BRASÍLIA — A lista de países que assinaram Compromisso Global do Metano — lançado na COP26, em novembro passado –, chegou a mais de 150 nesta quinta (17/11) durante a 27ª conferência do clima da Organização das Nações Unidas (COP27), no Egito.
Segundo o grupo, 95% dos signatários incluíram ou vão incluir a questão em suas Contribuições Nacionais Determinadas (NDCs).
Além disso, 50 países desenvolveram planos nacionais de metano ou planejam fazê-lo até a COP28, em 2023, incluindo Brasil, Vietnã, Canadá, Finlândia, Suécia, Noruega, EUA e a UE.
A meta do grupo é reduzir as emissões antropogênicas de metano em pelo menos 30% até 2030 em relação aos níveis de 2020.
Embora a China não seja signatária do compromisso, seu enviado especial para a mudança climática, Xie Zhenhua, também apresentou a atualização dos planos de metano chineses.
Para limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C até 2100 e evitar pontos de inflexão de curto prazo, o mundo deve reduzir rapidamente as emissões de metano, além de descarbonizar o setor energético global.
Responsável por cerca de 30% do aumento da temperatura global desde a segunda metade do século 18, o metano é um gás de efeito estufa mais poderoso que o dióxido de carbono durante sua vida útil, apesar de se dissipar mais rápido.
Também nesta quinta, a iniciativa lançou caminhos para combater as emissões dos setores de resíduos e agricultura, com o roteiro para agricultura está focado na melhoria da eficiência da produção pecuária.
Apesar do aumento de adesão, especialistas alertam que falta um senso de urgência.
“Temos apenas alguns anos para dar à humanidade uma chance de permanecer dentro de um aumento de temperatura global de 1,5°C e não temos tempo para mais promessas ou declarações”, critica Kim O’Dowd, defensora da Environmental Investigation Agency.
Para Kim, a crise atual prova que não dá para esperar por outra cúpula climática para cumprir as promessas feitas em 2021.
“As negociações para um acordo global de metano têm que começar agora, com objetivos concretos e vinculativos, relatórios obrigatórios, monitoramento e verificação, planos de ação nacionais e apoio financeiro direcionado para garantir a implementação”.
O problema do gado e do lixo
“Os governos devem agir mais rapidamente para reduzir as emissões se quiserem cumprir a promessa. 2030 está a apenas oito anos de distância e a janela de oportunidade está se fechando. É fundamental enfrentar o problema do metano do gado”, comenta Nusa Urbancic, diretora de Campanhas da Changing Markets.
Segundo a executiva, apenas 15 empresas de carne e laticínios emitem mais metano do que a Rússia ou a Alemanha.
“Os governos precisam apoiar um afastamento da produção industrial em massa de gado – não depositar suas esperanças e nosso futuro em metas voluntárias líquidas zero que permitam a essas empresas continuar com os negócios como sempre”.
Também falta ação sobre o lixo.
Mariel Vilella, diretora do Global Climate Program Director at Global Alliance for Incinerator Alternatives (Gaia), explica que 20% de todas as emissões de metano vêm principalmente do lançamento de resíduos orgânicos em aterros sanitários.
“A solução mais simples, mais fácil e mais rápida não é a de fixar técnicas sofisticadas, mas de parar de colocar os resíduos orgânicos em aterros sanitários em primeiro lugar. Com as estratégias certas, podemos reduzir as emissões de metano no setor de resíduos em até 95% até 2030”.
Roteiro para o O&G
Em junho deste ano, Estados Unidos, União Europeia e outros 11 países lançaram um roteiro para para catalisar as reduções de emissões de metano no setor de petróleo e gás. O anúncio do Global Methane Pledge Energy Pathway ocorreu no Egito, onde ocorre a 27ª conferência do clima da Organização das Nações Unidas (COP27).
Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês), as emissões de metano no setor de energia tiveram uma recuperação de 5% em 2021 após o declínio induzido pela pandemia de covid-19 em 2020 .
O setor — que responde por cerca de 40% do metano lançado na atmosfera pela atividade humana — foi responsável pela emissão de quase 135 milhões de toneladas do gás.
Esse aumento foi impulsionado pela maior demanda e produção de combustíveis fósseis à medida que as economias se recuperaram.
