Agendas da COP

Divergências ameaçam negociações da COP27

Países seguem divididos em questões importantes como 'perdas e danos', financiamento prometido por países ricos e saída de cena dos fósseis

Divergências ameaçam negociações da COP27 Na imagem: projeção do planeta Terra em telão durante cerimônia de abertura da COP27 (Foto: Kiara Worth/UNFCCC)
“O mundo está assistindo e tem uma mensagem simples: levante e entregue” disse António Guterres na COP27 (Foto: Kiara Worth/UNFCCC)

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Diálogos da Transição

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Editada por Nayara Machado
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Diálogos da COP 27 | agência epbr cobre a COP27 entre os dias 7 e 18 de novembro, com transmissões ao vivo pelo Youtube, de segunda a sexta, às 14h. Vamos receber especialistas em clima e transição energética, agentes do mercado, indústria e sociedade civil, com convidados diretamente do Egito.

A COP27 está programada para terminar amanhã (18/11), no Egito, mas os países permanecem divididos em várias questões importantes como ‘perdas e danos’, onde está o financiamento prometido por países ricos para os países pobres e qual o cronograma para saída de cena dos fósseis.

Nesta quinta (17/11) o secretário-geral da ONU voltou a pedir aos 196 países signatários do Acordo de Paris que enfrentem a urgência do momento — e fechem um acordo com soluções reais para limitar o aquecimento do planeta a 1,5ºC até o fim do século.

“Há claramente uma quebra de confiança entre o Norte e o Sul e entre as economias desenvolvidas e emergentes. Não é hora de apontar o dedo. O jogo da culpa é uma receita para a destruição mútua assegurada”, disse António Guterres a jornalistas no Sharm el-Sheikh International Conference Centre nesta tarde.

“O mundo está assistindo e tem uma mensagem simples: levante e entregue”.

Para dar uma dimensão do drama: até agora, há US$ 300 milhões comprometidos para indenização de perdas e danos, segundo o Carbon Brief.

Os prejuízos causados ao longo de 2022 por eventos climáticos extremos estão acima de US$ 200 bilhõescalcula um relatório da AON.

Enquanto isso, banqueiros apostam bilhões em nova onda de acordos de dívida pela natureza. Reuters

‘Rampa de saída da estrada para o inferno’

Uma questão na corda bamba é a ambição de reduzir o aquecimento global a 1,5°C, cada dia mais improvável de ser alcançada.

Os últimos oito anos foram os mais quentes da história. As emissões de gases de efeito estufa caminham para novo recorde em 2022, e uma nova análise do Global Carbon Project alerta que, se os níveis atuais de emissões persistirem, há 50% de chance de que o aquecimento global de 1,5°C seja superado em nove anos.

“Não é simplesmente manter uma meta viva — é manter as pessoas vivas. Vejo a vontade de manter o 1,5ºC — mas devemos garantir que o compromisso seja evidente no resultado da COP27”, disse Guterres.

No início da semana passada, o chefe da ONU abriu os trabalhos da cúpula climática avisando que estamos em uma “estrada para o inferno”. Hoje, voltou a defender as renováveis e um pacto de Solidariedade Global pelo Clima, como “uma rampa de saída” dessa estrada.

“Um pacto com os países desenvolvidos assumindo a liderança na redução de emissões. E um pacto para mobilizar — juntamente com as instituições financeiras internacionais e o setor privado — apoio financeiro e técnico para as economias emergentes acelerarem sua transição para as energias renováveis”.

Figurinha repetida

Por enquanto, o clima geral é de que essa COP não vai conseguir entregar um resultado do tamanho da crise que vem pela frente — e que já deu alguns spoilers nesses últimos anos.

primeiro rascunho do acordo final repete muitas das metas do ano passado e deixa questões controversas ainda a serem resolvidas. Mas vale dizer: o documento de 20 páginas está longe de ser uma versão final e ainda há muito chão pela frente.

Em suma, o texto publicado hoje não exige a redução gradual de todos os combustíveis fósseis, como Índia e União Europeia haviam solicitado.

