul Prates, que acaba de ser confirmado como novo presidente da Petrobras. O conhecimento do mundo político e a capacidade de traduzir os ambientes político e técnico a partir de duas visões representa uma oportunidade de contribuição para o setor de energia. Especialmente para a indústria, no encontro competitivo para que o gás alavanque o crescimento da indústria nacional.
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Outro exemplo, Luiz Eduardo Barata, técnico com profundo conhecimento do Operador Nacional do Sistema, ex-secretário executivo do Ministério de Minas e Energia e diretor da CCEE.
Técnico que agora tem também um papel político ao liderar a Frente Nacional dos Consumidores de Energia e o Instituto dos Consumidores de Energia (Icen). Uma voz a mais dos consumidores, principalmente dos pequenos, no debate político-técnico de tema tão relevantes para o país.
São muitos os “Baratas” e “Jeans Pauls” do setor que dialogam, transitam e traduzem para a sociedade temas complexos. Eles têm o papel e a capacidade de convergir o mundo político e técnico e essa convergência, junto com diversas correntes políticas, pode fazer o país avançar e aproveitar essa enorme oportunidade de o Brasil liderar a transição energética com sabedoria.
Esse é o processo que está conduzindo uma onda transformadora no relacionamento institucional, justamente a atividade que precisa transitar entre esses dois ambientes. Um RI sem uma base técnica sólida é vazio. Ao mesmo tempo, o tecnicismo, mesmo que profundo, sem diálogo, sem ouvir o outro, sem encontrar soluções possíveis também não é efetivo.
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