Enquanto isso, a ONU cita estudos que estimam que o total de emissões globais de metano da indústria de óleo e gás chegam a 80-140 milhões de toneladas por ano.
Globalmente, mais de 250 bcm de gás natural foram queimados, liberados ou vazados em 2021 – excedendo a produção anual do terceiro maior produtor de gás do mundo.
Um outro estudo da IEA aponta que reduzir a queima e as emissões de metano no setor de petróleo e gás é imediatamente rentável e tem o triplo benefício de agir sobre a mudança climática.
“O Energy Pathway é uma etapa crítica de implementação do Global Methane Pledge que acelerará a implantação das soluções de mitigação de metano mais rápidas e econômicas disponíveis atualmente”, explicam os governos dos EUA e União Europeia em comunicado conjunto.
O roteiro lançado ontem pretende “encorajar todas as nações” a capturar o potencial máximo de mitigação de metano econômica no setor de petróleo e gás, além de eliminar a queima de rotina o mais rápido possível e o mais tardar em 2030.
Enquanto os países participantes do acordo se comprometem a “apoiar esses esforços, fornecendo novos recursos técnicos e financeiros e/ou aprimorando projetos domésticos e ações políticas”.
A IEA calcula que, a implantação de todas as tecnologias de redução disponíveis para reduzir as emissões de metano e a queima do setor de petróleo e gás pode evitar quase 0,1°C de aquecimento até meados do século – o equivalente a eliminar imediatamente a pegada de carbono de todos os carros, caminhões, ônibus e veículos de duas e três rodas do mundo.
Argentina, Canadá, Dinamarca, Egito, Alemanha, Itália, Japão, México, Nigéria, Noruega e Omã se juntaram aos Estados Unidos e à União Europeia como membros inaugurais do Pathway. A companhia petrolífera nacional da Malásia, Petronas, também se uniu à iniciativa.
Juntos, os participantes do roteiro respondem por dois quintos da produção e três quintos das importações globais de gás.
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Financiamento
Em seu lançamento, o Energy Pathway conseguiu mobilizar cerca de US$ 59 milhões em financiamento para apoiar sua implementação. Desse total, US$ 4 milhões vão apoiar a Parceria Global de Redução da Queima de Gás (GGFR) do Banco Mundial.
Os Estados Unidos pretendem apoiar a transferência pelo Banco Mundial de pelo menos US$ 1,5 milhão em financiamento para o GGFR. A Alemanha pretende fornecer US$ 1,5 milhão e a Noruega pretende fornecer aproximadamente US$ 1 milhão ao GGFR.
Outros US$ 5,5 milhões apoiarão a Iniciativa Global de Metano (GMI), dos quais US$ 3,5 milhões virão dos EUA e outros US$ 2 milhões do Canadá nos próximos quatro anos, como parte de seu compromisso de financiamento climático global, para apoiar projetos de mitigação de metano em países em desenvolvimento, inclusive no setor de petróleo e gás.
O Observatório Internacional de Emissões de Metano do Pnuma comprometeu até US$ 9,5 milhões para avaliações científicas de emissões de metano e potencial de mitigação no setor. E o filantrópico Global Methane Hub entra com até US$ 40 milhões por ano do filantrópico para mitigação.
É um começo, mas bem longe dos bilhões necessários.
Levantamento da Climate Policy Initiative (CPI) descobriu que o financiamento para medidas de redução de metano representou menos de 2% do total de fluxos financeiros climáticos, ou pouco mais de US$ 11 bilhões, em 2019/2020.
Segundo o grupo, para viabilizar a meta de limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C até o fim do século, os investimentos necessários na redução do metano são estimados em US$ 110 bilhões — dez vezes mais que o atual.
Além disso, os limitados fluxos de investimento não estão sendo direcionados para as geografias ou setores de maior potencial de redução.
Quase dois terços do financiamento de mitigação de metano foi direcionado para o setor de resíduos, enquanto 82% das emissões antropogênicas de metano originaram-se de atividades nos setores de combustíveis fósseis e agricultura.
Na sexta passada (11/11), o jornalista da agência epbr Gabriel Chiappini conversou com Leonardo Gava (Climate Bonds Initiative), Carlos Alberto Tavares Ferreira (Carbon Zero) e João Vicente (Ambipar/Ambify) sobre descarbonização. Assista o Diálogos da COP27 no Youtube