Repete a meta da COP26, de “acelerar as medidas para a redução progressiva da energia a carvão ininterrupta e eliminar gradualmente e racionalizar os subsídios aos combustíveis fósseis ineficientes”.

E “saúda” o fato de que as partes concordaram, pela primeira vez, em incluir na agenda da COP a reivindicação dos países em desenvolvimento e emergentes pela criação de um fundo para perdas e danos. Mas não vai além disso.

Copo meio cheio

Uma notícia positiva veio da reunião de líderes do G20 que ocorreu paralelamente esta semana em Bali, na Indonésia.

O grupo das maiores economias do mundo concordou em se ater à meta de 1,5°C, apesar da crise energética desencadeada pela invasão da Ucrânia pela Rússia.

Para os observadores da COP, essa decisão gerou esperança de que injetará o tão necessário impulso para manter vivo o 1,5ºCBloomberg

Para aprofundar:

Propostas na mesa

Enquanto as negociações estão emperradas quando o assunto é dinheiro, países pobres e emergentes apresentam suas propostas de financiamento climático.

Algumas das principais são a reforma do sistema financeiro internacional sob a Agenda de Bridgetown (The Guardian); os Planos de Prosperidade Climática (Climate Home); a Just Energy Transition Partnerships (Comissão Europeia) e o Global Shield (CNN).

Europeus financiando fósseis na África

Um levantamento produzido por 33 ONGs africanas em conjunto com as organizações Urgewald, Stop EACOP, Oilwatch Africa e Africa Coal Network mostra que em 48 das 55 nações africanas, as empresas de petróleo, gás e carvão estão explorando e desenvolvendo novas reservas e construindo infraestrutura.

O investimento vem, em particular, de companhias européias. De acordo com o relatório Quem está financiando a expansão de combustíveis fósseis na África?, 89% da nova capacidade de GNL na África está prevista para exportação, com a TotalEnergies da França desenvolvendo mais novos recursos de petróleo e gás no continente do que qualquer outra empresa.

Por falar em fósseis

Levantamento do Inesc mostra que o Brasil gastou R$ 118,2 bilhões com subsídios aos combustíveis fósseis em 2021, e esse valor pode ser ainda maior em 2022, quando consideradas as isenções de impostos concedidas por Jair Bolsonaro (PL) em sua corrida eleitoral.

Do total concedido no ano passado, a maior parte, R$ 71,9 bilhões, foi destinada ao consumo. Para a produção foram alocados R$ 46,3 bilhões.

Fechando a janela para o gás

Lançada na última quarta (16/11) na COP27, a Coalizão Energia Limpa quer que o Brasil exclua o gás natural como fonte de energia para a geração de eletricidade até 2050.

Formado por organizações da sociedade civil, o grupo apresentou um mapa da expansão do gás no Brasil: são 196 termelétricas a gás em operação, e mais 55 com previsão de instalação.

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BNDES net zero

O banco de desenvolvimento brasileiro divulgou na COP27 um documento com o compromisso de ser neutro em carbono até 2050, considerando os escopos 1, 2 e 3 de seu inventário de emissões.

É o primeiro a fazer esse tipo de anúncio entre os bancos de desenvolvimento internacionais.

Os compromissos incluem neutralizar as emissões nos escopos 1, 2 e as relacionadas a viagens a negócios e deslocamento de funcionários (casa-trabalho) a partir de 2025 e finalizar o inventário das emissões financiadas do escopo 3 para as demais carteiras do banco.

Para o ano que vem, estão previstas: a definição das metas de neutralidade para as carteiras de crédito direto, indireto e renda variável; e das metas de engajamento para acelerar a transição dos clientes para a neutralidade em carbono; além da incorporação da contabilização de carbono nos processos de aprovação de apoio a novos projetos.

No penúltimo dia dos Diálogos da COP27, o jornalista da epbr Gabriel Chiappini conversou com Hugo França (governo municipal de São Paulo) e Marcel Jorand (Urca Energia) sobre as propostas de soluções. Assista os Diálogos da COP27 no Youtube