BRASÍLIA — A empresa brasileira de biotecnologia GranBio receberá um subsídio de US$ 80 milhões do governo dos Estados Unidos para acelerar a produção de combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês) em território estadunidense. O montante será destinado à instalação de uma planta com capacidade produtiva de 1,5 milhão de galões de SAF ao ano.
A unidade de escala de demonstração será alimentada com chips de madeira e resíduos de cana-de-açúcar e terá investimento total de cerca de US$ 220 milhões, além dos recursos de capital próprio e de outros interessados no projeto.
A companhia foi selecionada para desenvolver a tecnologia de biorrefinaria AVAP na fabricação do biocombustível.
Segundo a GranBio, a técnica adotada produz açúcares lignocelulósicos puros, de alto rendimento e baixo custo, provenientes de biomassa, para a conversão em produtos bioquímicos e biocombustíveis. A empresa possui mais de 300 patentes globais registradas.
O orçamento faz parte do programa SAF Grand Challenge Roadmap, do Departamento de Energia (DoE) dos EUA, em parceria com o Departamento de Transporte (DoT) e o Departamento de Agricultura (USDA), criado para impulsionar projetos de ampliação de novas tecnologias de produção de SAF em escala comercial.
Em setembro do ano passado, o DoE lançou um roteiro para o SAF com a finalidade de atender 100% da demanda de combustível de aviação doméstica com o biocombustível até 2050. A iniciativa foi incluída no pacote de emissões líquidas zero do governo Biden, que destina US$ 369 bilhões para apoiar a transição energética do país.
Somente nos EUA, a aviação comercial consome aproximadamente 10% de toda a energia de transporte e contribui com 2% das emissões de dióxido de carbono (CO2) nacionais.
Para o CEO da GranBio, Bernardo Gradin, o reconhecimento da pasta de Energia irá endossar a tecnologia.
“O recurso é muito significativo, mas é ainda mais relevante o sinal de que essa solução é uma das escolhidas pelo governo americano para acelerar a viabilidade do SAF em escala comercial”, disse.
Além de um centro de pesquisa aplicada nos Estados Unidos, a GranBio possui três plantas-piloto e, agora, uma unidade em escala de demonstração.
A empresa também opera a maior planta de etanol de segunda geração do mundo, com tecnologia própria. Localizada em Alagoas, a usina desenvolve tecnologias limpas a partir de diversas variedades de biomassa, como bagaço de cana, resíduos de madeira, bagaço de fruta, palhas de arroz e milho.
Biorrefino com cana-de-açúcar
Em 2022, a GranBio e a australiana Nuseed firmaram uma parceria de pesquisa e desenvolvimento (P&D) para acelerar a aplicação em larga escala da cana-de-açúcar na geração de energia.
O acordo inclui a aquisição de ativos comerciais e de melhoramento de cana-energia da GranBio pela Nuseed.
Aproveitando a demanda mundial por biocombustíveis como etanol de segunda geração e SAF, a iniciativa busca impulsionar os investimentos em biorrefinarias. A expectativa é que os projetos produzam o equivalente a 100 milhões de galões de SAF a partir de 2028, através de áreas de 50 mil hectares de cana-energia.
SAF na transição
O combustível sustentável de aviação é produzido a partir de resíduos, óleos vegetais e biomassa, entre outras fontes não-fósseis, e está no topo da lista de ações para descarbonizar o setor. Quando comparado com o querosene de petróleo, por exemplo, o SAF reduz as emissões de CO2 em até 85%.
A estimativa é de que, sem a transição energética no setor, a aviação civil pode responder por 22% das emissões globais em 2050.
Quanto à produção de SAF, a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA, na sigla em inglês) projeta 30 bilhões de litros para 2023 e cerca de 450 bilhões de litros em 2050.