O difícil caminho percorrido pela Petrobras desde a posse de Pedro Parente em 2016 até o momento permitiu que a empresa se desenvolvesse em sua estratégia e governança.
A mudança de rumo prevista com o início do novo governo em Janeiro, caso seja desenhada com visão técnica e sem contaminação política, pode se somar aos objetivos traçados e refletidos em seu Plano Estratégico 2023 – 2027.
Algumas pontes podem ser construídas para esta transição na empresa. A opção por soluções de energia com o objetivo de realizar a transição energética, assim como compromissos ambientais, sempre estiveram presentes no planejamento da Petrobras.
Reforçar projetos já avaliados em energia eólica, hidrogênio, captura de carbono e biorefino, suportados pela geração de caixa da empresa, mantém o bom alinhamento ao planejamento da empresa, evita descontinuidades e atende aos anseios do novo governo.
Um segundo ponto importante, o desinvestimento em ativos, também exigirá uma análise mais próxima. Avançar no programa de venda de campos maduros não afeta os anseios do novo governo.
O programa demonstrou sua eficiência através da recuperação da produção destes campos por novos agentes com tecnologia especializada para este tipo de operação.
Do total de 183 ativos incluídos no desinvestimento, 124 foram vendidos e a expectativa é que haja um crescimento de 30% sobre a produção esperada destes campos até 2025.
O resultado é geração de caixa para a empresa, geração de empregos diretos e indiretos e manutenção do recolhimento de participações para União, Estados e Municípios.
A venda de refinarias, no exemplo que temos atualmente significou aumento da produção nacional, atingindo percentual de utilização superior aos praticados pela Petrobras nos últimos 5 anos.
Ou seja, o investimento em aumento de capacidade de produção, reduzindo a exposição à importação, também alvo do novo governo poderia ser mais facilmente atingido havendo diferentes agentes investindo ao mesmo tempo.
Deve-se considerar também que a Petrobras manterá 50% da capacidade de refino, com ampliação de produção, anunciada em seu Plano Estratégico. Novamente temos geração de caixa para Petrobras e ampliação do número de empregos diretos e indiretos, na construção e ampliação de unidades nas refinarias brasileiras.
Claramente, pontos de discussão nesta transição, caso o foco seja o benefício da sociedade brasileira, poderiam ser conciliados com o Planejamento Estratégico atual da Petrobras, sem gerar descontinuidades prejudiciais ao país e à empresa.
A mediação ponderada destes fatores por lideranças técnicas do grupo de transição como Magda Chambriard e Mauricio Tolmasquim, pode permitir uma transição adequada e eficaz para a empresa e o mercado de petróleo e combustíveis.
Resta a questão de preços, mas como dita a Lei brasileira, a livre concorrência deve ser aplicada ao mercado de petróleo e combustíveis, portanto preços livres, sejam eles nacionais ou regionais.
Marcus D´Elia é sócio-diretor da Leggio Consultoria.
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