Energia

AES Brasil assina pré-contrato para produção de 2 GW de hidrogênio verde no Pecém

Com o acordo, companhia inicia estudos de viabilidade técnica e comercial para construção de uma unidade fabril; projeto inclui conversão em amônia verde

AES Brasil assina pré-contrato para produção de 2 GW de hidrogênio verde no Pecém
No Pecém, já são 30 memorandos de entendimento firmados entre porto, governo do estado e empresas interessadas no hub de hidrogênio (Foto: Frauke Riether/Pixabay)

BRASÍLIA — A geradora de energia renovável AES Brasil assinou hoje (22/9) um pré-contrato com o Complexo Industrial Portuário de Pecém (CIPP) para iniciar os estudos de viabilidade para produção de até 2 GW de hidrogênio a partir da eletrólise e de até 800 mil toneladas de amônia verde por ano.

A companhia está de olho na exportação da produção, principalmente para países da Europa. A União Europeia lançou no início do ano o REPowerEU, um “plano de independência do gás russo” que prevê o consumo de 20 milhões de toneladas de hidrogênio no consumo de energia até 2030. Metade desse volume será importado.

O pré-contrato da AES é o passo seguinte ao Memorando de Entendimento assinado em dezembro de 2021, com investimento estimado em até US$ 2 bilhões, nos cinco primeiros anos. O acordo previa planta com capacidade inicial de 1 GW de energia renovável e produção de até 500 mil toneladas de amônia verde por ano.

“O Brasil reúne uma das melhores condições para a produção do hidrogênio verde, tanto pela complementaridade de suas fontes como por sua posição geográfica”, comenta Ítalo Freitas, vice-presidente de Novas Soluções e Inovação da AES Internacional.

Desde 2021, os portos brasileiros vem firmando os primeiros acordos para desenvolver hubs de hidrogênio, enquanto o mercado aguarda uma regulação.

No Pecém, já são 22 memorandos de entendimento firmados entre porto, governo do estado e empresas como Linde, Qair, TransHydrogen Aliance, Eren do Brasil, Casa dos Ventos, Engie, Fortescue Future Industries, EDP Renováveis e White Martins.

Esses projetos somam 8 GW em capacidade de eletrólise para produzir 1,3 milhão de toneladas de hidrogênio verde por ano.

O pré-contrato com a AES é o segundo do hub do Pecém. O primeiro foi assinado em junho, com a Fortescue Future Industries (FFI), subsidiária da mineradora australiana Fortescue Metals Group.

“É importante considerarmos um cenário de médio e longo prazos para a consolidação do hidrogênio e da amônia verdes como energéticos competitivos no mercado”, diz Luis Sarrás, diretor global de Hidrogênio Verde da AES.

O executivo acredita no potencial do Brasil para se tornar líder global na produção e exportação, mas, para isso, precisa avançar com o marco legal.

“É necessário que uma forte política pública, envolvendo diversos setores produtivos da economia, ganhe corpo. Com objetivos claros e coordenados, podemos estabelecer metas realmente tangíveis de serem alcançadas”, completa Sarrás.

Mercado doméstico

O foco da AES é a exportação, mas o mercado doméstico também tem potencial para consumir o hidrogênio renovável.

Um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) sobre as perspectivas de aplicação do hidrogênio na indústria brasileira identificou que os setores de refino e fertilizantes — grandes consumidores de hidrogênio cinza — têm potencial de uso imediato das opções sustentáveis como estratégia de descarbonização.

O hidrogênio cinza é produzido com gás natural. As alternativas sustentáveis analisadas pela CNI consideram o azul (gás natural com captura e armazenamento de carbono) e o verde (eletrólise da água com energia renovável).

Já no curto e médio prazos (três a cinco anos), siderurgiametalurgiacerâmicavidro cimento aparecem como os potenciais consumidores.

refino tende a ser o principal cliente — hoje, cerca de 74% do hidrogênio consumido na indústria brasileira são destinados às refinarias.

O documento destaca o crescimento da demanda por H₂ para o hidrotratamento de derivados de petróleo para atender regulações ambientais cada vez mais exigentes, e, mais recentemente, a adoção crescente de óleos vegetais como matéria-prima no refino.