Diálogos da Transição

Dez produtores de O&G têm metas para zerar emissões de escopo 3

Meta de companhia mais ambiciosa é líquido zero na cadeia de suprimentos e produtos em 2030; maioria tem como alvo 2050

Plataforma de petróleo (Foto Anita Stachurski_Pixabay)
Escopo 3 responde por 80 a 95% do total de emissões de carbono das empresas de petróleo e gás (Foto: Anita Stachurski/Pixabay)

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Editada por Nayara Machado
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Relatório recente da Wood Mackenzie aponta que apenas 10 grandes empresas de petróleo e gás têm compromissos para zerar emissões de gases de efeito estufa (GEE) da cadeia de suprimentos e produtos – o chamado escopo 3.

A meta da empresa mais ambiciosa é líquido zero no escopo 3 em 2030. A maioria tem como alvo 2050.

Emissões de escopo 1 são resultado direto das atividades e escopo 2, do consumo de energia — mais fáceis de gerenciar do que as de escopo 3.

As dez companhias com metas para o escopo 3 são as majors europeias bp, Eni, Equinor, Shell e TotalEnergies, além de Repsol, OMV, Oxy, Denbury e CRC.

“Os escopos 1 e 2 net zero agora são o padrão da indústria”, comenta Tom Ellacott, vice-presidente sênior de pesquisa corporativa da Wood Mackenzie.

“Mas o net zero no escopo 3 requer um encolhimento dramático de petróleo e gás, que é uma ameaça fundamental à sustentabilidade sem uma estratégia para construir novas fontes de lucro de baixo carbono”, explica.

Para dar uma ideia do tamanho do drama: o escopo 3 responde por 80 a 95% do total de emissões de carbono das empresas de petróleo e gás.

Ellacott observa que a maioria das empresas ainda vê oportunidades para petróleo e gás até pelo menos 2040, mas aquelas que não se comprometeram com o escopo 3 precisam estar prontas para adaptar suas estratégias.

Enquanto as que já estão avançando nessa transição provavelmente terão que ampliar as tecnologias de baixo carbono que estão fora de suas competências essenciais.

Novos negócios

Cortar esse volume exige uma grande mudança estrutural, indica a consultoria. E as empresas estão apostando em pelo menos três modelos de negócios para chegar no net zero com competitividade: big energycarbon as a service e combustíveis sustentáveis.

Big energy

É a corrida para diversificação do portfólio de energia para garantir sustentabilidade financeira à medida que o fluxo de caixa de petróleo e gás entrar em declínio.

Ao longo desta década, as majors começam a reposicionar suas marcas para se tornarem empresas de energia, e não mais petroleiras. Os investimentos em eólicas onshore e offshore, geração solar fotovoltaica e produção de hidrogênio também multiplicam.

Cobrimos por aqui:

Carbon as a service

As empresas também estão expandindo os investimentos em captura e armazenamento de carbono para compensar as emissões. É uma forma de desacelerar a transição para outras fontes, com a promessa de que é possível alcançar emissões negativas.

É o caso, por exemplo, da Repsol Sinopec Brasil, que anunciou em agosto um investimento de cerca de R$ 60 milhões em P&D de captura e armazenamento geológico de carbono atmosférico. O objetivo da empresa é remover gás carbônico já existente na atmosfera e, assim, abater suas emissões.

A tecnologia, contudo, vai demandar trilhões em infraestrutura ao redor do mundo e ainda é permeada de incertezas sobre sua real capacidade de colocar esse setor nos rumos da descarbonização alinhada às metas do Acordo de Paris.

Um estudo do Instituto de Economia da Energia e Análise Financeira (Ieefa, na sigla em inglês) descobriu que quase 90% da capacidade de captura e armazenamento de carbono em larga escala (CCS) proposta no setor de energia falhou no estágio de implementação ou foi suspensa antecipadamente.

Além disso, a maioria dos projetos não conseguiu operar nas taxas projetadas. Os principais problemas orbitam em torno de tecnologia e estrutura regulatória, ou a falta dela.

Combustíveis sustentáveis

Com a previsão de que a demanda por esses produtos triplique nos próximos 20 anos, grandes companhias estão convertendo suas refinarias para produção de diesel verde e combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês).

Ao mesmo tempo em que também firmam acordos de compra com outros produtores.

Na França, a TotalEnergies já produz SAF em três biorrefinarias para atender à demanda de seus clientes que precisam cumprir a legislação local de obrigatoriedade de pelo menos 1% do renovável nas aeronaves desde janeiro de 2022.

Na Holanda, a Shell começou a construção de uma biorrefinaria com capacidade para produzir 820 mil toneladas por ano em seu Parque de Energia e Química em Roterdã, a antiga refinaria Pernis.

A unidade deverá iniciar a produção em 2024. Produzirá combustíveis de baixo carbono a partir de resíduos como óleo de cozinha usado, resíduos de gordura animal e outros produtos residuais industriais e agrícolas.

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Próximos do pico?

Pela primeira vez, o World Energy Outlook da Agência Internacional de Energia (WEO/IEA, nas siglas em inglês) traz projeções de demanda global para cada combustível fóssil no cenário de Políticas Declaradas, exibindo um pico.

O uso de carvão recua nos próximos anos, a demanda de gás natural atinge um platô no final da década e o aumento das vendas de veículos elétricos faz a demanda de petróleo se estabilizar em meados da década de 2030, antes de diminuir um pouco em meados do século.

A agência vê a demanda total por combustíveis fósseis diminuindo constantemente a partir de 2025 até 2050, em uma média anual próxima à produção vitalícia de um grande campo de petróleo. Os declínios são muito mais rápidos e acentuados nos cenários mais focados no clima do WEO.

De acordo com o relatório, a participação de combustíveis fósseis na matriz energética global no Cenário de Políticas Declaradas cai de cerca de 80% para pouco mais de 60% até 2050.

Já as emissões globais de CO2 terão um lento declínio depois de atingir 37 bilhões de toneladas por ano para 32 bilhões de toneladas até 2050.

“Isso estaria associado a um aumento de cerca de 2,5°C nas temperaturas médias globais até 2100, longe do suficiente para evitar impactos severos das mudanças climáticas”, comenta a IEA.

“O cumprimento total de todas as promessas climáticas levaria o mundo a um terreno mais seguro, mas ainda há uma grande lacuna entre as promessas de hoje e a estabilização do aumento das temperaturas globais em torno de 1,5°C”, completa.