Agendas da COP

Brasil está se distanciando das metas do Acordo de Paris

Emissões líquidas avançaram 16,7% nos últimos seis anos, saltando de 1.446 MtCO2e em 2015 para 1.756 MtCO2e em 2021

Brasil está se distanciando das metas do Acordo de Paris. Na imagem: Complexo Termelétrico Presidente Médici (Candiota 3), da CGTEE, em Candiota, no Rio Grande do Sul, mais antiga usina a carvão do país (Foto: Eduardo Tavares/PAC)
Em 2021, houve aumento de 12% na participação de fósseis, puxada pela demanda de combustíveis nos transportes e pelo acionamento de térmicas durante a crise hídrica (Foto: Eduardo Tavares/Candiota3/PAC)

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Diálogos da Transição

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Editada por Nayara Machado
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Desde que assinou o Acordo de Paris em 2015, o Brasil vem aumentando suas emissões de gases de efeito estufa (GEE), ao invés de reduzi-las para cumprir a meta proposta, mostra o mais recente levantamento do Seeg (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases do Efeito Estufa).

Lançados nesta terça (1/11), os dados mostram que as emissões líquidas avançaram 16,7% nos últimos seis anos, saltando de 1.446 milhões de toneladas (MtCO2e) em 2015 para 1.756 MtCO2e em 2021.

Pelas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, sigla em inglês) depositadas pelo governo de Jair Bolsonaro (PL) na ONU em abril deste ano, o Brasil deveria chegar a 2025 emitindo 1.614 MtCO2e e a 2030 com 1.281 MtCO2e.

“O Brasil está se distanciando das metas de 2025 e 2030. [É] mais do que tempo de fazermos as mudanças necessárias”, comenta Tasso Azevedo, coordenador do Seeg.

O país é o quinto maior emissor mundial, atrás da China, Estados Unidos, União Europeia, Índia e Rússia, e contribui com 4% do GEE lançado na atmosfera.

Aqui, o maior problema está na derrubada de florestas.

No ano passado, as emissões brutas causadas por desmatamento cresceram 20% em relação a 2020.

A Amazônia foi quem mais sofreu e contribuiu para o aumento: 77% das emissões por mudanças de uso da terra vieram do bioma.

No setor de energia — onde o atual governo gosta de insistir que a matriz já é suficientemente renovável — a alta foi de 12,2%, a maior desde 1973.

Essa grande variação no segmento vem na esteira da queda de 4,6% observada em 2020, em relação a 2019 — em meio ao cenário de pandemia que reduziu o consumo de combustíveis no transporte de passageiros e de energia na produção industrial.

Em 2020, as emissões de energia retornaram a patamares de 2011, com quase 394 milhões de toneladas de CO2. Já em 2021, somaram 435 MtCO2.

A maior parte, cerca de 204 MtCO2, veio da queima de combustíveis fósseis nos transportes. Em seguida vem a indústria (170 MtCO2) e a geração de eletricidade (76 MtCO2).

“Em 2021, as fontes renováveis caíram 4% na oferta de energia em relação a 2020, quebrando uma tendência que vinha desde 2011”, explica Felipe Barcellos, pesquisador do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema).

Em compensação, houve aumento de 12% na participação de fósseis, puxada pela demanda de combustíveis nos transportes e pelo acionamento de termelétricas durante a crise hídrica.

Exceto no segmento de resíduos, onde as emissões ficaram estáveis, todos os outros tiveram aumentos: 3,8% na agropecuária, setor que costuma ter flutuações pequenas nos GEE; e 8,2% em processos industriais e uso de produtos.

Ainda dá tempo de alcançar a meta

Segundo Azevedo, reduzindo pela metade a devastação de matas nativas, o Brasil se aproximaria do objetivo para 2030 — até porque a meta “não é lá essas coisas em termos de ambição”.

Brasil e México são os únicos países do G20 com atualizações de NDCs menos ambiciosas do que as propostas originais.

Também é possível ser mais ambicioso

E o mundo está de olho em quais serão os próximos passos do novo governo em relação ao clima.

Em seu discurso após a vitória de domingo (30/10), o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), disse que quer recuperar o protagonismo brasileiro nessa agenda. Também se comprometeu com o desmatamento zero.

A repercussão internacional até agora tem sido positiva.

Autoridades alemãs e norueguesas já disseram que querem trabalhar novamente com o Brasil para reabrir o Fundo Amazônia, criado por Lula em 2008 e paralisado desde 2019 por Bolsonaro.

“Damos as boas-vindas ao Brasil de volta como um parceiro global nos esforços para reduzir o desmatamento”, disse Espen Barth Eide, ministro do Clima e Meio Ambiente da Noruega, na segunda. Bloomberg

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De olho na COP27

Na próxima semana, chefes de Estado e negociadores climáticos de 193 países estarão na COP27, no Egito, discutindo ações para cortar emissões e conter o aumento da temperatura global a 1,5°C até 2100.

Um desafio e tanto em meio à guerra da Rússia, crise energética, inflação, aumento da fome no mundo e secas extremas e inundações devastando regiões inteiras.

Analistas começam a levantar dúvidas sobre a capacidade dos países agirem com rapidez e ambição o suficiente para evitar os piores efeitos das mudanças climáticas. E o gelo nas relações este ano entre os principais emissores de gases de efeito estufa, China e Estados Unidos, não é um bom presságio. Reuters

Lula estará por lá

O presidente eleito confirmou presença na COP27, mas ainda não definiu a data. A Cúpula das Nações Unidas para o Clima ocorre entre os dias 6 e 18 de novembro.

Ele foi convidado para integrar a comitiva do governador reeleito do Pará, Helder Barbalho (MDB). Os estados amazônicos terão um estande separado do governo de Jair Bolsonaro na conferência climática da ONU. O grupo que vai acompanhar o petista ainda não está definido — a deputada federal eleita Marina Silva (Rede/SP) é uma das cotadas. UOL

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