Agendas da COP

Planos de expansão de GNL comprometem meta de 1,5°C, diz estudo

Capacidade de gás liquefeito projetada pode elevar emissões em mais de 1,9 bilhão de toneladas de dióxido de carbono por ano (GtCO2e) em 2030

Planos de expansão de GNL comprometem meta de 1,5°C, diz estudo. Na imagem, terminal de GNL da Petrobras na Bahia (Foto: Petrobras/Divulgação)
Entre 2020 e 2050, as emissões acumuladas de GNL poderão ser mais de 40 GtCO2 mais altas (Foto: Petrobras/Divulgação)

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Diálogos da Transição

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Editada por Nayara Machado
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Diálogos da COP 27 | agência epbr cobre a COP27 entre os dias 7 e 18 de novembro, com transmissões ao vivo pelo Youtube, de segunda a sexta, às 14h. Vamos receber especialistas em clima e transição energética, agentes do mercado, indústria e sociedade civil, com convidados diretamente do Egito.

Lançada nesta quinta (10/11), a atualização das projeções de aquecimento global da Climate Action Tracker (CAT) alerta que a corrida pelo gás está derrubando a ação climática na agenda política, enquanto países se apegam ao fóssil para garantir segurança energética.

“A crise causada pela invasão ilegal da Ucrânia pela Rússia fez com que os governos se esforçassem para reforçar a segurança energética. No entanto, em muitos casos, os governos estão dobrando os combustíveis fósseis — a própria causa da crise climática”, observa o CAT.

O relatório aponta que a capacidade de GNL (gás natural liquefeito) em construção, juntamente com planos de expansão, poderia aumentar as emissões em mais de 1,9 bilhão de toneladas de dióxido de carbono por ano (GtCO2e) em 2030.

Volume acima dos níveis de emissão consistentes com o cenário Zero Líquido da Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) até 2050. Superestimando também a demanda pelo fóssil calculada pela IEA até 2030.

O Roteiro Net Zero até 2050 da IEA mostra que, devido à aceleração das reduções no custo de energias renováveis ​​e armazenamento e outras tecnologias, o uso global de gás até 2030 precisa estar pelo menos 30% abaixo dos níveis de 2021.

Entre 2020 e 2050, as emissões acumuladas de GNL poderão ser mais de 40 GtCO2 mais altas, o equivalente a cerca de 10% do orçamento de carbono restante.

Em 2030, o excesso de oferta pode chegar a 500Mt, quase cinco vezes as importações de gás fóssil da Rússia pela União Europeia em 2021, e o dobro das exportações totais russas.

“Esta reação à crise energética é um excesso que deve ser reduzido”, diz o CAT.

Austrália, Emirados Árabes Unidos e Noruega estão aumentando suas exportações de combustíveis fósseis, principalmente gás e GNL, enquanto a Tailândia planeja um aumento maciço nas importações de GNL, o que, segundo o grupo de pesquisa, prejudicará as energias renováveis. Veja o estudo na íntegra (.pdf)

Para aprofundar:

Insuficiente

A crítica ao peso dado ao gás fóssil na segurança energética chega enquanto chefes de Estado, ministros de Meio Ambiente, Clima e Energia, empresas e cientistas buscam respostas, ação e recursos para cortar emissões, durante a COP27, no Egito.

A conferência climática da ONU ocorre em meio a uma crescente crise energética, climática e de alimentos, o que, na avaliação de observadores, adiciona mais peso às negociações — sob o risco de dar mais tempo aos fósseis.

De acordo com a IEA, o número de pessoas em todo o mundo que vivem sem eletricidade deve aumentar em quase 20 milhões em 2022, chegando a quase 775 milhões — o primeiro aumento global em duas décadas.

A região mais afetada é a África Subsaariana, formada por 47 países, onde o número de pessoas sem energia está quase de volta ao pico de 2013.

Alcançar o acesso universal à eletricidade até 2030 exigiria investimentos anuais de US$ 30 bilhões até 2030, dos quais cerca de dois terços são necessários na África Subsaariana.

Enquanto isso, a necessidade de financiamento climático já chega a trilhões de dólares, mas o aporte internacional de recursos aumentou apenas 4% em 2020 e não chega nem perto do nível suficiente para apoiar reduções  de emissões adicionais nos países pobres.

“Nenhum país desenvolvido que acompanhamos tem uma classificação melhor do que ‘Insuficiente‘ em finanças. Todos precisam aumentar substancialmente seu nível de comprometimento”, diz o CAT.

Adicione a essa conta as altas taxas de juros que começam a sufocar o financiamento de energia limpa. Ontem, no dia das finanças, uma sessão dedicada à redução do custo dos empréstimos verdes apontou que as atuais condições financeiras, e as taxas de juros em particular, mudaram drasticamente desde o período em que a energia limpa surgiu. Bloomberg

Não à toa, o chefe da ONU abriu a conferência esta semana dizendo que “estamos em uma estrada para o inferno climático com o pé no acelerador”.

Biden chega ao Egito

O presidente dos Estados Unidos discursa amanhã (11) e deve pedir às 196 partes que assinaram o Acordo Climático de Paris para manter seus olhos no objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5°C, de acordo com a Reuters.

A expectativa é que Joe Biden aborde as parcerias com países emergentes para reduzir emissões, e a Lei de Redução da Inflação que destina US$ 369 bilhões para transição.

Por falar em EUA

O enviado climático John Kerry anunciou ontem um plano de compensação de carbono destinado a ajudar os países em desenvolvimento a financiar projetos de energia renovável.

O programa, que será desenvolvido com a Bezos Earth Fund e a Rockefeller Foundation, foi imediatamente criticado por organizações ambientais, que veem com ceticismo a capacidade de impacto das compensações de carbono. CNN

Estudo lançado esta semana pelo grupo de especialistas de alto nível da ONU recomenda que planos de compensação sejam encarados com plano B por países e empresas que estão levando o net-zero a sério. E observem uma série de parâmetros de qualidade.

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Fundo africano

Ontem, 85 companhias de seguros africanas prometeram US$ 14 bilhões como parte do lançamento do Fundo Africano de Riscos Climáticos para proteger as comunidades contra inundações, secas e ciclones tropicais. E 55 empresas que representam mais de US$ 150 bilhões em receita e mais de 900 mil funcionários em 50 países africanos também se comprometeram a aumentar o uso e o apoio às renováveisReuters

Brasil pós-Bolsonaro

Dezenas de organizações da sociedade civil elaboraram um documento com 74 medidas que o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pode adotar nos primeiros dois anos do novo governo.

estratégia Brasil 2045 quer tornar o país a primeira grande economia do mundo a ser negativa em carbono, isto é, remover mais gases de efeito estufa da atmosfera do que emite.

O cardápio de sugestões conta ainda com 62 medidas emergenciais para os primeiros cem dias de governo, como revogações de decretos bolsonaristas e a retirada imediata dos mais de 20 mil garimpeiros que hoje invadem a Terra Indígena Yanomami.

Hoje, o jornalista da agência epbr Gabriel Chiappini conversou com Larissa Moraes (Engajamundo), Cristovam Barcellos (Fiocruz), Marcos Freitas (UFRJ) e João Víctor Pankararu (Apoinme) sobre ciência e juventude. Assista o Diálogos da COP27 no Youtube